6 de junho de 2020

Como o Brasil controlou a pandemia do novo coronavírus

Registro histórico para quando, eventualmente, as futuras gerações forem pesquisar como a covid-19 foi erradicada no Brasil, precisamente no dia 05 de junho de 2020.

Twitter do Ministério da Saúde, 31/03/2020 

Twitter do Ministério da Saúde, 14/04/2020

Twitter do Ministério da Saúde, 28/04/2020

Site covid.saude.gov.br, 28/04/2020

Twitter do Ministério da Saúde, 05/05/2020

Twitter do Ministério da Saúde, 12/05/2020

Site covid.saude.gov.br, 12/05/2020

Site covid.saude.gov.br, 19/05/2020

Ocultado do Twitter do Ministério da Saúde, 26/05/2020

Site covid.saude.gov.br, 26/05/2020

Ocultado do Twitter do Ministério da Saúde, 02/06/2020

Site covid.saude.gov.br, 02/06/2020

Ocultado do Twitter do Ministério da Saúde, 05/06/2020

Site covid.saude.gov.br, 05/06/2020



8 de março de 2016

Sharapova, doping e versões

Maria Sharapova é a mulher que mais fatura no esporte, seja exclusivamente com patrocínios ou na soma de patrocínios com os rendimentos como atleta. O levantamento numérico feito anualmente pela revista Forbes é um bom ponto de partida para imaginar o que geraria o anúncio feito pela russa nesta segunda-feira. Um doping no final de janeiro, para uma substância (meldonium) proibida pela Wada desde janeiro, da qual Sharapova faz uso desde 2006 e havia sido avisada de sua proibição pela agência em dezembro, de acordo com a tenista.

Como esperado, os teclados enlouqueceram subitamente. O imediatismo não poupa ninguém e, por vezes, o principal fica fora do resumo, como diz o poeta. Coletivas em Indian Wells serão um prato cheio. Sharapoxinhas e Sharapotralhas poderão chegar às vias de fato no domingo.

Fui dormir pensando como um atleta poderia tirar proveito de uma substância que estava disponível, legalmente, para todos os seus adversários. (Foi isso que aconteceu até 2015; Foi isso que li vindo de um especialista). Acordei com uma carreira jogada no lixo. Ou em dúvida. No título, entretanto, é recomendável que se jogue (no lixo, pra torcida, para cliques, etc).

Podemos (?) escolher em que versão acreditar, que fonte escolher ou não escolher nenhuma. A original foi transmitida ao vivo e está no Youtube, não parece algo secreto. “Sharapova é pega em exame antidoping: ‘Foi um grande erro’” não contém nenhuma informação errada. Mas... ah, deu pra entender.

O tapete era feio mesmo?
Hipóteses
1. “A versão de Sharapova é verídica”. Deixar de checar a lista da Wada é um erro imperdoável, ridículo, amador, etc. Não faz parte, porém, das obrigações de um atleta de ponta. Assumir a culpa no lugar de sua equipe (“family doctor”) foi, senão sincero, muito bem calculado por aqueles que cuidam da sua imagem. O apelo pode gerar punição de menos de um ano, como o tênis já teve recentemente.

2. “Sharapova soube, em algum ano entre 2005 e 2015, que meldonium melhorava o rendimento, continuou tomando e ninguém checou a lista”. Se o cidadão honesto está preocupado também em parecer honesto, o desonesto está ainda mais. Por isso, invariavelmente ficaria atento à lista divulgada anualmente pela Wada, para saber qual seria o limite de, ilegalmente, estar na legalidade. Presidentes de Casas em Brasília talvez saibam a respeito...

3. “Sharapova soube, em algum ano entre 2005 e 2015, que meldonium melhorava o rendimento e continuou tomando mesmo após checar a lista”. Nesse caso, a aposta seria a de que passaria ilesa por ter nome no esporte.

