3 de abril de 2012

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Você já caiu nas inéditas piadas de 1º de abril, não ouve a palavra próspero há 3 meses, recebeu feliz ano novo depois do carnaval e este blog continua desatualizado (desatualizado é o melhor termo para substituir ruim. O blog poderia estar atualizado, com produção em série de posts ruins. Eu prefiro deixá-lo desatualizado com posts ruins). Enquanto isso, os estaduais se arrastam, mas você se emociona ao ver os gols de Rio Verde, 2, Itumbiara, 1, em rede nacional, logo depois de descobrir que Roger Federer virá ao Brasil. Roger quem? Exatamente.

Rio Verde já sonha com a classificação no Goianão

Esse cara aí teve uma matéria de quase 10 minutos no Esporte Espetacular do último domingo. De volta ao estúdio, um dos apresentadores disse algo do tipo: é muito especial poder ver um dos maiores atletas de todos os tempos escrevendo a história do esporte. Imagino quantos se perguntaram: “QUEM está vendo um dos maiores atletas...?”. Ou, por que não: “Qual esporte esse cara faz?”. Vida que segue, isso é assunto pra outro post (não esqueci a tática...).

O que aconteceu tenisticamente em 3 meses merece umas linhas. Se a temporada da ATP tem, oficialmente, 10 meses e 1/2 de torneios, o primeiro terço vem com 3 meses e 1/2, daqui duas semanas. Como nos próximos 15 dias acontece um fim de semana de Copa Davis e 2 ATPs 250, prefiro escrever agora a esperar os grandes torneios de Casablanca e Houston, conhecidos como 6º e 7º Grand Slam, respectivamente.

Considerando apenas GS e Masters 1000, esse terço da temporada é o que oferece menos pontos (4 mil, contra 7 mil do meio de abril até o final de julho, e 6 mil de agosto até o meio de novembro, fora 1500 extras do ATP Finals). Porém, o momento é propício pela transição para o saibro depois dos primeiros Masters do ano. E se até Kirilenko e Petrova anteciparam a páscoa é melhor antecipar tudo porque este post já ficou velho enquanto eu escrevia.

Bolinha de sabão
De 4 títulos que tinha para defender, Djokovic teve sucesso em 2 e nos outros 2 parou na semi. Sinal de alerta. Quanto drama. Nesse tempo, 1 vitória contra Nadal, 2 contra Murray, 2 contra Ferrer. Derrotas para Murray e Isner. Se não for desmerecer aqueles que o derrotaram justificando más atuações do número 1 e considerar que o sérvio não é mais o imbatível de 2011, imagina se fosse. Ganhar Miami, sem jogar seu melhor, passando por Baghdatis, Troicki, Gasquet, Ferrer, Monaco e Murray sem perder sets pode servir de alerta aos secadores.

Embalado pelas 17 vitórias de 2011 pós-US Open, o velho Federer iniciou a temporada com gás novo. Mais do que títulos, todo mundo quer acompanhar a (eterna?) busca pela liderança. Doha foi aquecimento (com WO na semi), AO foi a primeira chance de reduzir a diferença significativamente e Copa Davis contra Isner... Títulos seguidos nos 500 de Roterdã, Dubai e Masters de Indian Wells. Até então, destaque para vitória contra Nadal, Murray e 4 contra o freguês Del Potro. Aí chegou Miami. A boa fase credenciava o número 3 a principal favorito(?). Pelos menos no Fantasy, antigo Draw Challenge, do site da ATP, sim. Entre os chutadores, 47,4% apontaram Federer como campeão, contra 24,9% para Djokovic e 19,6% para Nadal. Na chave, o teórico duelo contra o número 1 na semi. Na prática, uma inesperada queda para Roddick na 3ª rodada. Se no jogo Federer pagou pela pressa, convertida em erros não-forçados, por um game ruim de serviço no 3º set e por um norte-americano anormalmente resistente / paciente (no 1º e no 3º sets), no resultado recebeu um balde de água fria na maior pretensão para a temporada. Ou na maior pretensão que os outros acreditam que ele tem...

