10 de março de 2013

Froome, Sky e companhia mandam o recado de olho nos Grand Tours


Semana movimentada no ciclismo de estrada. Nomes que vão duelar pelos Grand Tours estão na encharcada Tirreno-Adriático e outros fugiram das escaladas na Paris-Nice. Enquanto a prova italiana será decidida em um time trial na terça-feira, a corrida francesa teve este mesmo tipo de etapa neste domingo e o vencedor também levou o título geral.

Choveu um pouco na Itália nas primeiras etapas

Richie Porte, da Sky Procycling, chegou ao último dia com vantagem de 32s sobre o vice-líder, o estadunidense Andrew Talansky, e ainda colocou 22s de frente no contrarrelógio, tornando-se o primeiro australiano a conquistar a Paris-Nice. O francês Sylvain Chavanel foi quem teve o maior prejuízo no dia, caindo da 3ª para a 5ª colocação e deixando o pódio para o compatriota Jean-Christophe Peraud. A camiseta verde serviu de consolação para Chavanel. A prova ainda teve nomes como Andreas Kloden, Denis Menchov, Nicolas Roche, Philippe Gilbert e Ivan Basso.

Os coloridos campeões em Nice
Mas interessante mesmo está a Tirreno-Adriático (e seria mais interessante se tivesse um site decente), mesmo que sejam só 7 dias de disputa. Segundo embate do ano entre os espanhóis Alberto Contador e Joaquin Rodriguez, o britânico Christopher Froome, o australiano Cadel Evans, o italiano Vincenzo Nibali, o estadunidense Christopher Horner, entre outros.

E se a Sky comemorou o título na França, na Itália assumiu a liderança neste domingo com Froome, que leva 20s de vantagem para Contador e Nibali. Como a segunda-feira não terá montanhas, a decisão fica para o time trial de terça. Vice-campeão do Tour de France em 2012, Froome venceu o Tour de Omã, há um mês, batendo os mesmos adversários (Contador, Evans, Rodriguez, Nibali, Rinaldo Nocentini, etc).

O ataque decisivo de Joaquin Rodriguez neste domingo
A vitória neste domingo foi de “Purito” Rodriguez, que colocou 8s em Froome, Contador e Horner com um ataque a menos de 2 km para o fim da etapa. A liderança do britânico veio como consequência de seu contraataque no sábado, em grande resposta a Contador no quilômetro final. Poderia ter colocado até mais vantagem se não controlasse as ações tão tardiamente. Os 9,2 km de terreno praticamente plano de terça-feira prometem.

No alto da montanha
A Sky aparece tão forte que foi até curioso ver Porte respondendo a perguntas sobre suas pretensões para o Tour de France após o título em Nice. Ele, é claro, citou que a equipe tem Froome e Bradley Wiggins, atual campeão, e está pensando mais no Giro D’Italia. O Grand Tour italiano começa em 54 dias, enquanto faltam mais de 100 para o 100º Tour de France. Se fosse um quase-esporte, diriam que o professor está com aquele problema bom com a dificuldade para escalar o time...

Froome, líder na Itália, possível grande nome no Tour de France
Desde que a rota francesa foi divulgada, com percurso duro para “comemorar” a centésima edição, há a especulação de que Wiggins não tentará defender o título e irá focar no Giro. A escalação oficial das equipes ainda não foi divulgada e também deve envolver questões com patrocinadores, mas não duvido disso. Oficialmente, os 21 dias da edição 2012 tinham 9 etapas planas, 4 de montanhas médias e 5 mais íngremes (2 com chegada em montanha). 2013 terá 7 no plano, 5 montanhosas e 6 mais inclinadas (4 terminando em montanha).

