20 de dezembro de 2012

Retrospectiva do inútil ao desagradável


Ah, o fim de ano. O dia que vira noite às 15h, o motorista que arrisca passar pela água, as pessoas que se protegem como podem no ponto de ônibus, o aeroporto que fica 40 minutos fechado, as árvores centenárias que vão ao chão, as terras que deslizam e bloqueiam rodovias e... as retrospectivas! Somam uns 90% da utilidade jornalística na época.

Por fora da curva, o jeito é pensar na união do inútil ao desagradável. Logo, esporte + redes sociais. Se, por acaso, alguém chegou até este texto, deve estar mais preocupado em conseguir trocar o presente do inimigo secreto, em acionar a salvação divina para o carro inundado, em reclamar da escolha divina da miss universo, em xingar quem está xingando algum time, em saber quando tem o próximo Casados x Solteiros de ex-futebolistas, em discutir se ideia tem acento ou não, etc (esses são os 10% restantes de útil).

Que seja breve. O que teve de importante (pra quem?) em algumas modalidades em um tuíte. A retrospectiva fast-Freud, como diria o poeta. Porque o mundo não espera – mas o fim dele podia pelo menos ser depois do horário marcado no salão de beleza, diria a madame.

Tênis
Federer trezentas e umas. Djokovic 1 de novo. Nadal foi. Murray apareceu. Há relação? Sharapova em RG. Acabaram 2 piadas. 1 GS para Soares

Ciclismo
Wiggins inédito e histórico(2x). Contador voltou. Schlecks querem esquecer. Armstrong foi. Vai mudar algo?

Basquete
LeBron finalmente. Brasil voltou ao que se espera. Acabaram 2 piadas. 3ª idade ainda manda no NBB

Velocidade
Regularidade do Alonso não deu. Regularidade do Lorenzo deu. F-1 em extinção pelo ret$rn$ e pelos pilotos no Brasil. Rossi em 2013(?)

Vôlei
Continua na mesma. Disputa títulos. Se ganha é o melhor do mundo. Se perde é o pior.

Vôlei de praia
Na mesma do vôlei

Natação
Medalhas em Londres dependem do ponto de vista . Valem ouro ou lata. Phelps foi

Atletismo
Nem o vento londrino parou Bolt. As corridas de rua estão dominando as ruas e não precisam do futebol para serem promovidas com sucesso

Boxe
Falcões

Badminton
Teve trambique em Londres. Volta às notícias quando alguém for preso / morrer DURANTE O JOGO

Canoagem, hipismo, remo, taekwondo e tiro
Não vi e, diferentemente de outros esportes ou de outras pessoas, prefiro não comentar

Desportos na neve e no gelo
Em extinção

Esgrima
Teve polêmica em Londres. Volta às notícias quando alguém morrer

Ginástica artística
Arthur Zanetti

Handebol
Teve trambique na França. Volta às notícias quando alguém for preso / morrer DURANTE O JOGO

Judô
Sobrevivendo vitoriosamente como poucos esportes no país

Lutas
Não, obrigado

Rugby
Vai ser grande

Vela
Não lembro

Futebol
Ainda prefere discutir se a bola entrou, se foi dentro da área, se estava impedido, se a bola tá muito leve, etc. E a C$pa d$ Mund$ tá aí

Depois da curva
Invariavelmente, o jornalismo cíclico dá as caras nesta época do ano. Como aproveitar as sobras de comida da ceia/reveióm, como distrair os filhos nas férias e outras pautas eternas. O jornalismo podia tirar férias de 15 dias. Mas aí, como também diz o poeta sobre determinadas greves, o perigo é a população perceber que não precisa do serviço prestado pelos grevistas...

Derrapada
O fim do mundo está marcado para o primeiro dia do verão. Atenção ao simbolismo e à conexão entra as duas tragédias.

29 de novembro de 2012

Estranhos no ninho, peixes fora d'água e outras frases feitas em competições esportivas


Não é novidade pra ninguém que assistir a uma competição esportiva in loco gera situações e experiências muito diferentes de acompanhar pela TV. Emoção, decepção, maior proximidade do campo/quadra/piscina/etc, olhar para aquilo que a transmissão não mostra, entre outras coisas. Mas um aspecto no mínimo interessante se passa pelas conversas entre as “pessoas presentes”.

(Pessoa presente: aquele ou aquela que está em uma “praça esportiva” contra a vontade. Ex: namorada que vai para acompanhar o namorado, filho que vai para acompanhar o pai – geralmente hiperativo, às vezes se cansa mais correndo na arquibancada do que os próprios jogadores –, pai que vai para acompanhar o filho – e dorme na arquibancada –, convidado que vai porque foi convidado).

Neste último pacote, lembro a final de duplas do Brasil Open-2011. Marcelo Melo / Bruno Soares X Pablo Andujar / Daniel Gimeno-Traver. Área reservada aos convidados na Costa do Sauípe. Tie-break do primeiro set. Ouço de uma voz feminina: “Quem são os brasileiros?”. Já tinham sido jogados 12 games! As prioridades ali, obviamente, eram outras. Como são na grande maioria das áreas VIP de qualquer esporte, não apenas o tênis. Faz parte.

O dia no ginásio do Ibirapuera na última terça-feira gerou infinitas situações sobre um tipo peculiar nos eventos: o segurança. Nenhuma delas aconteceu comigo, mas ouvi algumas conversas e SE diverti. Outras pessoas se irritaram, tenho certeza. Reproduzo algumas situações.

Situação 1
Espectador, sentado a 2 m do portão de acesso à arquibancada, atende o celular no meio de um ponto e, naturalmente, se levanta para dar dois passos e sair discretamente.
Segurança: Tem que ficar sentado.
Espectador não entende direito, conversa um pouco com o segurança até finalmente se sentar.
- Poderia ter atrapalhado mais os jogadores do que se o segurança permitisse sua saída.

Situação 2
Funcionário da organização, credenciado, subiu os degraus da arquibancada tranquilamente, no meio de um ponto, enquanto o árbitro Carlos Bernardes olhava para ele com cara de poucos amigos. Quando chega ao final da arquibancada, segurança diz que não pode sair. Fica sentado 1 minuto e segurança abre o portão no 3/3.
- O cara estava credenciado, já tinha atrapalhado um ponto inteiro e não pôde sair. Abrir os portões na soma par é algo que precisaria de uma opinião da arbitragem, que sempre se mostra orgulhosa e satisfeita com os seguranças quando isso acontece.