4. “Sharapova viu a lista e parou de tomar a substância em dezembro”. Na resposta da última pergunta na coletiva, a russa diz que continuou tomando, porque fazia bem para sua saúde. A quem duvidar da resposta, essa possibilidade depende do tempo que a substância demora para sair do organismo. Ainda que fosse o caso, ela estivesse seguindo as regras durante o Australian Open e só tenha optado por criar outra versão nesta segunda-feira, um aviso prévio à WTA/ITF/Wada explicando sua situação resolveria. A menos que achasse que nada aconteceria.

5. “Sharapova e sua equipe são profissionais do doping”. Seriam profissionais incompetentes, é claro. Primeiro, porque, voltando à hipótese 2, deveriam estar atentos a qualquer atualização da Wada. Segundo, foram pegos muito facilmente. Além disso, o doping gerou os efeitos desejados? Sharapova tem muitas conquistas no circuito, mas, na mesma época, fica longe dos 157 títulos de Grand Slam de Serena Williams, sofre 47 a 1 no H2H com a rival e suas passagens pela liderança do ranking foram mais rápidas que jogos de primeira rodada em GS.

Mais algumas?

Depois da curva
Se o anúncio de Sharapova foi inesperado, não menos surpreendente foi a notícia de que a Nike suspendeu o patrocínio até o final do julgamento do caso. A mesma empresa que fora uma das últimas a abandonar o barco no naufrágio de Lance Armstrong, em 2012, quando delações premiadas de ex-companheiros surgiam sucessivamente, como num contrarrelógio, e a Usada já indicava que não haveria sobreviventes.

A impressão era a de que, enquanto não houvesse uma confissão na Oprah, as investigações não procediam. Houve uma confissão de Sharapova, martelo batido. Ou neste caso a empresa, de fato, se sentiu traída e naquele era cúmplice e fez de tudo para que coubesse também no bote salva-vidas... Quem sabe? Quem soube?

Depois de outra curva
Interessante notar que Sharapova levou um papel para a coletiva e raramente o consultou. Pareceu um apoio para a transição de um assunto a outro e para que não deixasse algo passar. Quando começava uma explicação, não olhava para baixo para checar datas e nomes. Como na apresentação de seminários na universidade, ensaiou muito bem ou realmente tinha ciência do que estava falando.

1 de junho de 2015

O exército de um homem só, Alberto Contador, vence a primeira batalha na guerra pelo Giro-Tour

É tri?

Quando quiser defender que o ciclismo é um esporte individual, citar o Giro d’Italia 2015 é a primeira pedalada para ganhar a discussão. Apesar da Tinkoff-Saxo, o espanhol Alberto Contador conseguiu o feito de conquistar o bi (tri com doping) e o 7º Grand Tour (9º com doping) no último domingo.

A primeira parte da missão impossível foi concluída com sucesso e agora as atenções estão voltadas para o Tour de France, no início de julho. Enquanto Contador anunciava a despedida do Giro, o bilionário e fanfarrão Oleg Tinkov já instigava: “Se ele ganhar o Tour depois do Giro, acho que deveria ir para a Vuelta”.

O campeão e o fanfarrão

A questão principal não é duvidar do espanhol, mas pensar que enquanto ele estava ocupado ganhando um GT, seus principais concorrentes estavam se preparando exclusivamente para a prova francesa. O britânico Chris Froome (Sky), o colombiano Nairo Quintana (Movistar) e o italiano Vincenzo Nibali (Astana), principalmente, são os nomes que dividirão a atenção com Contador. A conferir.

Abaixo, o resumo da última semana do Giro e quais nomes saem em alta ou em baixa do primeiro GT do ano. Antes, a retrospectiva com a prévia parte 1, a prévia parte 2 e TTT, a primeira semana, a punição ao fair play e a segunda semana.

Classificação final

16ª etapa, 26 de maio (terça-feira) – 174km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
O melhor dia do Giro até então. Em resumo, o motivo pelo qual se acompanha um Grand Tour. O Passo del Mortirolo (11,8km a 10,9%) e a chegada em Aprica (14km a 3,5%) não deixaram mais dúvidas de que apenas um acidente (literalmente) tiraria o título de Contador.

Não por acaso, o troféu acompanhou a 16ª etapa

Passado o último dia de descanso, Porte abandonou, em uma decisão óbvia depois do passeio na chegada de Madonna di Campiglio. E a etapa foi a maximização do domingo: mais longa, com mais escaladas e mudanças na dianteira.