Obviamente ganhar provas de etapas curtas não é o mesmo que faturar um Grand Tour, mas o começo de ano de Froome é notável. Além do vice em 2012 na França, o britânico foi vice na Vuelta a España em 2011 e 4º colocado em 2012. Um pouco de bagagem importante. E a equipe é mais importante ainda. Nos dois dias com montanhas, Froome sempre esteve com pelo menos 2 companheiros de equipe cortando o vento e forçando o ritmo do pelotão. Entre seus rivais, Contador teve o tcheco Roman Kreuziger um pouco ao seu lado e o resto tem se virado como pode, cada um por si. Froome pode ficar sem o título terça, em uma etapa exclusivamente individual, mas a equipe mostrou muita força. 

Caixa de brita
- Evans aguentou muito pouco o forte ritmo da Sky nas escaladas de sábado e domingo.
- No terceiro dia que acompanhei a transmissão da RAI, ouvi o nome de Andy Schleck a primeira vez hoje. Resta tempo até o Tour, mas a volta às provas depois de muito tempo lesionado ainda está apagada.
- Michal Kwiatkowski, 23 anos. O leste europeu dá as caras mais uma vez. 4º colocado, 24s atrás do líder. Olho no polonês da Omega Pharma-Quick Step nos próximos anos.

Derrapada
Citei acima o site oficial das provas e o da Tirreno-Adriático é sofrível. Escrevo mais de 2 horas depois da etapa de domingo e ainda não há relatos sobre a mesma, sem contar a dificuldade de encontrar informações.

Por outro lado, a Paris-Nice “se apropria” do site oficial do Tour de France no período em que é disputada. Outras provas fazem o mesmo e, ainda que não tenham tanta importância, ganham visibilidade ao contar com o importante apêndice da internet para o público acompanhar a prova. Não sei como funciona para o letour.fr hospedar temporariamente outras provas, mas chuto que possa ter relação com o fraco Le Crédit Lyonnais.

Ah, Itália...








... e um pouco da França





Entre passeios e surpresas, playoffs se aproximam com a mesma cara de sempre


Rodada com alguns resultados inesperados no NBB5. Palmeiras ganhou de Franca e somou a 3ª vitória seguida, Paulistano bateu São José e, fora de casa, Bauru marcou a 3ª derrota do Flamengo em 27 jogos. Com praticamente 80% da fase de classificação disputada, os playoffs começam a ganhar forma e é hora da última arrancada pra tentar uma vaga e entrar embalado na fase eliminatória.

Paulistano encerrou série de 6 vitórias de São José
Vi Pinheiros X Mogi das Cruzes e o domínio dos mandantes foi tão grande que nem há muito a escrever. À equipe da capital, a segunda vitória nos últimos cinco jogos, uma oscilação que pode custar a vaga no G4 depois de derrotas para Minas, Limeira e São José. Mogi é muito dependente do Babby e quando marcaram a 3ª falta do pivô ainda no 1º quarto deu pra ver que o time, que luta por vaga nos playoffs, ofereceria pouca resistência. Pra completar, o banco só tinha 4 reservas. 36 pontos de frente para o Pinheiros (e só não foi mais porque a arbitragem evitou estourar o Babby em faltas e compensou em vários momentos), que ainda sofre pra ter o elenco completo – Morro está fora – e dá uma pausa no NBB para disputar a Liga das Américas entre sexta e domingo, assim como o Flamengo.

Nos outros jogos, Bauru e Palmeiras estão em um nível parecido de surpresa. A forte equipe do interior contou com 21 pontos de Gui Deodato e 20 pontos e 6 rebotes de Ricardo Fischer para surpreender o líder Flamengo no Rio de Janeiro. Um número interessante foi o de assistências: 17 a 9 para Bauru. Mostra um pouco de como os cariocas têm jogado.

