A vantagem de 2min35s para o italiano Fabio Aru (Astana) e a
forma mostrada nas duas primeiras semanas colocam o espanhol Alberto Contador (Tinkoff-Saxo)
disparado como favorito ao título do Giro d’Italia 2015. O bi (nos livros) e o
tri (incluindo o doping) deve se confirmar em Milão no próximo domingo, dia 31.
Que comece se intensifique a especulação da dobradinha Giro-Tour de France.
Por enquanto, o resumo da segunda semana e como, um a um, os
(poucos) adversários foram ficando pelo caminho. A 10ª etapa, da última
terça-feira (19), e a controversa punição ao australiano Richie Porte (Sky)
estão aqui.
Uma pena que um ótimo primeiro semestre tenha acabado com punição, quedas e
pneus furados, que acabaram por fazer o australiano jogar a toalha no time
trial da 14ª etapa.
Contador reassume maglia rosa após TT da 14ª etapa. Pra não perder mais (?) |
12ª etapa, 21 de maio
(quinta-feira) – 190km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
O dia anterior, de importante, teve uma queda do colombiano
Rigoberto Urán (Etixx-Quick Step), 6º na GC. Ele continuou, com o braço
esquerdo enfaixado. Uma chegada em categoria 4 não deveria criar problemas para
ninguém. Mas na prática a teoria é outra, já dizia o poeta. O ritmo intenso do
início em um dia chuvoso proporcionou emoção. Ao final, Aru explicou que não
teve muito tempo para se alimentar corretamente e para a equipe buscar coisas
no carro.
O australiano Michael Rogers foi o primeiro a aparecer puxando
Contador (vídeo dos 14km finais),
com a cadência de um jovem de 35 anos. A Movistar deu um ataque conjunto e,
apesar do italiano Giovanni Visconti estar a 2min12s de Contador, ele
respondeu. Então a descida se resumiu a um batalhão da Astana na ponta até a
subida final.
Restando 2km, a fuga (dois ciclistas) tinha 30s de vantagem.
A 1km, tinha 20s. A BMC Racing fez o trabalho de busca com maestria e o belga
Philippe Gilbert completou levando a etapa. Mas o que importa é a GC.
Em 1,2km o percurso ficou mais íngreme, o que parecia pouco
foi muito bem aproveitado por Contador. Nos últimos 500m, com um sprint/ataque,
que não foi “daqueles” porque a estrada escorregadia não permitia, o espanhol
conseguiu colocar tempo em todo mundo. Em 2º lugar na etapa, o principal ganho
veio com o bônus de 6s. O que sempre
faz pensar se o ataque aconteceria se não existisse o bônus. E o bônus aos 3
primeiros é um incentivo que aumenta a emoção justamente nesses casos. O dia
marcou a primeira vez que Aru não acompanhou Contador (tomou 8s + 6s). Na estrada,
o ganho foi o seguinte com o “sprint em câmera lenta”:
- A 3s de Gilbert: Contador e mais 4 que tentavam levar a
etapa.
- A 6s de Gilbert: Mikel Landa (Astana), Urán, Roman Kreuziger
(Tinkoff-Saxo), Visconti, Caruso (BMC), Porte e mais 4.
- A 11s de Gilbert: Aru, Dario Cataldo (Astana), Andrey Amador
(Movistar), Leopold Konig (Sky) e mais 9.
Contador aumentou a liderança para 17s para Aru, 55s para
Landa, 1min30 para Cataldo. Urán, em 6º, levava 2min19. Porte era o 12º, a
3min18s. As atenções já se voltavam para o TT de 59,4km, dois dias depois. Mas
a etapa seguinte reservava um imprevisto.
Aru após a 12ª etapa |
13ª etapa, 22 de maio
(sexta-feira) – 147km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Em mais um dia que não deveria acontecer nada (vide perfil),
uma queda a 3,3km tratou de provar o contrário (vídeo dos últimos 10km).
Tivesse sido 300m mais à frente, o pelotão receberia o mesmo tempo pela etapa.
Aru e Urán passaram ilesos, assim como outros que acabariam aparecendo como
candidatos a zebra na GC (o costarriquenho Andrey Amador, o russo Yury Trofimov
– Katusha – e o belga Jurgen van den Broeck – Lotto Soudal).
Contador, desesperado, pegou a bicicleta do dinamarquês
Christopher Juul-Jensen (de companheiro de equipe a UCI permite), perdeu 36s e
a camiseta de líder pela primeira vez em um Grand Tour. De maneira atípica –
mas é preciso esperar o inesperado em uma prova de 3 semanas, e foi consenso
entre os ciclistas que o pelotão estava muito “nervoso” – Aru vestiu a maglia rosa de maneira inédita, com 19s
de vantagem.
Aru após a 13ª etapa |
Porte, esperando que a direção da prova desse o mesmo tempo
para os envolvidos e os não-envolvidos na queda ou já entregando os pontos,
cruzou a linha já sem muita animação, 2min04s atrás de Aru. O Giro estava
praticamente encerrado para o australiano, que iria de all-in no TT do dia
seguinte. E o melhor tuíte do Giro d’Italia 2015 foi para o australiano Simon
Clarke (Orica GreenEDGE), o protagonista da punição ao fair play quatro dias
antes.