No pé do Mortirolo – a “Montagna Pantani’ de 2015 –, a Astana, em parceria com a Katusha, parecia ter colocado Contador em apuros, “se aproveitando” de um pneu furado para abrir cerca de 50s do líder restando 44km. Quase sem ninguém da Tinkoff-Saxo – como sempre –, o espanhol tratou de buscar um por um. E sozinho, o que fez da etapa diferente, sem a menor expressão de sofrimento. Algo, aliás, que Aru ainda não aprendeu no jogo de aparências tão explorado na Era Lance Armstrong.

"A cara" do Giro

Nos 2km iniciais a diferença caiu 10s. Nos 500m seguintes, que chegaram a 18%, brutais 13s. O grupo Aru-Landa-Steven Kruijswijk (Lotto NL-Jumbo), holandês que foi extraoficialmente lançado para o mundo nesse 26 de maio, já dava sinais de que não sustentaria a vantagem. E ainda faltavam 6km de subida e outros 14km para Aprica!

Acompanhado de Trofimov e Hesjedal, Contador já tinha a diferença no visual após 3,5km do pé do Mortirolo. Um assombro. Eis que o desastre ficou completo para Aru: ataque de Contador a 39,7km do fim, que só Landa teve pernas para acompanhar e que decidiu o Giro. O resto é história e está no vídeo.


Em 6km (de 44km para 38km), Contador mudou uma desvantagem de 50s para uma vantagem de mais de 1min sobre Aru. Uma quebrada épica no Mortirolo do 3º colocado de 2014 e líder entre os jovens. Com o aval da Astana, Landa foi liberado para “abandonar” o líder (da equipe), acompanhou o líder (do Giro) e, inesperadamente, venceu a segunda etapa seguida.

Hesjedal, bravo como sempre, fez de tudo em seu exército de um homem só particular, mas acabou em 6º no dia, atrás da dupla Trofimov/Amador. Coube ao canadense, porém, a melhor declaração pós-etapa. O campeão do Giro-2012 disse que a Tinkoff-Saxo “aniquilava eles mesmos”, justificando o “isolamento” de Contador porque a equipe russa se preocupava desnecessariamente com a fuga, assumia a ponta do pelotão no início das etapas e não conseguia ajudar o maglia rosa quando ele precisava, nas montanhas, é claro. A bronca de Hesjedal é porque não o deixavam ganhar uma etapa. Então a 11min de Contador, ele achava um absurdo a Tinkoff-Saxo se preocupar quando ele estava na fuga – inúmeras vezes!


Aru, por sua vez, analisou que poderia ter perdido uns 20 minutos. É difícil discordar do rapaz de 24 anos.

GC antes da 16ª etapa

Top 10 da 16ª etapa

GC após a 16ª etapa

18ª etapa, 28 de maio (quinta-feira) – 170km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Nada aconteceu na 17ª etapa. Como se ainda precisasse, Contador deu o golpe de misericórdia em um dia que nem terminava em subida. Em mais um ataque solitário, colocou 1min13s sobre os “concorrentes” – só Hesjedal (sempre ele!), do top 10, chegou ao seu lado em Verbania.  Já se especulava quanto de energia Contador iria poupar, de olho no feito que tentará alcançar no Tour, e o campeão de 6 GT (8 incluindo doping oficial) seguia irrepreensível.

O negócio foi pessoal. Antes do Monte Ologno (vídeo da montanha categoria 1), única escalada do dia, Landa teve problemas, aparentemente uma colisão traseira, e pegou uma roda do italiano Paolo Tiralongo. Contador levou a Tinkoff-Saxo pra frente do pelotão e devolveu a aceleração da Astana de dois dias antes, quando ele levou azar e precisou trocar um pneu com o companheiro italiano Ivan Basso. O espanhol desconversou e disse que sua equipe já estava ditando o ritmo antes, pois sabia que precisava estar à frente no pé da montanha. Em GT, é olho por olho. Mesmo que não seja necessário.