Depois de um 1º turno vergonhoso, o Palmeiras parece outro time e venceu a 6ª em 9 jogos no 2º turno. Vindo de um jogo decidido após 4(!!!!) prorrogações contra Uberlândia, a vítima da vez foi o então top 4 Franca, com 18 pontos e 13 rebotes de Tiagão. O pivô parece a alma da equipe e sua intensidade sempre conquistou a torcida dos times que defendeu. Há duas semanas, contra Mogi, a comemoração de todo o elenco com o triunfo na prorrogação pareceu final de campeonato – de certa forma era, diante de um time “ganhável” para se distanciar do rebaixamento. E a cena do Tiagão em quadra, pulando e gritando o hino do clube que o revelou, merecia que eu subisse o vídeo tosco que fiz. Poupá-los-ei.

Cada vez mais, o Paulistano se firma como um time que em um dia pode derrotar um top 4 e n’outro ressuscitar alguém nas últimas posições – e nos playoffs não é fácil ter 3 dias como o primeiro. Nem mesmo o double-double de Jefferson (20P + 10R) e a costumeira boa atuação de Fúlvio (13P + 8R + 8A) foram suficientes para o São José, que se distancia do G4.

De resto, as vitórias de Brasília (sem Alex), Uberlândia e Liga Sorocabana contra times que provavelmente não estarão nos playoffs – Joinville, Suzano e Tijuca – confirmaram a lógica. Os catarinenses ainda têm chances, mas a equipe paulista e a carioca estão cada rodada mais próximos da “repescagem” para o rebaixamento. Completando o sábado, o Basquete Cearense, sensação do 1º turno, segue em queda livre e perdeu para Limeira. Com 2 vitórias e 7 derrotas no 2º turno, os nordestinos estão no limite para a vaga nos playoffs.

Depois da curva
Classificação mais visualizável no site da LNB
A rodada de quinta-feira tem 3 jogos envolvendo os times entre a 6ª e a 11ª colocação. Franca X Paulistano, São José X Minas e Liga Sorocabana X Limeira. Interessante. E se o Palmeiras superar Brasília no Distrito Federal já pode interditar o clube para encerrar as atividades e sair por cima.

Vitórias contra Uberlândia e Franca praticamente
garantiram o Palmeiras na "série A"
No geral, Flamengo e Brasília não devem deixar as 2 primeiras posições. E alguém vai impedir a final entre os dois maiores elencos do NBB? A briga pela condição de entrar nos playoffs apenas nas quartas de final deve ser boa e muito importante para o Pinheiros, que ainda precisa de físico para a Liga das Américas. A tabela, porém, não é favorável, tendo que visitar Franca, receber o Flamengo no encerramento do turno e viajar a Bauru na antepenúltima rodada, em jogo que pode ser decisivo para o G4. Os compromissos de Uberlândia também não são dos mais fáceis. Franca, que tem muitos confrontos diretos pela frente, e São José ainda podem incomodar.

No bloco intermediário, Paulistano e Minas devem confirmar a classificação sem problemas e brigar pelo mando de quadra nas oitavas de final. Os dois times desafiarão Brasília, Uberlândia, Bauru e Franca. Os paulistas ainda recebem o Flamengo e os mineiros visitam São José. Previsões impossíveis para as sequências diante da inconstância de ambas as partes. E para o Paulistano vale tentar apagar a varrida que tomou de Franca na temporada passada, somando duas derrotas feias em casa nas oitavas de final.

No grupo que briga pelos playoffs, a tabela mais favorável é da Liga Sorocabana. Mogi deve sofrer nas últimas cinco rodadas contra SJO, UBE, FRA, BRA e CEA. Joinville pode aproveitar os jogos contra Tijuca e Suzano e tem os duelos diretos com Liga Sorocabana e Limeira. Com os rivais que ainda tem pela frente, Vila Velha deve pensar mais em não cair do que em classificação, enquanto o Palmeiras pode sonhar. Na atual sequência, não custa nada. Mas a equipe alviverde precisa de, pelo menos, 4 vitórias em 8 jogos, sendo que muito provavelmente não terá resultados positivos contra Flamengo, Brasília e Bauru. O time deve pagar pelo 1º turno horrível e se contentar em permanecer na “elite” com a boa segunda metade de torneio. Suzano e Tijuca? Não vai estar rolando.

