22 de julho de 2013

Sir Tour de France


Foi um final digno da centésima edição da maior prova de ciclismo de estrada do mundo. Como final entende-se a última etapa com grandes montanhas, no sábado, em que o campeão geral e entre os jovens seria confirmado e o título de montanhista e o de equipe seriam definidos.

Quintana, Froome e Sagan na chegada a Paris
Ainda que fossem disputas secundárias em relação à megalomania que envolve le maillot jaune, os “míseros” 125km até Annecy-Semnoz foram uma redenção à etapa do dia anterior. Começar os 204,5km de sexta-feira com 2 hors concours, depois ter montanhas menos imponentes e chegar em uma descida obviamente teria pouca – ou nenhuma – interferência na classificação geral. Mesmo que uma escalada fosse o Col de La Madeleine. E não teve.

O melhor da última semana ficou com as etapas 18 e 20, quinta e sábado. Curiosamente, as únicas em todo o Tour de France 2013 que o campeão Sir Chris Froome não chegou à frente dos rivais que completaram o pódio, Señor Nairo Quintana Rojas e Señor Joaquin “Purito” Rodriguez Oliver. Os 172,5km com a dupla escalada ao Alpe-d’Huez foram de uma insanidade na beira de estrada que no dia seguinte a organização lançou comunicado solicitando que os torcedores não corressem ao lado dos atletas nas subidas. Em vão.

A primeira de duas passagens pelo Alpe-d'Huez
Em um esporte que o público vê os competidores passando e depois de alguns segundos não resta mais nada, repetir uma montanha era o maior convite para sair de casa e ir pra estrada. Pelo menos veriam cada ciclista duas vezes. Em quais outras modalidades o torcedor tem a chance de ficar a centímetros de distância de um profissional, por vezes um ídolo, enquanto ele compete?

Os momentos de menos força de Froome foram diferentes. Na quinta-feira, mesmo colocando mais de 1 minuto no então vice-líder, Señor Alberto Contador, ficou uma dúvida. Se não preocupava, já que a vantagem no geral era de mais de 5 minutos, ainda assim era uma dúvida (dois dias depois ele classificou esse como seu pior momento no Tour). Um pouco mais alarmante pela ajuda que precisou receber de Sir Richie Porte, que foi ao carro da Sky no meio da subida para lhe trazer um açúcar qualquer – o que rendeu uma punição de 20s na classificação geral ao final da etapa. O anticlímax do dia seguinte veio para acalmar os ânimos e deixar o britânico a 125km do título. No sábado as pernas sentiram só no último quilômetro, quando já estava consagrado e deixou escapar a chance de ganhar mais uma etapa e ser campeão entre os montanhistas.

A vantagem sobre o vice-campeão foi de 5min03s e fora do top 5 todos tomaram mais de 10 minutos. Algumas linhas para a construção das diferenças, ignorando a gracinha da Sky na Champs-Elysées que tirou 43s do Froome.


- No top 5, Contador foi quem menos perdeu tempo para Froome nos 3 time trials. No confronto direto, porém, o espanhol levou vantagem sobre o britânico em um único dia, em que o desespero da Saxo-Tinkoff rendeu 1min09s em uma etapa plana.

- Pelas etapas 15, 18 e 20 fica claro que Contador, diferente do esperado por muitos, não foi o maior rival de Froome nas montanhas. E ainda teve a impressionante 8ª etapa, a 1ª com grandes escaladas, quando o líder da Sky assumiu a camiseta amarela e não perdeu mais. Curiosamente, os dois invertem as posições que ocuparam ao final da Vuelta a España, em 2012, quando Froome liderou a Sky pela primeira vez em um Grand Tour e viu a coroação de Contador de fora do pódio em 4º.

- As maiores vantagens de Froome vieram em TTs, principalmente o da 11ª etapa, em planície. Mas o campeão também foi o melhor nas montanhas (8ª, 15ª, 18ª e 20ª). Nos tempos somente desses dias o britânico colocou 39s em Quintana, 2min15s em Rodriguez e mais de 6 minutos nos Saxos. Incontestável.

- Quintana foi o pior nos TTs, seja na planície ou na montanha. Não é preciso desenhar isso para a Movistar.