Líder, campeão e atacando

A melhor história, mais uma vez, veio com Hesjedal. Sua bicicleta e de mais três, incluindo a de Contador, foram fiscalizadas imediatamente após a chegada por agente da UCI à procura de um motor na bicicleta. O canadense disse que era a coisa mais ridícula que já ouviu. Os procedimentos estão aqui e aqui.

Em resumo, a suspeita foi levantada pelo L’Equipe, impulsionada pela misteriosa troca de roda entre Contador e Basso na 16ª etapa e a arrancada mágica do líder no Mortirolo/Aprica. Não há imagens da TV do momento do “pit stop”. A UCI já havia feito investidas na Paris-Nice e na Milão-São Remo e supõe-se que o tal motor possa ser ativado remotamente pelo carro da equipe. Assim, a frequência de rádio usada na prova também passa por investigação. As mágicas nunca são reveladas, não é mesmo? Se o caso fosse confirmado, o doping seria elevado a um outro patamar...

Considerando que as duas últimas etapas – exceto a chegada a Milão – seriam as mais duras, a esperança dos concorrentes de Contador deveria ter durado um pouco mais. Especialmente porque em 236km da 19ª etapa, com três escaladas, muitos problemas podiam atrapalhar o maglia rosa.

GC após a 18ª etapa

19ª etapa, 29 de maio (sexta-feira) – 236km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Se o Giro estava definido, ao menos a honra ainda estava em jogo. Especialmente para Aru, que foi 3º em 2014 e iniciou a disputa como uma dos grandes favoritos à maglia rosa. E as duas etapas que se despediram das montanhas tiveram graça por causa do italiano de Hesjedal – sempre – e do renascimento de Urán, que se não limpou o nome para garantir a renovação do contrato, saiu com um gosto menos amargo na boca.

Contador entrou na 19ª etapa com 5min15 de vantagem sobre Landa e 6min05 sobre Aru. Acompanhou os Astanas, especialmente o compatriota, o quanto foi necessário e não se importou com a vitória do italiano na etapa, 1min18 (+ 10s de bônus) à sua frente. Hesjedal, em 2º, saiu frustrado de mais uma etapa, mas subiu de 9º para 7º na GC.

Hesjedal, como sempre, e Aru

Landa deu o primeiro ataque, a 9,5km, na última esperança de mudar a história do Giro. Amador, então 4º na GC, foi o primeiro nome importante a sofrer e Aru deu as caras a 8,7km do fim. No revezamento de ataques da Astana, Contador e Kruijswijk acompanharam e Hesjedal, como sempre, fazia sua subida solitária. Com 7,6km, O campeão permitiu que Aru tivesse o seu dia de redenção. Konig, sem nada a perder e com pouco a ganhar, levou um pouco de luz à Sky.

Beirando os 6km, Aru deu o ataque decisivo que nem parecia do mesmo ciclista das semanas anteriores. Uma chegada a Cervinia, categoria 1 com 19,2km a 5%, que mereceria mais, se Contador não tivesse sido tão superior para construir a larga vantagem (vídeo dos últimos 10km).

Redenção

GC após a 19ª etapa

20ª etapa, 30 de maio (sábado) – 196km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Uma repetição do dia anterior, com Aru, Hesjedal e Urán nas 3 primeiras colocações. Com mais emoção, porque Contador sofreu de maneira inédita e chegou a ver Landa abrir quase 1min30 (a diferença entre o líder e o 3º antes da etapa era de 5min15). E mais divertido, porque teve a última polêmica.

Landa e o prêmio de consolação no Colle delle Finestre

No Cimma Coppi, penúltima montanha do dia em uma charmosa estrada sem asfalto, Landa atacou e ficou com o prêmio de consolação no Colle delle Finestre, a 2.178m de altitude. Antes da escalada até Sestriere, porém, o espanhol teve que esperar Aru. A Astana ainda acreditava que o italiano pudesse tirar o título de Contador e preparou um ataque para a montanha derradeira. Landa deveria ser o coadjuvante. E expôs tudo depois da etapa (vídeo da última montanha).