Fotos: Ale da Costa/Divulgação e Fábio Menotti/Divulgação.

7 de março de 2013

Deixa estar, que eu... eu sigo em frente

Comentar mortes é algo impossível de ser feito. Se elogiar, dirão: “só fala bem porque o cara morreu”. Se criticar, rebaterão: “agora que o cara morreu é fácil meter o pau”. Não há como escapar. E se não falar nada, questionarão: “pô, o cara morreu e você não vai escrever nada?”. Críticos de música devem entender (difícil acreditar que escrevi a frase “críticos de música devem entender”). Portanto, fim do post.

O que segue são só lembranças. Lembranças da dita “melhor fase da vida” fora da curva do gosto popular interiorano. De ver a irmã, sete anos mais velha, encarar a TV sem piscar por alguns minutos enquanto anunciavam a morte de Renato Russo. De perceber uma sensação estranha nos pais depois de um domingo em família ao chegar em casa e ver homenagens a Tim Maia na TV. De não entender, alguns anos depois, às vésperas do reveiom, porque ninguém em casa teve reação semelhante quando soube de Cássia Eller.

Hoje eu entendo. Que cada geração tem seus ícones (seja músico, ator, atleta, brasileiro, estrangeiro, etc). Que, acima de uma geração, cada pessoa tem os seus ícones. Ou ao menos alguém que admira, gosta ou, quem sabe, apenas respeita. Que essa pessoa pode sentir mais a morte de um saxofonista de uma banda obscura que outras 20 pessoas conhecem do que o desfecho hollywoodiano da vida de Michael Jackson. E que eu sinto muito por aqueles que nunca vão ter essa sensação.


Vivendo nesse absurdo
Não me considero um fã de Charlie Brown Jr. A primeira condição que criei para ser fã de banda/cantor é comprar CDs originais (sim, eu compro CDs. Poucos, mas compro). Acho o mínimo que se pode fazer em questão de reconhecimento a um ídolo na música. Não tenho nenhum original. Não tenho todos “alternativos”, mas enchem uma mão. Em janeiro nostalgiei com uns três deles. Os “rascunhos” no lado que fica em contato com o leitor, criados há quase uma década, ainda estão lá e continuam funcionando, no mesmo rádio.

Nunca fui a um show. Não comprei camiseta. Não escrevi trechos de música em cadernos. Mas ouvia. Via. Gostava. Depois de um tempo falaram que não podia mais, que tinha acabado – ou que merecia ter acabado.

Não vou apelar para o clichê do “eu quero que se foda essa porra de sociedade”. Cada um fala o que quer e ouve o que quer. Realmente. Já me convenci de que o melhor gosto musical é o de cada um. E talvez isso se estenda a outros gostos (como por filmes, esportes, roupas, etc). Se parei de ouvir foi porque quis.

Chorão não foi gênio. Pelo que relatam, foi genioso. Entre brigas e discussões públicas, dentro ou fora da banda, parecia ter suas convicções e tentava defendê-las. Como compositor, fez a maioria das letras do Charlie Brown. Desde clichês e frases feitas a revoltas, ironias, drogas, Deus, amor, vida. Prato cheio para os “protestos” que toda rebeldia juvenil quer. Pra escrever no caderno. Ou pra pensar. Ou só pra ouvir, porque, no fundo, era o que muito jovem queria que alguém falasse. E bastava.