Serpentina

As linhas sobre Federer vieram antes do Nadal por tomarem os 3 meses como base. No ranking desse período, o suíço é o vice-líder.

Aos secadores, a escassez de títulos de Nadal é motivo de preocupação. Em 2011, foram 3, todos no saibro, o primeiro ano desde 2004 sem troféu em superfícies diferentes. Nas últimas 11 decisões, são 8 vices, 7 para Djokovic. Os números seriam alerta se as quedas fossem precoces, mas, em 4 torneios, Nadal tem 1 vice e 3 semis. O equilíbrio da longa final do AO foi encarado como a descoberta de uma maneira para bater Djokovic. Apesar disso, depois vieram atuações irregulares contra Federer e o vento em IW e Tsonga em Miami e o WO de Miami. Se Nadal ainda não encontrou a forma ideal de combinar seu “antigo jogo” com mais agressividade e tem uma lesão batendo à porta, duas semanas de “descanso” pré-saibro são essenciais. Para aqueles que gostam de ver a temporada europeia de saibro como uma oportunidade de queda do espanhol, por ter muitos pontos a defender, há aqueles para lembrar que, desde sempre, Nadal nunca sentiu a pressão da defesa de pontos, principalmente no saibro. Entre 2005 e 2011, entre Monte Carlo e Roland Garros, foram 5 anos com 4 títulos e 2 anos “fracos” com 3 troféus.

Correndo

Sempre evito escrever sobre Murray, porque... ele é o Murray. Mas já escrevi qualquer coisa sobre o top 3, então vai. Título em Brisbane, exigir tudo de Djokovic no AO e depois derrotá-lo em Dubai trazem uma impressão. Perder em 2 sets para Garcia-Lopez na estreia de IW, outra. Para mim, cabe divagar sobre Murray e Djokovic, que têm 7 dias de diferença de idade.

ATENÇÃO, parágrafo-teoria abaixo sem embasamento científico.
Os dois surgiram para o top 10 entre 2007-2008 e até meados de 2010 foram os eternos 3º e 4º do mundo (a ordem variava). Em alguns torneios, conseguiam incomodar Federer OU Nadal, subiam à vice-liderança e depois voltavam à posição que lhes cabia. Para pôr fim a isso, o sérvio precisou atingir um nível absurdo E contar com ele por alguns meses. Assim, passou a incomodar Federer E Nadal. Acredito que o britânico tem condições de chegar a esse nível – em alguns jogos, mesmo em 2008 ou 2009, até já mostrou para quem não acredita. Os principais problemas passam a ser: manter o jogo elevado por alguns meses E incomodar não só Federer E Nadal, mas, agora, Federer E Nadal E Djokovic. A outra opção, que Djokovic também tinha, seria continuar jogando o jogo, satisfeito como 3º ou 4º da ATP, esperando Federer E Nadal sentirem uma lesão, entrarem em decadência, ficarem velhos, etc.

Procurando
Voltando ao ano de Murray, Miami rendeu bons números, já que ele tinha caído na estreia em 2011. Fora de quadra passou por Raonic e Nadal. Em quadra teve sonolentas e erráticas vitórias contra Simon e Tipsarevic, um 1º set totalmente dominado por Djokovic e um 2º resistente, sofrendo mais com o serviço do que o sérvio, mas forçando o tie-break.

Na reta
- Ferrer: Sem golpes acima da média e aos 30 anos, o espanhol consegue manter atuações que sempre exigem muito do adversário. Em 6 torneios, já são 3 títulos (ATP 500 de Acapulco e ATPs 250 de Auckland e Buenos Aires) e derrotas para Djokovic (2 vezes) e Istomin. Se não bateu jogadores de melhor ranking que o seu, o 5º do mundo vacilou pouco diante de tenistas “menos badalados” na gira latino-americana e em Miami. O tal aproveitar as chances, uma chave aberta, fraca...