Situação 3
4/3 no primeiro set entre Victor Hanescu e Aljaz Bedene. Segurança barra público que queria sair e diz que só pode deixar quando acabar o set.
- Barrar quando alguém quer SAIR é uma questão que exige muito mais bom senso do que regra. Nem acho que os seguranças são mal orientados. Acredito que nem são orientados. Estão ali a trabalho, em um ambiente que não lhes é familiar. Como um norte-americano no saibro. Alguém deveria ser responsável por instruí-los. Mas, no Brasil, acho que seria pedir muito. A qualquer segurança, em qualquer evento esportivo.


Situação 4
Hanescu fecha tie-break e muita gente se levanta. Como uma massa quer sair, segurança abre o portão e fala com outro segurança: Acho que acabou, né?
- ... ... ...

Situação 5
Ainda no mesmo jogo, 2/2 no 2º set. Espectador tenta entrar.
Segurança: Só pode quando acabar o set
- Terça-feira, por volta de 16h. Acredito que TODO o público que está no ginásio para ver Hanescu X Bedene gosta / acompanha tênis e entende as regras básicas do esporte. Imagino o que a pessoa em questão pensou ao ouvir, no 2/2, que só poderia entrar quando acabasse o set.

Situação 6
Mesmo jogo, 5/5 no 2º set. Espectador se levanta bem, beeem longe do portão e sobe degraus sem pressa.
Segurança, já impaciente: Senta lá, senta lá!
Ele se senta. Game demora e ele diz que precisa sair.
Segurança: Não pode levantar. Só quando acabar o set.
Dois pontos depois, Bedene faz 6/5.
Segurança: Agora pode.
- Se ainda restava dúvida, está certo que houve um pequeno mal entendido a respeito de termos que representam o fim de uma “subdivisão” da partida de tênis.

Situação 7
Fim do dia. Troca de lado quando Thomaz Bellucci tinha 6/4 5/6 contra Guido Pella.
Segurança 1 sobe os degraus e pergunta: Quem tá ganhando essa bagaça aí?
Segurança 2: O argentino.
Segurança 1: Que isso, rapaz!?
- Quando a bagaça foi pro saco no terceiro set, alguns presentes devem ter se perguntado a mesma coisa.

Depois da curva
Situação extra, desta vez envolvendo os famosos “ambulantes”. Aquecimento de Gastão Elias X Paolo Lorenzi.
Vendedor de sorvetes diz para o vendedor de crepe (que, diga-se, praticava um assalto voluntário a alguns presentes por módicos R$ 7): Pode andar (pela arquibancada), não começou. É só treino.

28 de novembro de 2012

Vim, vi e consegui voltar

Foi uma noite belutesca. Os famosos altos e baixos que dão as caras desde que Thomaz Bellucci disputa os principais torneios da ATP puderam ser vistos de perto. Pior que estejam tão presentes nas últimas – e raras – atuações frente ao público brasileiro – ATP Challenger Tour Finals de 2011, Brasil Open e agora o Challenger Finals da temporada atual. Ou pré-temporada...


Um atendimento depois de 3 games para re-remendar a mão esquerda. Um primeiro set de trocas de bola do fundo de quadra e o argentino Guido Pella, também canhoto, aceitando encarar as cruzadas de forehand com o número 1 brasileiro. No backhand ficava claro que o classificado sem convite não conseguia empurrar Bellucci para o fundo ou deslocá-lo suficientemente para as laterais. 1 set a 0.

Uma quebra no game inicial do 2º set. E aí começou. Pella devolve a quebra imediatamente e tem break point para abrir 3/1. A postura e a movimentação de Bellucci são diferentes das do início do jogo. E as emoções dos presentes também. Se no primeiro set pontos bonitos vencidos por Pella eram recebidos com slow claps entre duas ou três pessoas espalhadas pelo Ginásio do Ibirapuera, agora a torcida passou a ser público, se esqueceu de que “ganhar de argentino é melhor” e aplaudem o que precisa ser aplaudido. Não que torçam contra Bellucci. Os pontos e momentos delicados para o brasileiro têm volume – e gritos – muito maior. Talvez porque tenham sido muitos momentos delicados.

No tie-break, Pella erra um voleio curto que dificilmente Bellucci chegaria na bola, o que o deixaria com vantagem de 4/1. Público inflamado, já que o brasileiro devolveu o mini break. A torcida estava lá. No ponto seguinte, um erro não forçado de forehand do brasileiro para fora – de onde eu estava, bem fora. Uma leve reclamação de Bellucci com o árbitro e tímidas vaias dão as caras. Para a escolha da jogada em um ponto importante? Para o erro? Para a reclamação? Por que acharam que a bola foi dentro? Não descobri. Mas os longos aplausos voltam dois pontos depois, em um ponto... do argentino! Um grande voleio para abrir 6/3 no tie-break e, depois, aproveitar o terceiro set point. Nesse momento, muita gente deixa o Ibirapuera, ao que retornarei linhas abaixo (vídeo aqui).

Com o público desfalcado, Bellucci abre 3/0 e parece recolocar a vitória certa em curso. No sétimo game, três break points para abrir 5/1(!). Não aproveitados. Pella confirma, quebra e confirma para empatar o set decisivo por 4/4. Bellucci no saque com 40/15 antes de um longo e dramático nono game. Na sequência, Pella volta a igualar o set após um slice angustiante do brasileiro. Reflexo, não só de como estava o físico ou o psicológico do convidado, mas do que virou o jogo. E o 5/5 veio para coroar, com Bellucci sacando em 15/40 antes de enfrentar infinitos break points. O primeiro salvo com pancadas de forehand e backhand no fundo e no meio da quadra. O segundo com um bom saque. Outro com um saque aberto + backhand cruzado. Outro com uma paralela de backhand que nem ele acreditou. Até que, em uma curtinha nem tão curta seguida de um lob nem tão lob, o serviço é quebrado. Pella saca para o jogo, fecha depois de 2h53min. Bellucci sai, sem o esperado (ou programado?) discurso com o microfone no meio da quadra para agradecer quem ficou até minutos para 01h00 no Ibirapuera se angustiando em sua companhia.