14ª etapa, 23 de maio
(sábado) – TT de 59,4km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
A aguardada 14ª etapa teve um pouco de tudo. Estrada
molhada, mudança na direção do vento, nomes esquecidos aparecendo do nada, a
incógnita condição do Contador por causa do ombro que tinha ido ao chão 2x no
Giro, cobertura beirando o amadorismo por parte do site oficial, etc. Um TT sem
parciais perde o seu propósito, ainda mais um de longos 59,4km. A transmissão
da TV se esforçou pra ajudar (vídeo).
Vasil Kiryienka, o vencedor em condições favoráveis |
O bielorrusso Vasil Kiryienka (Sky) aproveitou o momento de
condições melhores e surpreendeu com a vitória. A expectativa de que guiaria
Porte ao caminho das pedras não se concretizou e o australiano saiu de vez da
briga, tomando infinitos 4min07s do Contador. Aru, que nas duas últimas etapas
viu a diferença que 24h fazem, levou o troco. O espanhol, que deveria ter
faturado a etapa se ocorresse em condições iguais para todos, reassumiu a maglia rosa imediatamente de maneira
acachapante.
Entre aqueles que começaram o dia no top 20, quem apanhou
menos tomou 1min12s (van den Broeck) e 1min31 (Konig). O belga passou a sonhar,
na 5ª posição na GC, e o tcheco virou o líder da equipe, em 10º, 3min17s à
frente do medíocre desempenho de Porte (já 8min52s de Contador). Aru ligou o
sinal vermelho ao levar 2min47 e ver o rival liderar por 2min28s. O desempenho,
no entanto, não foi tão decepcionante. Já era esperado que o italiano perdesse
tempo. No fim, ficou em 29º na etapa e sofreu “só” 16s de Urán, que era um dos
favoritos à etapa, senão o principal nome. O que prova a monstruosidade de Contador
nesse sábado.
Contador |
Aru |
As outras surpresas positivas foram Amador e o canadense
Ryder Hesjedal (Cannondale-Garmin), mas apenas o primeiro já estava em boas condições
antes do TT (8º na GC) e se tornou a maior surpresa do Giro em uma Movistar sem
o colombiano atual campeão Nairo Quintana e o espanhol Alejandro Valverde, em
3º. Mais uma vez, a etapa serviu para comprovar que os domestiques que ameaçam
na GC e podem se tornar líderes de equipe após uma eventualidade, desmoronam em
TTs (talvez até para poupar energia para ajudar o líder nas escaladas).
Kreuziger (Tinkoff-Saxo), Landa e Cataldo (Astana) se viram fora do top 5 após
os 59,4km.
Antes... |
... e depois do TT da 14ª etapa |
15ª etapa, 24 de maio
(domingo) – 165km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Ah, Madonna di Campiglio (vídeo da chegada na montanha).
As subidas mais íngremes estão por vir, mas o Giro não parece aberto. Se é
verdade que a Astana controla o pelotão, também o é que não consegue droppar o
único adversário que precisa.
Aru tinha 4(!) companheiros no início da escalada (Landa, Tanel
Kangert, Paolo Tiralongo e Diego Rosa). Contador já estava isolado. Erros de
estratégia à parte, como permitir que o espanhol “atacasse” só pra ter 2s de
bônus em uma intermediária a 15km da chegada, o momento caminha para a
aceitação de que simplesmente não existe tática que vá fazer o espanhol balançar.
"Vai ou não, moleque?" |
Os outros do “pelotão” foram sendo droppados aos poucos. O
grupo ficou reduzido a 8 restando 6,5km. Até 3km, o ritmo era forte, mas ainda
sem ataques. O primeiro veio de Landa, Contador contra-atacou e Aru “permitiu”.
A quase 2km, foi a vez de Aru atacar, meio que pra tentar mostrar o que sabia
que não tinha. Landa estava melhor do que o líder da Astana. Tanto que voltou a
atacar e colocou o italiano em apuros. Quando parecia que a etapa e os bônus
dos 3 primeiros ficariam entre eles, Trofimov surge de algum lugar e traz
emoção ao km final.
À Astana, restou a vitória na etapa e mais 7s que Contador
colocou em Aru. À Tinkoff-Saxo, uma mão no troféu mesmo que a equipe não esteja
correspondendo às expectativas. Kreuziger ajuda. Rogers vez ou outra. O
italiano Ivan Basso e o português Sergio Paulinho são nulos.
Quem pára? |
Ah, Urán, Cunego e Formolo tomaram exatos 8min de Landa.
Hesjedal foi bravo e chegou 3min11s atrás do vencedor. Van den Broeck não
repetiu a mágica do TT (5min47s). E Porte, à passeio, chegou 27min04s depois.
Depois da curva
Atenção para as etapas de terça e, principalmente, sexta e
sábado, como apontado desde o início aqui.
A quinta-feira tem montanha na segunda metade, mas a chegada será com quase
20km de descida.