2 de janeiro de 2012

A São Silvestre que só eu vi. E (sobre)vivi


Isto não é um diário.

Escreveu José Roberto Torero, um ou dois anos atrás, que “a primeira São Silvestre a gente quer esquecer”. Fisicamente, não poderia concordar mais (um dia ainda chego a uma conclusão se é possível concordar um pouco, mais ou menos, muito, etc). A parte que concorda, o físico – a falta dele, mais precisamente – vai se lembrar do dilúvio disfarçado de corrida de rua de 31 de dezembro na capital paulista.


Não que só eu tenha visto o que vi. Ninguém esteve ao meu lado durante todo o percurso e, mesmo se estivesse, iria ver coisas diferentes. E escreveria em algum outro blog, é fácil criar um, até eu consegui. Logo, só eu escrevi o que só eu vi. Fantasiados não contam, porque a cobertura da mídia já se resume a eles durante 40 minutos e aos campeões nos 10 minutos seguintes. Isso todo mundo vê, todo ano. Para quem já fez os 15 quilômetros ou ficou “torcendo” em algum ponto do percurso, algum ano, provavelmente não há novidades aqui. Para os outros, talvez haja. Ou não. Como a página final de um livro “Onde está Wally?”, a minha lista está a seguir.
Estava ali na esquerda, entre o metrô e a banca
 - Gente comendo rapadura ou bebendo energético antes da largada. Devem ter efeitos parecidos.

- Gente que não sabia que depois da Paulista não iria descer a Consolação.

- Uma criança na Pacaembu torcendo: BRASIL, BRASIL, BRASIL.

- Gente gritando a cada 200 metros: VAI CURINTIA.

- Gente gritando a cada 200 metros: VAI TOLIMA.

- Uma esquina transformada em banheiro pelo sexo masculino (só vi banheiros químicos junto dos postos médicos e de água no site. Fisicamente, eles estavam só na largada e na chegada).

- O Bozo amarrando o tênis no meio da corrida.

- A Chiquinha atendendo o celular enquanto corria.

- Gente cantando: Ai, meu joelho, ai ai, meu joelho. Assim você me mata.

- Uma esquina da Norma Giannotti com mais policiamento que todo o resto do percurso. O local estava concentrado de faixas e torcedores da gaviões.

- Dois postos de hidratação, daqueles “chuveiros” de parques ou da Galeria Pagé.

- O tamanho da enxurrada que descia a Brigadeiro enquanto eu tentava, quase em vão, subir. A chuva foi um posto de hidratação presente do início ao fim.

Derrapada
- A São Silvestre é um festa. O clichê é provado pela quantidade de corredores, de público ao longo de TODO o percurso, pela tradição, pela data, etc. A mudança no percurso diminuiu a festa, mas não é com isso que estão preocupados.

- Justamente pela quantidade de corredores, a prova não é muito simpática aos que treinam, estão preparados e têm alguma meta de tempo (não é o meu caso). Os desavisados ficarão frustrados por não conseguirem imprimir o ritmo de corrida que almejam. É impossível. Durante os 15 quilômetros, cada um é mais um no meio da multidão, no ritmo que ela mandar, cercado pelos dois lados, na frente e atrás, sempre acompanhado. Àqueles menos preparados, isso pode ser bom. O incentivo que falta quando passam os metros e a única coisa que parece acabar é o fôlego.

Caixa de brita
Se a (principal) desculpa para a troca da Avenida Paulista pelo obelisco do Ibirapuera como ponto de chegada foi a impossibilidade de dispersar os participantes, é bom a organização arrumar outra para a próxima edição. O encontro de quase 50 mil (25 mil inscritos + quase o mesmo tanto de não-inscritos) com quase 2 milhões que comemoram o reveióm no cartão postal paulistano deveria mesmo ser caótico. Nunca vi. Mas, o que vi no obelisco também merece vir acompanhado de um “caótico”.

Ainda que a probabilidade de chuva em São Paulo, à tarde, nesta época, seja alta, não cabe à organização prevê-la. Cabe pensar que, se ela viesse, a grama da dispersão, pela qual todos tinham que passar para sair do Ibirapuera ou pegar água ou pegar medalha ou desmaiar depois da prova, viraria um rally. E virou. E não são poucas as áreas asfaltadas na região. Mesmo no seco, não seria muito fácil dispersar aqueles que concluíam a prova em um “corredor” de 2 metros de largura. Mas foi o que aconteceu, já que para chegar nos maiores “estacionamentos”, era o único caminho. A alternativa era escorregar no barranco até ser parado pelo para-brisa de algum carro na Avenida 23 de Maio...
Agora ficou fácil