Depois da curva
“Não é fácil ir dormir às três da manhã para jogar no dia seguinte de novo”, disse Bellucci após a derrota. Não deve ser mesmo. E como diz o poeta, não tá fácil pra ninguém.

No mesmo dia em que começou o ATP Challenger Tour Finals, teve início na cidade de São Paulo a segunda fase da Liga Sul-americana de Clubes de basquete. Três dias seguidos com rodada dupla em um quadrangular com três das cinco melhores equipes do Brasil – Brasília, Flamengo e Pinheiros – e um time venezuelano. Os jogos, a serem realizados na sede do clube paulista, foram marcados para 20h e 22h10(!!). Na expectativa de que o jogo de Bellucci, marcado para 21h, pudesse começar sem atrasos e, com o esperado 2 sets a 0, acabar antes de meia-noite, troquei o basquete, que não tinha chance de acabar antes de 00h, pelo tênis. Hoje e amanhã trocarei os dois pela televisão.

Por acaso, durante o jogo que precedia a estreia de Bellucci, Sheila Vieira, Felipe Priante, que neste ano compareceram ao ATP World Tour Finals e aos Jogos Olímpicos, respectivamente, e eu conversávamos sobre um dos motivos que afasta o público de eventos no Brasil: a famosa acessibilidade. A certeza de não apenas chegar ao local de um jogo, show, etc, mas também de conseguir voltar para casa dependendo de transporte público.

Sim, a duração de uma partida de tênis é imprevisível, etc, etc, etc. Um ponto não é problema dos eventos. Esses eventos acontecem e deixam de acontecer. O transporte segue o jogo na cidade durante os demais 364 dias do ano. O primeiro jogo do dia, entre Victor Hanescu e Aljaz Bedene, teve apenas dois sets e durou 2h17min. Tivesse terceiro set ou outro jogo também durasse isso... Uma prorrogação na rodada dupla de basquete, ou apenas um jogo decidido no final, com infinitos tempos técnicos dos dois lados, atrasaria tudo.

Que não se faça drama com um #classemédiasofre. O drama aconteceu em quadra. Fora dela, ficam as opções e escolhas. A de não ir. A de sair antes do final. A de ficar até o final e assumir riscos.

Então volto ao vídeo lá de cima, no momento em que Pella fechou o tie-break do segundo set: 23h40. A debandada do público passa por algumas explicações. Desânimo / frustração com a queda de rendimento de Bellucci. Trabalho cedo no dia seguinte. Residência longe – mesmo de carro ou táxi pode ser um problema. Dependência do transporte público. RÁ! No 4/4 do terceiro set, fiz as fotos abaixo dos locais do Ibirapuera que tinham mais público, que era muito menor do que na partida anterior, marcada para 19h, entre Adrian Ungur e Ruben Ramirez-Hidalgo.



Passada a teoria, vamos à prática. Assumi o risco. Deixei o Ibirapuera 00h47, para um destino perto. Menos de 6 km segundo o Google Maps. Não há estação de metrô perto do ginásio e mesmo se houvesse, não estaria mais funcionando pelo avançar da hora. Andar todo o caminho não parecia uma escolha prudente. Um ônibus e 1h esperando outro... Resolvi passear a pé por quase 2 km pelo cartão postal paulistano (tirando as pessoas que te pedem dinheiro e as que te obrigam a dar dinheiro, uma caminhada na madrugada de SP pode ser agradável. O problema é que na madrugada de SP só está acordado e andando quem vai pedir dinheiro ou te obrigar a dar dinheiro). Enfim, outro ônibus. Cheguei em casa 02h47. Acho que tive sorte. As madrugadas de São Paulo têm sido muito mais dramáticas para outro tanto de família nas últimas semanas. Concordo com Bellucci.

Créditos das fotos não-tiradas com uma mísera câmera digital 12.1 megapixels: Wander Roberto/inovafoto.

2 de novembro de 2012

O que o ranking (não) explica nos ATPs 500 de 2012 + o último Masters 1000 do ano


Aos moldes das estatúpidas dos rankings e os ATPs 250 de 2012, que fiz na última semana, demorei com as dos ATPs 500 e não tem nada muito relevante (os 250 também não tinham...). Então junto umas ideias do Masters 1000 de Paris. Segue a tabela, pequena, mais uma vez, tirem as próprias (in)conclusões.


Evitando as distorções óbvias
- Em Acapulco, Ferrer pegou um convidado que era 563º do mundo na estreia, aí a média dos tenistas que ele precisou derrotar ficou astronômica. Os outros quatro derrotados foram 54, 50, 80 e 27, respectivamente.

- Os dois torneios com last direct acceptance mais baixos são facilmente explicados. Barcelona tem a chave maior e Washington caiu na semana dos Jogos Olímpicos. Depois vem Dubai (com 8 top 10 de seeds!) e Hamburgo.

- Memphis teve os inscritos com rankings baixos. Ao mesmo tempo, Melzer precisou bater cinco top 60, três deles cabeças, para ser campeão.

- Diferentemente dos ATPs 250, que têm muitos “entráveis” no segundo semestre, os 500 que fecharam com melhores rankings foram os quatro últimos, no top 70. Curiosamente, quatro torneios que dividem as semanas em que acontecem: Pequim / Tóquio e Valência / Basileia.

- Como as primeiras rodadas de qualquer torneio reservam aos seeds (prováveis campeões) tenistas com rankings baixos, a média dos derrotados no caminho para o título não tem diferença significativa entre os ATPs 250 e os 500. Nos cinco torneios que tiveram o número mais baixo na última coluna da direita, três são ATPs 250 (Halle, Marselha e Winston Salem) e dois 500 (Dubai e Basileia). Para não perder o costume: no ano que vem? Nunca se sabe.

O último Masters 1000
Antes da disputa, o diretor do Masters 1000 de Paris já havia mostrado interesse em mudar a data do torneio, jogando-o para fevereiro. A proximidade com o ATP Finals e os tops capengando é preocupante para qualquer diretor de um grande evento. No fim de temporada isso é acentuado. E a sucessão de acontecimentos “inesperados” em 2012 dá mais força para uma possível mudança de data.