A vida cobra muito sério, você não vai fugir. Não pode se esconder e não deve se iludir.
Se for fazer uma coisa, então faça com vontade. Seja você, não fure os olhos da verdade.
O que eu não gosto eu me livro e digo não.
Você não pode se fechar para o mundo com medo de se machucar. Senão você se machuca por não viver.
Você devia dar uma importância maior pras coisas corriqueiras da vida. Você devia dar uma importância maior pro que realmente tem valor na sua vida.
Que mundo é esse que ninguém entende um sonho? Que mundo é esse que ninguém sabe mais amar?
A vida corre pelas ruas numa busca sem sentido enquanto o mundo está em guerra por paz.
Eu não sei fazer poesia, mas que se foda. Eu odeio gente chique e eu não uso sapato, mas que se foda.
Eu vou vencer assim mesmo, eu já nem lembro de você.
Não vem me rotular, você também nem é ninguém.
Um dia você vai descobrir que o esquema é só pra te roubar e mesmo você sendo contra eles vão te recrutar. Te raspar a cabeça inteira, vão te uniformizar, te dar uma arma e licença pra matar.
As flores são bonitas em qualquer lugar do mundo, muita gente tem forma, mas não tem conteúdo.
Só o que é bom dura tempo bastante pra se tornar inesquecível.
Eu sei que eu já fiz muita coisa errada, mas o fato de eu ser maluco não quer dizer que eu não dei valor pras coisas e nem pra você.
Livre pra poder sorrir, livre pra poder buscar o meu lugar ao sol.
Eu não preciso de promessas e acho que você também. Eu não tento ser perfeito e acho que você também.
Nossas vidas, nossos sonhos têm o mesmo valor, eu vou com você pra onde você for.

Hoje eu só procuro a minha paz
Mas Chorão marcou uma época. A quantidade de depoimentos espalhados pela internet nesta quarta-feira provou isso. Gente famosa que teve contato com o cantor e que, acredito, não estava apenas a fim de exposição. Gente não-famosa que nem gostava mais da banda, mas lembrou o quanto ouvira há alguns anos. Músicos mais velhos falando sobre os anos 1990 e 2000. Músicos mais novos falando como fãs. Não-músicos falando que gostam e os filhos adoram. Sim, agora todo mundo adora...

Toda morte de pessoa pública chama atenção. Morte antes da hora necessariamente chama mais atenção. E gera comoção. Só no final de um dia estranho percebi: da “minha” geração, de quem gosto ou gostei na adolescência, Chorão foi o primeiro a ir. Vamos viver nossos sonhos, temos tão pouco tempo. Não resisti.


Os neurônios batendo em retirada, vivendo nosso momento irracional como se fosse tudo normal
Logo surgem as teorias de que tudo que Chorão atravessava estava nas suas letras. “Minha vida é tipo um filme de Spike Lee, verdadeiro, complicado, mal-humorado e violento” e por aí vai. Como se a criação artística obrigatoriamente fosse um reflexo da realidade.

Já ouvi de algumas pessoas que Kurt Cobain foi o último roqueiro da história. Depois de ler a excelente biografia do ex-líder do Nirvana, é difícil defender o contrário, pensando no sentido mais amplo (ou completo) da palavra roqueiro. E Chorão foi o último roqueiro brasileiro? Ou o cargo já estava ocupado antes de ele existir? Ou os roqueiros continuam aí?

4 de março de 2013

Boa noite, meus amigos. Boa noite, vizinhança

Teve fim no último sábado o torneio de Acapulco como tradicional ponto alto que fechava a gira latino-americana de saibro. Depois de muitos anos, o ATP 500 se despede sem dizer adeus jamais e a partir de 2014 troca a terra batida pela quadra dura, assim como era antes deste que digita ter nascido.

O torneio do México se desintegra do saibro da América do Sul e passa a encerrar a sequência dos ATPs 250 de Memphis e Delray Beach. Na mesma semana, fará “concorrência” ao Brasil Open, que fecha o saibro de Viña del Mar-Buenos Aires-Rio de Janeiro. E o que restou da última gira Chile-Brasil-Argentina-México? Para os brasileiros, pouca coisa.


A gira-2013 foi uma das menos aproveitadas pelos brasileiros. Ou nem isso, já que alguns nem tentaram aproveitar.  Thomaz Bellucci, campeão em Santiago em 2010, nem foi a Viña del Mar. O que é compreensível com o torneio grudado na Copa Davis e compensando ao jogar na Argentina. Porém, uma vitória e três derrotas – para 88º, 166º e 73º do mundo –, além de um saldo muito aquém do esperado/desejado, mostraram que o paulista está em um mundo à parte.

