25 de janeiro de 2012

"Qualquer um dos quatro pode ficar com o título"



Esse é o tipo de frase que os heróis da nave maluca do Australian Open têm que ouvir madrugada adentro. Perto disso, o sono passa ao lado. Falta pouco para ver quem resistiu às duas semanas, quem vai sair da Austrália como número 1 da WTA, quem vai posar para fotos de algum prédio de Melbourne com o troféu segunda-feira, quem vai ganhar o primeiro Grand Slam da carreira (alguém?), quem vai levar mais um pra coleção (alguém?), etc.


No feminino, a regular irregularidade das tenistas sempre quebra qualquer previsão. A partir de 00h30, a primeira semifinal, Clijsters X Azarenka. Pelo caminho, a belga arrasou Hantuchova, venceu mentalmente um jogo perdido contra Li – com direito a torção no tornozelo – e jogou pro gasto contra Wozniacki. Azarenka confirmou o amplo favoritismo até as oitavas – perdendo 12 games em 8 sets – e nas quartas teve baixos e médios contra Radwanska, virando em 3 sets.


Jogo por jogo e experiência nas fases finais de GS, Clijsters seria a aposta mais segura. Para provar a imprevisibilidade da WTA, passei por um site de apostas, que aponta 1,90 para cada uma.


Entre Kvitova e Sharapova, a experiência pesa para um lado, a lembrança da final de Wimbledon 2011 para outro. Um dia ruim no saque e/ou ataque, de qualquer uma, afunda a balança pra algum lado. Pelo jeito que cada uma gosta de jogar, a teoria é que aquela que dominar primeiro os pontos leva a melhor. Correr e ser forçada a jogar na defesa não agrada muito a tcheca, Menos ainda a russa.


Entre as semifinalistas, Kvitova foi quem mais teve sustos inesperados (sim, na WTA alguns sustos são esperados). Três sets contra Suarez Navarro na 2ª rodada, um tie-break contra Ivanovic nas oitavas e até o duplo 6/4 contra Errani nas quartas. Para Sharapova, o único susto – esperado – foi o set que esteve abaixo contra Lisicki nas oitavas.


Antes de a chave começar, chutava que a final seria Azarenka X Kvitova, pelo momento de cada uma. Não errei tão feio, pelo menos as duas chegaram à semi.


Se no feminino as semifinais reúnem o top 4, “só” com a ausência da (ainda) número 1, o masculino tem o verdadeiro top 4. Fantastic Four. Awesome Foursome. Fab Four. Blá, blá, blá.


Djokovic, Murray e Federer só tiveram que passar por um cabeça-de-chave. Nadal, por dois. Em cinco rodadas, em que poderia haver três duelos entre pré-classificados, os jogos não ajudam a decifrar a real condição técnica (cada um está no seu melhor?) de cada um para as fases finais.


E a parte mental muito menos – que o diga Murray, que brincou em uma das entrevistas pós-jogo em quadra sobre os 100 anos sem um título britânico de GS. Já faz um tempo que as primeiras rodadas de GS não são problema para o britânico. E semifinal? E final? Ivan Lendl teria, em tão pouco tempo, modificado tanto a cabeça do tri-vice-ainda-sem-sets em finais GS?


Entre os quatro, diria que o único teste, em quadra, foi de Nadal contra Berdych. Os testes de Murray ficaram na teoria e Djokovic e Federer não deram espaço para que eles se tornassem prática, contra Ferrer e Del Potro, respectivamente.


Federer X Nadal
A partir de 6h30 de amanhã, mais um capítulo do maior clássico da década passada. Isso não é chamar os dois de velhos, só não dá pra eleger o maior clássico desta década depois de 1 ano e 1 mês da mesma.


São 26 jogos, 19 em finais, 8 em finais de GS. São 17 vitórias de Nadal, 13 em finais, 6 em finais de GS. Números, números e números. Nunca foi segredo que o jogo do espanhol incomoda o suíço, e os números só servem de prova. Mas, quem garante que o Federer do ATP World Tour Finals 2011 não estará em quadra amanhã? É, uma apresentação como aquela não acontece com frequência, ainda mais em melhor de 5 sets, em uma semifinal de GS, entre dois tenistas que se conhecem tão bem.