Rafael Nadal não joga desde junho. Situação anormal. Ainda assim, disputou o torneio apenas 3 vezes na carreira (2007-08-09). Roger Federer, atual campeão, desencanou do ranking, alegou “questões pessoais” e deve voltar com força para o ATP Finals. Confesso que também ficaria mais animado com a possibilidade de um sétimo (!!) título no torneio que reúne os 8 melhores da temporada. Além disso – não que Federer precise – ganhar 5 jogos em Londres dá quase três vezes mais premiação em dólares (1,76 mi vs 620 mil) do que em Paris.


Novak Djokovic se esquivou de justificar a derrota devido a preocupações com a saúde do pai. Não perdia em uma estreia há dois anos e meio. Apesar dos méritos do saque de Sam Querrey, um jogador com a experiência do sérvio, que tinha perdido um set e ganhado 10 nos 4 confrontos diretos com o americano, levar uma virada depois de ganhar os primeiros 8 games.... Situação anormal. Andy Murray sofreu contra um “sacador”, perdeu match point no segundo set e quis ir pra casa no terceiro. Situação normal.

Mas a mudança no calendário está longe de ser fácil. Além de patrocínio, $, tentativa de encurtar a temporada, etc, envolveria mudanças em outros torneios. Em fevereiro, seria o primeiro Masters da temporada. Um Masters na Europa, nesta data, não só enfraqueceria (ainda mais) a gira latino-americana de saibro, mas até os torneios em quadra dura dos EUA pré-Indian Wells-Miami. São muitos fatores a considerar, ainda não dá pra imaginar essa mudança.

Fato é que o Masters 1000 de Paris é como o Australian Open: em suas categorias, são os torneios mais “zebráveis” do circuito. Um no começo e outro no final da temporada. Um pode sofrer com a falta de ritmo e outro com o excesso de cansaço dos jogadores para ver os tops caírem antes das rodadas finais. Um título de Thomas Johanssson, as únicas finais de Marcos Baghdatis, Fernando Gonzalez e Jo-Wilfried Tsonga (então 38º do mundo), para citar alguns exemplos da Austrália. Os outros Grand Slams, nos últimos 10, 15 anos, não tiveram tantos finalistas ou campeões inesperados. Não acredito que seja coincidência.

E o Masters 1000 de Paris? É o único que Tsonga, um nome de respeito, fez final. Duas, com um título e um vice. Mesmo com duas finais de GS, Robin Soderling só tem uma em M-1000, e ganhou, em Paris-10. Voltando mais de uma década, dá pra lembrar o título de Sebastian Grosjean, seu único de Masters 1000. Uma arrancada que o colocou na Masters Cup (atual ATP Finals) duas semanas depois.


Estatúpidas
- O último Masters 1000 sem Federer, Nadal, Djokovic ou Murray entre os semifinalistas foi justamente em... Paris! Em 2008. E os 4 estavam na chave, os 4 principais cabeças. Federer deu WO nas quartas contra Blake; Nadal desistiu nas quartas contra Davydenko depois de tomar 6/1; Djokovic caiu antes, em três sets para Tsonga nas oitavas; Murray perdeu para Nalbandian nas quartas. Ainda assim, a semifinal teve 4 cabeças: Davydenko (6) X Nalbandian (8) e Blake (11) X Tsonga (13), com Tsonga sendo campeão sobre o argentino.

- O último Masters 1000 sem Federer, Nadal, Djokovic ou Murray entre os quadrifinalistas foi justamente em... Paris! Em 2006. Federer (1) e Nadal (2) não deram as caras, Djokovic e Murray ainda eram 16 e 17 do mundo, respectivamente. Uma outra Era.

Depois da curva
Esse domínio do top 4 nos grandes torneios gera, positivamente, a já conhecida repercussão, espaço na mídia, etc. A WTA, oscilante, não teve tanta atratividade para a “mídia em geral” enquanto as líderes do rankings não se firmavam – por esse e outros motivos. Mas, negativamente, penso em um futuro próximo na ATP.

Em 2012, dois ex-líderes do ranking deram adeus às quadras. Cada um tinha conquistado um Grand Slam e mais de 15 títulos na carreira. O “espaço na mídia” não foi dos maiores para os dois. Atualmente, só há 4 tenistas que já alcançaram o topo do ranking em atividade (Federer, Nadal, Djokovic e Lleyton Hewitt). Dentro de alguns anos, nomes muito importantes para o tênis – ao menos na minha visão – vão anunciar a aposentadoria e a “mídia em geral” pode perguntar: quem é? Ganhou o que?

Ganhou muita coisa. Mas os Grand Slams (e os Masters 1000) ficaram restritos ao top 4 por quase uma década(!). No texto de despedida vão faltar aqueles “campeão (ou "só" vice) de Roland Garros em 20XX”, “dono de três troféus de Masters 1000”, “medalhista olímpico”, etc. Para mim, ao final da carreira, não chega a fazer muita diferença a “qualidade” dos títulos ou o ranking mais alto que alguém alcanço. Mas para “os outros”, isso é A notícia.



22 de outubro de 2012

O que o ranking (não) explica nos ATPs 250 de 2012


Acabou a temporada dos ATPs 250. Aqueles torneios mais ganháveis para tenistas fora do top 20 e com possibilidades de boas campanhas para alguns beirando o top 100. Torneios que sempre geram perguntas do tipo: por que o cara não sai umas três semanas dos Challengers e tenta qualifyings ou até entrar direto em um ATP 250 fraco? Por que o cara, top 50, não entra em um ATP 250 como cabeça de chave ao invés de esperar o ATP 500 da próxima semana, podendo pegar um top 10 na estreia? O Brasil Open é um dos torneios mais fracos e sem estrelas entre os ATPs 250?