Redenção - Parte 2

No final, com um misto de sofrimento e vantagem administrada, Contador chegou 2min25 atrás de Aru, que comemorou mais uma etapa para consolidar a redenção. A vantagem na GC ficou em 2min02, com Landa a 3min14. Hesjedal ganhou mais duas posições na GC e terminou em um honroso 5º lugar, sua melhor posição em um GT desde a inesperada conquista no Giro de 2012.

Discrição depois do susto

GC após a 20ª etapa

Depois da curva
Contador mira o tri do Tour, a dobradinha indescritível e o 8º troféu de GT. Não é preciso dizer que sai em alta. O tempo de preparação para o Tour é outra história.

Aru terminou como se esperava depois de um início sofrido. Como ainda tem a crescer, usará o sofrimento como aprendizado.

Landa sai em busca de um novo contrato e com moral para ser o nome de uma equipe em um GT. Um dos que mais lucrou com o Giro. Continuar em uma equipe que tem Nibali e Aru para GTs é complicado para dar o passo seguinte.

Fabio Aru, Alberto Contador e Mikel Landa

Porte sofreu de tudo um pouco e desistiu antes da hora. Foi reprovado no grande teste como líder – apesar das vitórias no primeiro semestre. Vai trabalhar para Froome no Tour.

Amador deu as caras dentro de uma Movistar desinteressada, que guardou Quintana e Alejandro Valverde para o Tour.

Hesjedal ressurgiu e protagonizou boas histórias. Vai ser difícil passar disso em GTs. Mas tem mais diversão no Tour.

Konig fez o que pôde a partir do momento em que Porte não mostrou condições de lutar pelo título.

Kruijswijk apareceu para o mundo. Torna mais um bom nome, senão para ganhar títulos importantes, ao menos para brigar e levar o nome da Lotto NL – Jumbo, ex-Belkin-Blanco-Rabokank-etc.

Urán é o nome que sai mais enfraquecido. Ter dado as caras no final, diferentemente de Aru, não compensou o desastre do início do Giro. Estará no Tour, em uma Etixx – Quick Step que atira para todos os lados, com o polonês Michal Kwiatkowski como número 1 e o britânico Mark Cavendish como “2”. Urán terá a numeração “8” nas formalidades para a prova.

Ah, a Tinkoff-Saxo. Um dos raros momentos em que carregaram Contador

24 de maio de 2015

Contador entra na última semana com uma mão no troféu do Giro d’Italia 2015

A vantagem de 2min35s para o italiano Fabio Aru (Astana) e a forma mostrada nas duas primeiras semanas colocam o espanhol Alberto Contador (Tinkoff-Saxo) disparado como favorito ao título do Giro d’Italia 2015. O bi (nos livros) e o tri (incluindo o doping) deve se confirmar em Milão no próximo domingo, dia 31. Que comece se intensifique a especulação da dobradinha Giro-Tour de France.

Por enquanto, o resumo da segunda semana e como, um a um, os (poucos) adversários foram ficando pelo caminho. A 10ª etapa, da última terça-feira (19), e a controversa punição ao australiano Richie Porte (Sky) estão aqui. Uma pena que um ótimo primeiro semestre tenha acabado com punição, quedas e pneus furados, que acabaram por fazer o australiano jogar a toalha no time trial da 14ª etapa.

Contador reassume maglia rosa após TT da 14ª etapa. Pra não perder mais (?)

12ª etapa, 21 de maio (quinta-feira) – 190km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
O dia anterior, de importante, teve uma queda do colombiano Rigoberto Urán (Etixx-Quick Step), 6º na GC. Ele continuou, com o braço esquerdo enfaixado. Uma chegada em categoria 4 não deveria criar problemas para ninguém. Mas na prática a teoria é outra, já dizia o poeta. O ritmo intenso do início em um dia chuvoso proporcionou emoção. Ao final, Aru explicou que não teve muito tempo para se alimentar corretamente e para a equipe buscar coisas no carro.

O australiano Michael Rogers foi o primeiro a aparecer puxando Contador (vídeo dos 14km finais), com a cadência de um jovem de 35 anos. A Movistar deu um ataque conjunto e, apesar do italiano Giovanni Visconti estar a 2min12s de Contador, ele respondeu. Então a descida se resumiu a um batalhão da Astana na ponta até a subida final.