E outro mundo à parte é o de tenistas entre os 100 e 200 do mundo. Nessa faixa, atletas e técnicos por vezes optam por torneios menores, geralmente justificados pelos fatores distância, dinheiro e piso, e, nos últimos anos, se apoiaram no inchado calendário de Challengers no Brasil – e também em países vizinhos. Não imagino que seja das decisões mais fáceis para o atleta tomar. Muitos dizem que jogando Challengers conseguem apenas se bancar – com pouco lucro – e se estivesse nessa situação realmente pensaria muito antes de montar o calendário.

Mas não sou tenista. E nem monto calendários (se alguma proposta compensar, posso estudar...). Explicações à parte, o quadro muda ao pensar nos 4 torneios do circuito mais próximos do Brasil e no piso preferido da maioria dos brasileiros. Contas rápidas: financeiramente, passar uma rodada do quali de Acapulco praticamente equivaleria às quartas do Challenger de Salinas. Furar o quali renderia 64% a mais do que o título no Equador. A chave do quali não teve nada de extraordinário em relação à maioria dos Challengers que os brasileiros disputam durante o ano. Deixo de lado a questão de ter a oportunidade, eventualmente, de medir forças com nomes como Rafael Nadal, David Ferrer, Nicolas Almagro ou Stanislas Wawrinka, mas lembro que o próximo torneio “perto”, “barato” e no “melhor” piso para os brasileiros será daqui 11 meses (aspas = relatividade).

Pois o país atualmente tem Rogério Dutra Silva, João Souza e Thiago Alves entre 100 e 150 da ATP. Alves não está entre os maiores fãs de saibro. Assim como Bellucci, estava na Copa Davis nos EUA e “pulou” Viña del Mar. Jogou o qualifying em São Paulo, teve uma semana sem torneios e... voltou aos EUA para o ATP 250 de Delray Beach! Se as escalas/conexões podem fazer Acapulco ficar mais longe do que os EUA (para os brasileiros) e o piso é favorável, ele fez a escolha. Não conseguiu passar da 1ª rodada, mas deve seguir no país e tentar qualifyings maiores, dos Masters 1000 de Indian Wells e Miami.

Com Rogerinho e Feijão, difícil entender a decisão de não tentar Acapulco, onde seriam cabeças de chave no quali, e jogar em Salinas – aquelas 3 justificativas praticamente se equivalem ao comparar os dois torneios. Acapulco é mais longe, claro. Mas entrar em um quali de ATP 500 como cabeça e tendo muito mais dinheiro a ganhar do que no Equador estaria no outro prato da balança (balanças de pratos estão em desuso, exceto por provas de física no vestibular, mas alguém deve saber como são...). Os outros ATPs 500 no saibro no circuito são Barcelona e Hamburgo. Mais perto? Mais fácil de bancar? Mais tranquilo de furar o quali?

 Na gira, Rogerinho caiu na estreia no Chile e na 2ª rodada do quali em SP e BsAs. Talvez os resultados tenham colaborado para não ir ao México... ou não. Feijão parou na 1ª rodada do quali e depois teve uma boa semana em São Paulo, furando o quali e avançando uma rodada para duelar com Nadal. Na semana seguinte, estranhamente sem Challengers no mundo todo, não disputou BsAs e encerrou com semi em Salinas.

Em um patamar completamente diferente, o top 20 de duplas Bruno Soares saiu do título em SP para as quadras duras do ATP 500 de Memphis e imediatamente retornou ao saibro em Acapulco. Imagino que a escolha passou por cima de premiação e piso e se deu mais por buscar um torneio maior e alguns pontos. Como tem 4 títulos e 1 vice de ATP 250 entre seus resultados, dificilmente somaria algo se jogasse BsAs. Independente do ranking, todos convivem com escolhas. Acertadas? Equivocadas? Complicadas.