Primeiro, o torneio ser “fraco” é sempre relativo. O ranking mede a fraqueza? Aposto que muitos tenistas que vão disputar um torneio na grama preferem pegar um top como Nicolas Almagro a ter uma estreia contra Lukas Rosol (ah, Rosol...) ou Ivo Karlovic. Ou então, no saibro, preferem uma chave com o (ex-)top Mardy Fish ao veterano 90º do mundo Filippo Volandri (ah, Volandri...). O ranking não ganha jogo – e se ganhasse nem precisaria ter o sorteio e os jogos.
Calendário de tenista. Crédito: Google

Segundo, porque a escolha de um calendário envolve muito mais variáveis do que ver se o ranking dos inscritos é “bom” ou “ruim”. Pra quem vive nos Challengers, envolve dinheiro para longas viagens, assumindo o risco de não ter o retorno financeiro nem de posições no ranking. Pra quem já está na faixa dos 60 do mundo (ranking que entraria direto em qualquer ATP 250 em 2012), envolve o piso, a experiência que teve no torneio no ano anterior, condições de jogo na cidade (altitude, clima, etc), distância do torneio da próxima semana, preferir um Challenger em seu país, etc, etc, etc. Um exemplo da última semana, o italiano Andreas Seppi, campeão em Moscou, foi questionado porque não disputou o ATP de St. Petersburgo neste ano. A resposta: tinha jogado a Copa Davis (na Itália) e na semana seguinte, junto com St. Petersburgo, Metz (na França) era mais perto.

Este post não quer montar o calendário de um tenista ou tentar trazer nenhuma resposta. Aliás, este post nem deveria existir... Não há propósitos. Mas o final do ano já começa a proporcionar as respeitáveis retrospectivas. Para quem gosta de números e estatúpidas, deixo uma tabela com conclusões inconclusivas relacionando ranking e os 40 ATPs 250 de 2012. Rankings, números, médias, cálculos. Não há considerações sobre a fase do jogador, o piso ser seu ponto forte, os adversários que ele enfrentou, etc. Ficou pequena, mas a (falta de) ideia está aí.



Quase conclusões
- Torneios pré-Grand Slam tendem a ter cabeças com rankings melhores e a fechar last direct acceptance em rankings baixos.

- Só 3 títulos ficaram fora dos cabeças de chave.

- 14 títulos ficaram com os cabeças 1.

Uma foto do Australian Open, só porque é o mais
legal dos Grand Slams. Crédito: Google
- Antes do Australian Open, um cabeça em Chennai não entraria na chave na semana seguinte, em Sydney. Pra quem quer se aventurar na Índia, as oportunidades podem estar aí. Ou não.

- Kitzbuhel e Los Angeles foram muito “fracos”. Em 2012, isso se explica pelos Jogos Olímpicos na semana seguinte. Em outros anos, nunca se sabe.

- ATPs 250 são bem “entráveis” pra quem está próximo do top 100. Só 8 torneios tiveram last direct acceptance abaixo do número 90. Mais uma vez, em 2013 isso vai se repetir? Nem preciso responder...

Inconclusões
- Número 1 do mundo não joga ATP 250. Não, é um dado pontual, de 2012. Vez ou outra o líder do ranking vai buscar ponto$ em torneio$ como o de Doha.

- O 100 do mundo consegue entrar na chave dos três ATPs 250 da Gira Sul-americana. Em 2012, conseguiu. Em qualquer outro ano, nunca se sabe.

- Casablanca foi o torneio mais fácil para o campeão. Pela média dos ranking dos derrotados pelo campeão (Pablo Andujar), sim. O que não diz nada. Ele pegou três top 100 (83º, 85º e 52º) e o número 544º nas quartas. E se tiver sido a chave mais fraca, azar da chave.

- A soma de Buenos Aires também mostra a facilidade para o campeão? David Ferrer ganhou de um qualifier, dois convidados (entre eles Fernando Gonzalez buscando a aposentadoria) e ainda assim teve que superar David Nalbandian (então 85º) e o cabeça 2, Nicolas Almagro, então 11º. Fácil?

- Delray Beach, outra várzea? Kevin Anderson eliminou os cabeças 1 (John Isner) e 4 (Andy Roddick), então 11º e 30º do mundo. A estreia contra um qualifier 502º da ATP faz a média crescer, mostrando que os números estão aí pra serem manipulados.

- Em Halle, tomo mundo lembra que Tommy Haas foi campeão sobre Roger Federer, então 3º, e nas quartas tirou Tomas Berdych, 7º. Na semi, ainda teve Philipp Kohlschreiber, 34º. Adversário de respeito, seja “pelo ranking” ou pelo jogo que têm na grama. E as duas primeiras rodadas? Foram dois top 30. Bernard Tomic jogou sete games e abandonou e Marcel Granollers, cabeça 6, o sonho de muita gente em uma segunda rodada na grama. O torneio foi o mais difícil?

- Doha fechou os 8 cabeças e last direct acceptance com rankings muito melhores do que Brisbane e Chennai – na mesma semana. E foi o torneio que o campeão teve o caminho mais “tranquilo” – em termos de ranking, claro. Jo-Wilfried Tsonga estreou contra um qualifier 118 passou por dois tenistas fora do top 60 e quando ia pegar o número 3 do mundo, Roger Federer deu WO na semi. A final foi vencida sobre Gael Monfils, então 16º. Em Chennai, o torneio mais “fraco” da semana, Milos Raonic precisou vencer dois top 10 – Almagro e Janko Tipsarevic – para ser campeão.

Depois da curva
Escrevi um monte pra não dizer nada. Enfim, é a prática de alguns blogs. Criando uma tabela cheia de números, há a possibilidade de derrubar cada “conclusão” da mesma. Pra quem quiser praticar a distorção de números para provar alguma tese, fica aí a sugestão de exercício com a tabela acima.

Semana que vem tem as estatúpidas dos ATPs 500. Não esperem para perder.

16 de setembro de 2012

Enfim, o fim


Fazia tempo que um final de semana não reunia tantos destaques de tênis para o Brasil. Ao menos em quantidade, o meio de setembro mostrou um final, um possível começo e, quem sabe, recomeços.

Em semana sem ATPs, as atenções sempre estão na Copa Davis e um longo caminho de volta ao grupo Mundial foi percorrido durante 9 anos. A queda para o Grupo 2 das Américas e 6 anos seguidos ficando perto. Temporadas sem ter adversários no grupo 1 das Américas, mas com derrotas inesperadas (Equador, em Porto Alegre, em 2009), inexplicáveis (Índia de Devvarman e Bopanna, em 2010) e indigestas (Rússia, com dois match points, em 2011).