Restando 2km, a fuga (dois ciclistas) tinha 30s de vantagem. A 1km, tinha 20s. A BMC Racing fez o trabalho de busca com maestria e o belga Philippe Gilbert completou levando a etapa. Mas o que importa é a GC.


Em 1,2km o percurso ficou mais íngreme, o que parecia pouco foi muito bem aproveitado por Contador. Nos últimos 500m, com um sprint/ataque, que não foi “daqueles” porque a estrada escorregadia não permitia, o espanhol conseguiu colocar tempo em todo mundo. Em 2º lugar na etapa, o principal ganho veio com o bônus de 6s. O que sempre faz pensar se o ataque aconteceria se não existisse o bônus. E o bônus aos 3 primeiros é um incentivo que aumenta a emoção justamente nesses casos. O dia marcou a primeira vez que Aru não acompanhou Contador (tomou 8s + 6s). Na estrada, o ganho foi o seguinte com o “sprint em câmera lenta”:

- A 3s de Gilbert: Contador e mais 4 que tentavam levar a etapa.
- A 6s de Gilbert: Mikel Landa (Astana), Urán, Roman Kreuziger (Tinkoff-Saxo), Visconti, Caruso (BMC), Porte e mais 4.
- A 11s de Gilbert: Aru, Dario Cataldo (Astana), Andrey Amador (Movistar), Leopold Konig (Sky) e mais 9.

Contador aumentou a liderança para 17s para Aru, 55s para Landa, 1min30 para Cataldo. Urán, em 6º, levava 2min19. Porte era o 12º, a 3min18s. As atenções já se voltavam para o TT de 59,4km, dois dias depois. Mas a etapa seguinte reservava um imprevisto.

Aru após a 12ª etapa

13ª etapa, 22 de maio (sexta-feira) – 147km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Em mais um dia que não deveria acontecer nada (vide perfil), uma queda a 3,3km tratou de provar o contrário (vídeo dos últimos 10km). Tivesse sido 300m mais à frente, o pelotão receberia o mesmo tempo pela etapa. Aru e Urán passaram ilesos, assim como outros que acabariam aparecendo como candidatos a zebra na GC (o costarriquenho Andrey Amador, o russo Yury Trofimov – Katusha – e o belga Jurgen van den Broeck – Lotto Soudal).

Contador, desesperado, pegou a bicicleta do dinamarquês Christopher Juul-Jensen (de companheiro de equipe a UCI permite), perdeu 36s e a camiseta de líder pela primeira vez em um Grand Tour. De maneira atípica – mas é preciso esperar o inesperado em uma prova de 3 semanas, e foi consenso entre os ciclistas que o pelotão estava muito “nervoso” – Aru vestiu a maglia rosa de maneira inédita, com 19s de vantagem.

Aru após a 13ª etapa

Porte, esperando que a direção da prova desse o mesmo tempo para os envolvidos e os não-envolvidos na queda ou já entregando os pontos, cruzou a linha já sem muita animação, 2min04s atrás de Aru. O Giro estava praticamente encerrado para o australiano, que iria de all-in no TT do dia seguinte. E o melhor tuíte do Giro d’Italia 2015 foi para o australiano Simon Clarke (Orica GreenEDGE), o protagonista da punição ao fair play quatro dias antes.


14ª etapa, 23 de maio (sábado) – TT de 59,4km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
A aguardada 14ª etapa teve um pouco de tudo. Estrada molhada, mudança na direção do vento, nomes esquecidos aparecendo do nada, a incógnita condição do Contador por causa do ombro que tinha ido ao chão 2x no Giro, cobertura beirando o amadorismo por parte do site oficial, etc. Um TT sem parciais perde o seu propósito, ainda mais um de longos 59,4km. A transmissão da TV se esforçou pra ajudar (vídeo).

