5 de dezembro de 2014

Entre recordes e feridos


- O Brasil é o país do futebol.

- Bem como é o país em que um recorde mundial é “descoberto” sem que ao menos se saiba que uma competição está em curso.

- E tal recorde será supervalorizado ou relativizado de acordo com o agendamento futebolístico, retorno jornalístico-financeiro do feito, vontade de editorias, entre outros fatores.

Foi em busca de uma intersecção entre as três frases acima que há cerca de dois anos iniciei pesquisas e entrevistas que 10 meses depois viraram um trabalho de conclusão de curso. Causas, explicações e soluções (?) para a encruzilhada-tostines (não relatam/transmitem porque não dá audiência ou não forma-se uma audiência porque não relatam/transmitem?) foram o pontapé inicial (porque “largada”, “primeiro saque” ou “cumprimento inicial” não serviriam como referenciais...).

Sem narradores, comentaristas, editores, assessores, programadores, dirigentes, patrocinadores. No centro de tudo, quem vive (ou tenta) viver do e para o esporte. E que por vezes é mais reconhecido internacionalmente do que dentro do próprio país. Reconhecido até mesmo no sentido literal, de ser abordado em locais públicos por fãs, admiradores e apaixonados por esporte, não por um esporte ou por ganhar, como ouvi de uma atleta.

Em meio ao processo, uma brasileira foi eleita a melhor jogadora de handebol do mundo! Alguns dos que estiverem lendo vão lembrar seu nome. Alguns. Anexo ao título, além da falaciosa esperança/vontade(?) de popularização/massificação da modalidade, a atleta recebeu a honra de se tornar a “Neymar do handebol”. E segue o jogo.

Hoje os 15 minutos de fama pertencem a Gabriel Medina. O agendamento futebolístico caiu como uma luva (de goleiro) e na próxima semana brotarão especialistas em surfe nas editorias e nas redes sociais. Por sorte (ou competência? No esporte brasileiro é difícil identificar cada parcela de responsabilidade pelo sucesso improvável impossível) estará em todos os meios enquanto for conveniente, na crista da onda (forte abraço à criatividade e à zégracice) e poderá até se tornar... o Neymar do surfe! E segue o jogo em todo país.

Um país em que a maior surpresa não é o registro de um recorde-natimorto, mas a tomada de conhecimento de que um atleta estava em condições de brigar pelo mesmo, sabe-se lá de onde veio, como chegou e porque(!) ainda segue no jogo. De futebol, é claro.

Depois da curva
- A quem se interessar, o sofrido resultado final. Copa do Mundo de 2014 à parte, pela questão temporal do trabalho, finalizado em novembro de 2013, a realidade ainda é a mesma.


- A quem se interessar, mas não por 37 minutos, não se interesse.

- A quem quiser bancar a banca com curiosidades/questionamentos sobre o processo, escolhas, entrevistas, pesquisa, dados estatísticos de jornal e TV, (falta de) edição, etc, pergunte aí em algum lugar.

- Aos 5 atletas/ex-atletas que dedicaram (muito) do seu tempo para um singelo TCC, gratidão eterna. Nem mesmo em uma editoria de esporte teria a oportunidade de perguntar tudo que quis ou sequer entrevistar tais nomes (invisíveis) em menos de 5 meses.

- Aos 18 atletas/ex-atletas que não quiseram falar, forte abraço também. Segue o jogo.