- Del Potro: Todos esperavam que o argentino voltasse, aos poucos, aos bons momentos de sua 1ª carreira. Depois de um ano quase completo, o ex-número 4 voltou. Em 2012, tem o título do ATP 250 de Marselha, parou 4 vezes em Federer, 1 em Ferrer e 1 em Baghdatis. Somou, porém, 3 vitórias contra tenistas de ranking superior (Tsonga – 2 vezes – e Berdych). Interessante listar que, na 2ª carreira, Del Potro tem 0-5 contra Federer (todas em quadra dura), 0-3 contra Nadal (dura, saibro e grama) e 1-1 contra Djokovic (vitória na desistência do sérvio na Davis).

- Raonic: Assim como em 2011, o montenegrino-canadense faturou o ATP 250 de San Jose e na semana seguinte foi vice do ATP 500 de Memphis (nos 2 torneios, derrotou os números 89, 35, 94, 61, 70, 68, 51 e 284. O tal aproveitar as chances, uma chave aberta, fraca...). Em janeiro, havia vencido o ATP 250 de Chennai, onde derrotou os então top 10 Almagro e Tipsarevic. Se o jovem de 21 anos já tem 3 títulos na carreira, as lesões não permitiram uma temporada europeia inteira no saibro ou resultados expressivos nos torneios maiores. Em 2011, na terra batida, chegou a derrotar os então top 30 Simon, Llodra e Gulbis, mas depois amargou as estreias dos M1000 de Madri e Roma e RG. Afastado por 3 meses pós Wimbledon, ficou de fora do US Open e quando voltou venceu 5 de 10 jogos. Em 5 chaves principais de GS (talvez muito para sua idade), Raonic passou da 3ª rodada uma vez (talvez pouco pela expectativa que gera no público ao vencer torneios menores). Em 11 chaves de M1000, tem como melhor resultado as oitavas, uma única vez. Curiosamente, na lentidão de Monte Carlo, condição que (teoricamente) não combina com seu jogo.

Depois da curva
E o que esperar do top 4 no saibro pré-RG? Djokovic e Nadal à frente, Federer um pouco por fora e Murray um pouco mais por fora? Os dois primeiros dispensam comentários depois de 2011. Não dá pra esperar que repitam todos os resultados e confrontos que marcaram o ano, mas ainda parecem as apostas mais seguras depois de IW e Miami (lesão à parte). Federer depende de não deixar o melhor reservado apenas pra RG, pensando não só na adaptação ao saibro, mas também em somar pontos. Murray, que ficou de fevereiro a maio sem finais em 2011, tem uma boa oportunidade de embalar depois da boa (e sortuda) campanha de Miami. Se com 2 derrotas em estreias nos EUA em 2011 o britânico foi para os Masters europeus e fez 2 semis e 1 oitavas, chegando com um pouco mais de confiança dá pra pensar mais alto.

Últimas divagações: Djokovic ganhou tudo até RG, e ainda assim quem defende mais pontos antes do GS francês é Nadal. Seguem os pontos do top 4, desconsiderando-se RG.

Nadal: 2700 pontos
Djokovic: 2250 pontos
Murray: 810 pontos
Federer: 630 pontos

Quem mais tem a lucrar, pré-RG, é o suíço, claro. Na prática, uma boa oportunidade de tirar os atuais exatos 900 pontos de diferença para Nadal e a chance de ser o segundo cabeça-de-chave em RG. A possibilidade de enfrentar Nadal ou Djokovic somente na decisão – não que Federer dependa do sorteio para se dar bem em Paris ou que Murray não mereça respeito – deve agradar.

Ainda sobre Federer, o retorno à liderança do ranking parece distante em grande parte pelos resultados em GS. Ironicamente, o que sempre foi o ponto alto de suas temporadas. Nos últimos 8 GS, apenas uma final – chegar pelo menos nas quartas-de-final não é suficiente, para os padrões Federer ou para ser número 1.

Caixa de brita
Indagações deveras intrigantes?
- Se a maioria dos torneios mede a velocidade dos serviços e winners em milhas/hora, por que mostram a distância percorrida pelos tenistas nos pontos em metros, e não em milhas?

- Quanto aquele cara que fica ao lado do gol no campeonato paulista paga pra assistir à partida dali? É promoção de patrocinador?

- Pra onde foi a turma do Twitter que começou o ano contando “Page 1 of 366”? Depois de 31 + 29 ficou difícil somar?

Me ajudem aí a responder. Obrigado.