Vasil Kiryienka, o vencedor em condições favoráveis

O bielorrusso Vasil Kiryienka (Sky) aproveitou o momento de condições melhores e surpreendeu com a vitória. A expectativa de que guiaria Porte ao caminho das pedras não se concretizou e o australiano saiu de vez da briga, tomando infinitos 4min07s do Contador. Aru, que nas duas últimas etapas viu a diferença que 24h fazem, levou o troco. O espanhol, que deveria ter faturado a etapa se ocorresse em condições iguais para todos, reassumiu a maglia rosa imediatamente de maneira acachapante.

Entre aqueles que começaram o dia no top 20, quem apanhou menos tomou 1min12s (van den Broeck) e 1min31 (Konig). O belga passou a sonhar, na 5ª posição na GC, e o tcheco virou o líder da equipe, em 10º, 3min17s à frente do medíocre desempenho de Porte (já 8min52s de Contador). Aru ligou o sinal vermelho ao levar 2min47 e ver o rival liderar por 2min28s. O desempenho, no entanto, não foi tão decepcionante. Já era esperado que o italiano perdesse tempo. No fim, ficou em 29º na etapa e sofreu “só” 16s de Urán, que era um dos favoritos à etapa, senão o principal nome. O que prova a monstruosidade de Contador nesse sábado.

Contador
Aru

As outras surpresas positivas foram Amador e o canadense Ryder Hesjedal (Cannondale-Garmin), mas apenas o primeiro já estava em boas condições antes do TT (8º na GC) e se tornou a maior surpresa do Giro em uma Movistar sem o colombiano atual campeão Nairo Quintana e o espanhol Alejandro Valverde, em 3º. Mais uma vez, a etapa serviu para comprovar que os domestiques que ameaçam na GC e podem se tornar líderes de equipe após uma eventualidade, desmoronam em TTs (talvez até para poupar energia para ajudar o líder nas escaladas). Kreuziger (Tinkoff-Saxo), Landa e Cataldo (Astana) se viram fora do top 5 após os 59,4km.

Antes...
... e depois do TT da 14ª etapa

15ª etapa, 24 de maio (domingo) – 165km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Ah, Madonna di Campiglio (vídeo da chegada na montanha). As subidas mais íngremes estão por vir, mas o Giro não parece aberto. Se é verdade que a Astana controla o pelotão, também o é que não consegue droppar o único adversário que precisa.

Aru tinha 4(!) companheiros no início da escalada (Landa, Tanel Kangert, Paolo Tiralongo e Diego Rosa). Contador já estava isolado. Erros de estratégia à parte, como permitir que o espanhol “atacasse” só pra ter 2s de bônus em uma intermediária a 15km da chegada, o momento caminha para a aceitação de que simplesmente não existe tática que vá fazer o espanhol balançar.

"Vai ou não, moleque?"

Os outros do “pelotão” foram sendo droppados aos poucos. O grupo ficou reduzido a 8 restando 6,5km. Até 3km, o ritmo era forte, mas ainda sem ataques. O primeiro veio de Landa, Contador contra-atacou e Aru “permitiu”. A quase 2km, foi a vez de Aru atacar, meio que pra tentar mostrar o que sabia que não tinha. Landa estava melhor do que o líder da Astana. Tanto que voltou a atacar e colocou o italiano em apuros. Quando parecia que a etapa e os bônus dos 3 primeiros ficariam entre eles, Trofimov surge de algum lugar e traz emoção ao km final.

À Astana, restou a vitória na etapa e mais 7s que Contador colocou em Aru. À Tinkoff-Saxo, uma mão no troféu mesmo que a equipe não esteja correspondendo às expectativas. Kreuziger ajuda. Rogers vez ou outra. O italiano Ivan Basso e o português Sergio Paulinho são nulos.

Quem pára?

Ah, Urán, Cunego e Formolo tomaram exatos 8min de Landa. Hesjedal foi bravo e chegou 3min11s atrás do vencedor. Van den Broeck não repetiu a mágica do TT (5min47s). E Porte, à passeio, chegou 27min04s depois.

Depois da curva
Atenção para as etapas de terça e, principalmente, sexta e sábado, como apontado desde o início aqui. A quinta-feira tem montanha na segunda metade, mas a chegada será com quase 20km de descida.