Na reta
Diz o clichê que a sorte aparece para quem trabalha. As últimas semanas tiveram alguns agraciados e o maior deles talvez tenha sido o argentino Martin Alund – que fez a gira completa. Aos 27 anos, sem ao menos um título de Challenger no currículo, jogou o primeiro ATP da carreira em Viña del Mar. Caiu na estreia. Em SP, perdeu no tie-break decisivo do qualifying, entrou na chave como lucky loser, venceu 3 rodadas – uma delas em um jogo que não queria terminar contra o francês Jeremy Chardy, top 30 – e parou na semi diante de Nadal. Ganhou a vaga na chave de BsAs e até teve sorte ao estrear contra um qualifier, mas não passou da estreia. Fechou a gira em Acapulco, onde ganhou duas partidas normais no quali e pegou um convidado local 429º do mundo na chave principal! Encontrou Nadal novamente pelo caminho e saiu com um “pneu” na 2ª rodada. Saiu, mas, pra sair, primeiro tinha que estar lá, diria o poeta. E aproveitar as chances que apareceram pra figurar no top 100 pela 1ª vez e ganhar mais de 20 posições em 1 mês.

Menção honrosa: Daniel Brands. O alemão joga muitos Challengers e vez ou outra passa um quali de ATP. Nesta semana aproveitou as chances. Duas vitórias no quali do ATP 500 de Dubai, estreia na chave principal contra outro qualifier(!) e segunda rodada contra o russo Mikhail Youzhny. Daquelas pra entrar sem responsabilidade, nada a perder. Duplo 6/4. Parou nas quartas diante do argentino Juan Martin Del Potro. Além de Dubai, Brands disputou Doha, Australian Open e Roterdã em 2013. Em todos os torneios furou o quali. Foi semifinalista no Qatar e fez 2ª rodada na Austrália. Em 2 meses, ganhou 79 posições e está perto dos 70 do mundo.

Menção honrosa que não deveria ser feita por motivo de relaxo: Ernests Gulbis. O cara que não precisa pensar em um dos fatore$ para montar seu calendário é 0% confiável. O letão pode perder para o 500º do mundo e ficar um ano sem vencer mais de 2 jogos seguidos, como o fez entre agosto de 2011 e de 2012, ou incomodar muita gente no circuito. E nas últimas semanas incomodou. Entre as oitavas de Roterdã – onde precisou passar o quali –, Marselha e o título em Delray Beach (mais 3 jogos no quali), ganhou de Tommy Haas (18), Sam Querrey (21), Robin Haase (50), tirou set de Tomas Berdych (6) e endureceu contra Del Potro (7). Será que agora vai?


Haveremos de nos reunirmos muitas vezes mais
Viña del Mar, Buenos Aires, Rio de Janeiro (500) e São Paulo. O que esperar da nova gira no saibro sul-americano? A princípio, o torneio carioca deve ser o mais favorecido, em oposição ao paulista. Não dá pra imaginar muitas mudanças nas listas de inscritos no Chile e na Argentina.

Também no continente americano, a partir da semana de BsAs, teremos Memphis, Delray Beach e Acapulco (500) em quadra dura. Ainda que concorra com o rico ATP 500 de Dubai, o torneio mexicano agora pode atrair quem quiser antecipar a viagem para os Masters de Indian Wells e Miami sem sofrer com a mudança de piso.

Depois de uma exceção como Nadal, São Paulo deve voltar a receber somente quem faz a vida na terra batida, assim como sempre foi. Por sorte – e dinheiro – dá pra pegar carona e arrastar alguém que tiver passado pelo Rio na semana anterior. Se o top 10 não tiver mudanças “drásticas” em um ano, chuto que são grandes as chances de David Ferrer visitar o Brasil em 2014.

Fotos: Gaspar Nobrega/inovafoto e Google