A mesma Rússia do ano anterior cruzou o Atlântico e só repetiu um jogador da convocação de Kazan. Sem a experiência dos top 50 Mikhail Youzhny e Nikolay Davydenko, sobrou para Igor Andreev e Teymuraz Gabashvili se deliciarem no saibro de São José do Rio de Preto. No papel, a melhor chance do Brasil considerando o momento dos jogadores de cada equipe, o piso, a torcida, o clima, etc.


Expectativa que se cumpriu sem a tradicional tensão de Copa Davis. Os sustos, talvez, foram no set que Gabashvili tirou de Bellucci, no vacilo de Melo/Soares ao abrirem 5/1 e só fecharem o set inicial por 7/5 e o set point que a dupla russa teve no terceiro set. Poderia ter significado um gás extra para o jogo, ainda que dificilmente Bellucci perderia no domingo contra o baleado Andreev ou se o capitão russo o trocasse por Alex Bogomolov.

Tirando Andreev, que foi peça importante no vice de 2007, a Rússia trouxe ao Brasil tenistas com 1-3 (Gabashvili), 0-2 (Bogomolov) e 0-0 (Stanislav Vovk) em Davis. Mesmo sem os dois “cortados” em cima da hora, os europeus ainda tinham dois nomes com mais vivência em Davis e algumas posições à frente de Gabashvili no ranking mundial: Dmitry Tursunov e Igor Kunitsyn. O primeiro marcou ponto nas duplas na final de 2006 e sacramentou a vitória sobre o Brasil no ano passado, no quinto jogo.

 A pouca experiência aliada à falta de vontade de viajar ao Brasil para jogar no saibro (enquanto as duplas rolavam, no sábado, Tursunov comemorava vaga na final do Challenger de Istambul, em quadra dura) tiraram a Rússia do Grupo Mundial após 20(!) anos. O preço que se paga às vezes é alto demais.

Na reta
Mas nem só de Davis vive o tênis (e, principalmente, quem não é top 100). O Challenger de Cali viu três brasileiros na semifinal, com Thiago Alves eliminando Fabiano de Paula (que entra pela primeira vez na carreira no grupo dos 300 do mundo) e caindo para Feijão na final. Alves confirma o bom recomeço que teve início com o título do Aberto de São Paulo, na primeira semana do ano, e já ganhou mais de 200 posições na temporada. Feijão, que há exatamente um ano atingia sua melhor colocação no ranking (84º), mostra que pode salvar a temporada de aprendizado em ATPs recuperando pontos preciosos em Challengers. Com muita coisa a acontecer até o próximo confronto da Davis, em 2013, os dois não podem ser descartados como opções para João Zwetsch. Principalmente Alves em quadra dura.

André Sá foi vice no Challenger de Petange, com o britânico Jamie Murray. No feminino, a número 1 brasileira, Teliana Pereira, fez sua quarta final na temporada e ficou com o vice no ITF US$ 25 mil de Mont-De-Marsan. A ex-top 20 juvenil Laura Pigossi conquistou seu primeiro título como profissional, no ITF US$ 10 mil de São José dos Campos. Ela eliminou duas cabeças de chave em sets diretos e, na final, mesmo sofrendo um pneu da experiente Maria Fernanda Alves – cabeça 1 –, levou a melhor com 7/5 no terceiro set. Uma das promessas do tênis brasileiro começa a dar os primeiros passos no profissional.

Caixa de brita
Nem só de Brasil vive a Davis. Nos outros 9 confrontos relevantes do final de semana, apenas a Bélgica definiu o confronto no sábado e não permitiu que a Suécia, órfã de Robin Soderling, evitasse o inevitável. Sem tenistas entre os 400(!!) do mundo, os suecos ressuscitaram Andreas Vinciguerra, 33º do mundo em 2001 e que não jogava desde julho de 2011, que até conseguiu tirar 12 games de David Goffin, mas a equipe deixa a elite da competição após 12 anos. Para 2013, a Suécia espera a volta de Joachim Johansson, Magnus Norman, Thomas Enqvist e Bjorn Borg em busca do acesso.


No Grupo Mundial, a Espanha tomou sustos no primeiro dia, com Sam Querrey abrindo 1 set a 0 contra David Ferrer e Nicolas Almagro precisando de 4h16 contra John Isner. Ainda com a dupla baleada, o favoritismo dos irmãos Bryan foi confirmado, mas Ferrer colocou fim à Davis dos sonhos de Isner, em 4 sets, e colocou os atuais campeões em mais uma final.

Em Buenos Aires, o primeiro dia se mostrou decisivo após Juan Martin Del Potro não ter condições de jogo para o domingo. Juan Monaco poderia ter aberto 2 a 0 no confronto, chegou a 4 a 2 no quarto set contra Tomas Berdych e perdeu oito(!!!) games seguidos. Ainda devolveu as duas quebras no set decisivo e, quando foi sacar em 4/5, perdeu o serviço de zero, frustrando a sensacional torcida no Parque Roca.

Mesmo sem as inúmeras opções que Alex Corretja tem para convocar a Espanha, a República Tcheca jogará em casa para tentar devolver a surra da decisão de 2009 e conquistar o título inédito pós-Tchecoslováquia.

Roger Federer e Stanislas Wawrinka foram encarregados de evitar o rebaixamento da Suíça e fizeram 2 a 0 com facilidade na sexta-feira contra a Holanda. A dupla repetiu as Olimpíadas de Londres e o número 1 do mundo deve ter adorado tem que voltar à quadra no domingo para confirmar o terceiro ponto.

A Alemanha teve o saibro como grande aliado contra a Austrália. O jovem Cedrik-Marcel Stebe abriu o confronto perdendo para o também jovem Bernard Tomic e a dupla Lleyton Hewitt / Chris Guccione colocou os australianos em vantagem. No último dia, porém, os visitantes não conseguiram um set, com Tomic derrotado por Florian Mayer e Stebe frustrando o recorde de confrontos de Hewitt pela Austrália. 