No encontro anterior a Londres, Federer entrou jogando Nadal para trás, vencendo pontos de tudo que é jeito. Ainda assim, voltou ao normal (mesmo que o normal do nível dos dois seja muito alto) para uma final de GS, Nadal cresceu e ainda deu tempo de fechar o 1º set. Roland Garros 2011. Federer forçou um tie-break no 2º set e levou o 3º por 7/5. Parecia tentar fingir que o jogo não tinha escapado logo no 1º set, que poderia ter fechado em uns 35 minutos.


Com tanto a se falar e esperar de mais um Federer X Nadal, resta chover no molhado (o Word indica que essa é uma expressão errada, mas não dá sugestões...) que desde o primeiro ponto, cada game, cada game point, cada break point é importante e pode mudar o jogo. Escolho reduzir o clichê para os 2 primeiros sets. Ah, se o Federer fizer 2 a 0 o Nadal não pode virar? Claro que pode. O poder de recuperação de Nadal não precisa mais ser provado para ninguém. Porém, mesmo sem querer, até os tops sentem um pouco um 2 a 0 contra.


Do jeito que vem sacando – dos 4 semifinalistas, Federer é quem fez mais aces, com um jogo a menos, e quem tem a melhor porcentagem de pontos ganhos com o 1º saque – acho que uma virada neste caso seria muito pouco provável. Fato é que, no confronto direto, em jogos que foram para o 4º ou 5º set, a vantagem do espanhol é de 8 a 3. Por isso, vejo que um 1 a 1 após 2 sets (lógico) já faz o jogo ficar um pouco mais para Nadal. E um pouco mais não é igual a vitória definida, logo, falei, falei e não disse nada.


Djokovic X Murray
O sérvio ainda não mostrou o nível que o fez chegar ao topo do ranking em 2011. Não foi exigido para tanto, é verdade. Murray, mesmo sem ser exigido, teve atuações beirando a perfeição. O ponto de interrogação em relação ao britânico sempre foi e, para mim, continua sendo, uma grande atuação em jogos pelos quais precisa passar. Djokovic e depois Federer ou Nadal. Em 5 sets. Já seria o bastante para não ter um favorito.


A lesão(?) que deixou Djokovic menos rápido contra Ferrer seria o bastante para apostar um pouco no britânico. As finais de GS e Masters 1000 de 2011, um ou dois dias pós-semifinal de intenso desgaste físico, são o bastante para não duvidar do atual campeão do Australian Open. Os apostadores, por exemplo, não duvidam.


Se para a semifinal Djokovic tem 1,45 e Murray 2,62, para indicar o campeão, o sérvio é quem paga menos, seguido por Federer e, empatados, Murray e Nadal. No feminino (xiii, vou me arriscara falar do feminino de novo), Kvitova é a favorita, seguida por Azarenka, Clijsters e Sharapova. Eu estranhei a bielorrussa ser a 2ª escolha e a russa a última. Enfim, é a WTA. A única aposta que eu faço é: se tiver o papo de grito / grunhido das tenistas durante o ponto, na transmissão e no Twitter, eu ganho R$ 50,00. Alguém fecha?


Caixa de brita
Quando um músico/banda anuncia turnê de despedida – calma, depois de alguns anos tem mais uma ou duas –, um jogador, de qualquer esporte, marca uma última competição como profissional – às vezes, também tem mais uma depois de alguns anos –, a babação e a atenção que a divulgação do fim gera são enormes. Talvez porque o público se recuse a acreditar que aquilo vai acabar. Mas está anunciado, decisão tomada. Federer ainda não marcou data, e mesmo que ele e muitos jornalistas / espectadores acreditem que seu estilo de jogo, menos dependente do físico que a maioria, possa lhe render mais alguns anos em alto nível, a aposentadoria pode estar próxima. Neste ano, pode ser depois de um eventual título nas Olimpíadas. Ou no final da temporada, se sair de Wimbledon ou das Olimpíadas com chances reais de voltar à liderança do ranking. Ou pode ser daqui 10 anos e este texto ser (ainda mais) inútil. Para o recordista de títulos de GS, o tempo que ainda tem em quadra pode não ser mais tão importante. Ou ele quer mostrar que não é. De qualquer modo, é melhor aproveitar para vê-lo em ação enquanto ele ainda está próximo do topo, podendo jogar de maneira competitiva dentro do Fantastic Four. Nunca se sabe que dia vai ser o último... Amanhã tem um.


Ah, e tem mais quatro fotos de despedida.