Os cazaque-russos viraram contra o Uzbequistão e têm menção honrosa somente porque podem ser adversários do Brasil. Aliás, o melhor sorteio no retorno ao Grupo Mundial seria receber cazaques ou austríacos (a confirmar no ranking de amanhã qual dessas equipes será cabeça de chave).

Japão 2 X 3 Israel, Canadá 4 X 1 África do Sul e Itália 4 X 1 Chile não merecem mais linhas.

Depois da curva
Menção honrosa do final de semana à Índia, que ganhou seu primeiro confronto desde a fatídica vitória sobre o Brasil em 2010. Depois de perderem para Sérvia e Japão em 2011 e caírem para o grupo 1 da Ásia / Oceania, haviam perdido para o Uzbequistão em abril e corriam risco de rebaixamento para o Grupo 2. Venceram a fortíssima Nova Zelândia por 5 a 0.

Fotos: Site Copa Davis

1 de setembro de 2012

Escalada sem fim


É um roteiro sem fim. Uma biografia que merece atualização a cada semana. O câncer, depois a volta à vida e ao ciclismo. As sete conquistas seguidas da prova mais dura do planeta, o romance com uma celebridade, a arrecadação de fundos para ajudar pacientes da doença a qual sobreviveu. Milhares de acusações, centenas de testes antidoping, dezenas de declarações para tirar o final feliz do conto de fadas. Dos adversários, dos ex-companheiros de equipe e talvez até da ex-noiva-celebridade.

A história tem muitas reviravoltas para tentar ser entendida, quanto mais explicada. E os capítulos das 2 últimas semanas indicam que a novela pode acabar amanhã ou nunca ter fim. Talvez não seja a montanha mais difícil, mas com certeza é a mais longa da (ex-?) carreira de Lance Armstrong.

A retirada de todos os títulos como profissional desde agosto de 1998 e o banimento do esporte profissional pelo resto da vida, anunciado pela Usada, traz duas hipóteses opostas de imediato. Ou Armstrong sempre competiu dopado e havia um acordo com a Usada para encobri-lo (semelhante com o que a ATP fez com Andre Agassi uma vez – pelo menos a única divulgada pelo próprio ex-tenista). Por algum motivo, esse acordo chegou ao fim e o estrago foi feito. Ou Armstrong sempre correu limpo e é realmente vítima da “caça às bruxas” que alega – agora não só da Usada, como de muitos ex-companheiros. Os testes, à época, foram todos negativos, enquanto dezenas de adversários eram advertidos ou punidos pelo uso de EPO, esteroides, transfusões de sangue, etc. O ciclismo está cheio de exemplos.

Uma questão posterior é: Por que o poder da Usada é superior ao da União Internacional de Ciclismo (UCI)? A entidade máxima do ciclismo mundial não deu um veredicto sobre a punição e cobra da Usada que mostre as evidências dos exames em que Armstrong falhou. Aguardemos.

Coincidentemente, havia terminado de ler Lance Armstrong: Muito mais do que um ciclista campeão; minha jornada de volta à vida um dia antes da desistência do americano em continuar se defendendo. E relacionei sua atitude com a cabeçada de Zidane ao final da carreira. Se querem acreditar ou não, certo ou errado, culpado ou inocente, foda-se.

Floyd Landis, Tyler Hamilton e Lance Armstrong
Coincidentemente (ou não), um ex-companheiro de Armstrong lançaria uma autobiografia-bomba no dia do aniversário do heptacampeão (?), 18 de setembro, e adiantou para o próximo dia 5. Tyler Hamilton ajudou Armstrong a conquistar os 3 primeiros títulos no Tour com a US Postal Service e depois virou seu adversário pelas equipes CSC e Phonak. Admitiu seu próprio doping  - assim como acusou Armstrong e inúmeros ex-companheiros – em uma entrevista no final de 2011 e no início de agosto teve a medalha de ouro dos Jogos e Atenas-2004 retirada pelo COI. No livro A luta de Lance Armstrong, do jornalista Daniel Coyle (coincidência ou não, o mesmo que assina a biografia de Hamilton), os dois são apresentados como amigos, apesar de rivais, e apenas um teto separava suas apartamentos em Girona durante os longos treinamentos na Europa.

No livro-bomba (“The Secret Race: Inside the Hidden World of the Tour de France, Doping, Cover-ups and Winning at All Costs”), Hamilton revela transfusões de sangue que fez junto de Armstrong no Tour de 1999 e diz que “Lance trabalhava o sitema… Lance era o sistema”, segundo cópia que a Associated Press conseguiu antecipadamente. Ele ainda dá detalhes do esquema de EPO, que os líderes e os médicos da equipe (US Postal Service) encorajavam a prática. Marketing ou não, é uma boa estratégia de divulgação.

Como se não bastasse, o Daily Mail ressuscita que até sua ex-noiva, a cantora Sheryl Crow, foi interrogada em 2011 a respeito das acusações. Os dois conviveram entre 2003 e 2006, quando o ciclista foi menos esportista e mais celebridade. Nunca se soube o teor de suas declarações.

Continuando, Outside traz um texto de um ex-assistente de Armstrong, dizendo acreditar que o ciclista trapaceou, não é e nunca foi uma vítima – além de explorar a tão falada e (re) conhecida arrogância do ex-campeão.

Enquanto os próximos capítulos não chegam, Armstrong ironiza a decisão da Usada. Seu agente, Bill Stapleton, evita comentar o(s) caso(s). O veterano belga Eddy Merckx, um dos maiores ciclistas de todos os tempos e 5 vezes campeão do Tour,lamenta a polêmica e diz que acredita em Armstrong – em sua biografia de 2000, o norte-americano o descreve como um grande amigo. Os norte-americanos George Hincapie e Levi Leipheimer, dois dos maiores escudeiros de Armstrong ao longo de sua carreira, teriam garantido, no início de julho, que testemunhariam à Usada contra o compatriota. Alberto Contador, em meio à Vuelta a Espanha em seu retorno de suspensão por doping, trata de ser político e ficar de meias-palavras. Oscar Pereiro, que herdou o Tour de 2006 após a desclassificação de Floyd Landis (ex-companheiro de Armstrong) por doping, diz que o caso é patético e lança dúvidas sobre o sistema de antidoping.

Depois da curva
A maioria dos grandes adversários de Armstrong ao longo da carreira foi pega em exames antidoping e muitos – vice ou bronze no Tour, ouro em Jogos Olímpicos – tiveram as devidas punições. Se todos estavam trapaceando, entre todos os dopados, Armstrong ainda foi o melhor. É como diz o poeta: seria cômico se não fosse trágico.

Na reta
Quando interrompeu a aposentadoria para retornar ao ciclismo em 2009, a principal justificativa de Armstrong fora que o esporte havia perdido espaço na mídia sido manchado por casos de doping, como o de Landis, em 2006. Se até hoje o principal assunto ciclístico ainda é o norte-americano, ele ajuda em evidência nas notícias com a polêmica. Mas, ao desistir de se defender, coloca um fim nas pautas do esporte que o consagrou (caso essa montanha de história tenha algum fim).

12 de agosto de 2012

O que aprendi nestes Jogos Olímpicos


Que o melhor jeito de chamar a atenção em uma cerimônia de abertura ou de premiação é usar galocha.


Que acabaram com o koka no judô.

Que três TVs ligadas simultaneamente durante 10 horas por dia fazem com que as narrações possam ser ouvidas enquanto se está na rua, no ônibus ou tentando dormir.

Que se pode entregar um jogo e ainda assim não ser campeão.


Que se pode não entregar um jogo e também (ou, por isso) não ser campeão.


Que as provas do atletismo são muito interessantes para precisarem competir pela atenção / transmissão simultaneamente.


Que o atletismo não teria graça se as provas não fossem disputadas simultaneamente.

Que se pode oferecer um refrigerante com emoção.

Que ser brazuca é tá na moral.


Que se não fossem as músicas, as cerimônias de abertura e de encerramento teriam 15 minutos em Londres.

1 de agosto de 2012

Um mês de história para um mito


Bradley Wiggins se tornou nesta quarta-feira um mito do esporte. Para os britânicos, nem a categoria de mito é suficiente. Foi para a classificação hors concours. Durante pouco mais de um mês, tudo conspirou para que o ciclista de 32 anos passasse a limpo toda a história que já havia escrito na vitoriosa carreira. Um mês, em imagens.

29/06: Às vésperas do Tour de France e com as ausências de Alberto Contador e
Andy Schleck, a imprensa britânica se perguntava esperançosa (crédito: Guardian)
30/06: Tour de France começa com prólogo de 6,4 km. Wiggins fica em 2º, 7s atrás do líder e tetracampeão mundial em contrarrelógio de estrada, o suíço Fabian Cancellara. Como vice-líder, “herda” a camiseta verde
07/07: Na primeira etapa com grandes escaladas, fica em 3º e assume a
liderança do Tour, vestindo a camiseta amarela
19/07: Depois da última etapa de montanha e a 3 dias do final do Tour, Wiggins tem 2min05s de vantagem para o 2º colocado, seu companheiro de equipe Christopher Froome. Modesto, declara: “Eu posso começar a pensar em vitória”.
22/07: Na 99ª edição da prova mais tradicional do ciclismo mundial, faz história
ao se tornar o primeiro britânico a vencer o Tour de France



Imprensa britânica se curva ao campeão (créditos: BBC e Telegraph - 3x)
Entre o Tour e as Olimpíadas, pausa para dois momentos família. Na última etapa da prova francesa, pedalando ao lado do filho e...
... dois dias depois, divulgando pelo Twitter a foto "garoto 'cutucando' o nariz cercado por leões". Os bichos de pelúcia são ganhos pelo líder do Tour de France a cada etapa que conseguir manter a liderança. Neste ano, foram 14 presentes para o filho
27/08: Com todas as atenções voltadas para o compatriota e companheiro de equipe na Sky Procycling para a prova de estrada do primeiro dia de Olimpíadas, Wiggins declara que é hora de retribuir a ajuda que teve da equipe durante o Tour. Na cerimônia de abertura dos Jogos de Londres...
... Wiggins é o primeiro atleta a aparecer, mais uma vez de amarelo. Ele toca o sino para "oficializar" o início da cerimônia e minutos depois comemora a "façanha" no Twitter como um menino ao ganhar uma bicicleta
28/08: Dono de 6 medalhas olímpicas, Wiggins é o coadjuvante da vez diante do favoritismo de Cavendish na abertura das Olimpíadas, que termina em frustração para a torcida sem o ouro ganho às vésperas
31/08: Após quatro dias de Jogos, imprensa britânica começa a cobrar resultados, ainda sem medalhas de ouro (créditos: BBC e Telegraph)
01/08: Antes da prova contrarrelógio, a imprensa volta a perguntar (crédito: BBC)
01/08: 4min39s54 depois, Wiggins responde...
... empurrado por milhares de britânicos ao longo de 44 km
01/08: Sua Majestade é o primeiro ciclista da história a ganhar o Tour de France e, no mesmo ano, conquistar um ouro olímpico
01/08: Na prova, superou o atual campeão mundial de contrarrelógio, o alemão Tony Martin (42s depois), e o companheiro Froome, bronze (1min08s), e o campeão olímpico de Pequim-08, Fabian Cancellara (7º colocado), que correu no sacrifício após sofrer queda na prova de estrada no sábado

01/08: Wiggins passa a ser o britânico com mais medalhas na história dos Jogos Olímpicos, ultrapassando Steve Redgrave, do remo, que na cerimônia era cotado para acender a pira olímpica. São 7 medalhas e a de hoje é a primeira fora de um velódromo (Sydney-00: Bronze em perseguição por equipe; Atenas-04: Ouro em perseguição individual, prata em perseguição por equipe e bronze em madison; Pequim-08: Ouro em perseguição individual e ouro em perseguição em equipe)
01/08: "Hoje tinha que ser ouro ou nada. Qual o sentido de sete medalhas se elas não fossem da cor certa. É tudo sobre as 4 de ouro. Agora tenho que ir para o Rio buscar a quinta". Aguardamos as costeletas


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No site oficial das Olimpíadas, Bradley Wiggins vale por dois. Hoje, é impossível calcular seu valor para o povo britânico