- Em um Tour que privilegiou as montanhas, é interessante notar que o título foi “decidido” em menos de 2 semanas, quando os Alpes ainda estavam bem distantes (etapas 8 e TT da 11ª). Da 13ª etapa para frente, Froome pôde administrar e colocou apenas 5s em Quintana e 19s em Rodriguez. O início fraco do espanhol custou caro.

- Tirando o TT montanhoso, os Alpes foram mesmo do camiseta branca com bolinhas. Os 29s do Mont Ventoux na Queda da Bastilha anulam os 29s da 20ª etapa. Resta a jornada dupla no Alpe-d’Huez, quando Quintana ganhou 1min06s sobre o campeão geral...

Depois da curva
- Ganhar uma etapa, consolidar o título entre os jovens, sagrar-se campeão entre os montanhistas e garantir o vice no geral em um único dia. E se esse dia fosse a comemoração da independência do seu país? O colombiano Nairo Quintana Rojas, de 23 anos, viveu tudo isso no último sábado, dia 20. Algo que a mídia local sabe reconhecer a importância. Os três jornais são de Medellín, no domingo. Fotos de Quintana também estamparam a capa do El Heraldo, de Barranquilla, e do El Universal, de Cartagena, além de chamada na capa do El Espectador, de Bogotá, entre outros.


Ao lado de Froome, é claro, Quintana é quem sai da França com mais moral, dentro de uma equipe que viu seu líder, Alejandro Valverde, dar adeus às chances de título em uma única etapa, tomando mais de 9 minutos depois de um mero pneu furado.

- Outro destaque positivo fica por conta da Belkin Pro Cycling, que surpreendeu com os holandeses Heer Bauke Mollema e Heer Laurens Ten Dam nas primeiras semanas. A ex-Rabobank chegou a sonhar com um (ou mais?) pódio, mas perdeu força nos Alpes, terminando em 6º e 13º.

Quintana assume liderança na última etapa de montanhas

Sagan à caráter para chegar em Paris
- Michal Kwiatkowski, 3º entre os jovens e 11º no geral, sofreu para tentar ajudar Sir Mark Cavendish, chefão da Omega Pharma-Quick Step. O melhor exemplo disso veio na etapa 19, que dava pontos para sprinters na intermediária depois de 2 HCs. O polonês, então 9º no geral, esteve envolvido na fuga com Cavendish e mais um companheiro de equipe, única e exclusivamente pensando nesses 20 pontos. Os 3 foram alcançados logo no início da subida do Col de La Madeleine. O título entre os sprinters já havia sido garantido pelo eslovaco Pán Peter Sagan nas etapas com montanhas “leves”.

- Entre os que saem por baixo, o maior destaque é Sir Cadel Evans, campeão há 2 anos. O australiano da BMC Racing Team assumidamente passeou pela Europa nos últimos 4 dias, quando deixou o top 20 no geral. Parecia esperar o início de uma montanha para ser o 1º a ficar pra trás e pagou o preço pelo 3º lugar no Giro d’Italia, no final de maio.

Sir Ryder Hesjedal, líder da Garmin-Sharp e campeão do Giro em 2012, só não foi uma decepção maior porque as expectativas não eram muito grandes. O abandono na tentativa de defesa do título na Itália já era um sinal.

Quem também não tem muito o que comemorar é a Radioshack Leopard. Ganhou uma etapa, liderou por 2 dias com Jan Bakelants e viu seu líder, Andy Schleck, ficar atrás do próprio Bakelants e do belga Maxime Monfort. A busca pelo 3º título entre as equipes nos últimos 4 anos também foi frustrada, superada pela Saxo-Tinkoff e pela AG2R La Mondiale.

Ainda dá pra incluir a Europcar, que conquistou títulos secundários nas 3 últimas edições. Nesta, apesar do vale tudo praticado por Pierre Rolland em busca de pontos nas montanhas sábado, ficou pra próxima. A punição, justa, contra um francês, de uma equipe francesa cujo patrocinador também é um parceiro do Tour seria esperar demais. Quase um dia, mais precisamente, porque ela veio. Quando 1 ou 2 pontos não fariam mais diferença, a organização tirou os 2 pontos de Rolland por essa montanha. A meta da equipe era ter um top 10, perto do top 5, e ganhar uma etapa. Nada feito.

Na reta
Comemoração discreta e aliviada ao final das montanhas
Por um ano de diferença Froome não virou “Sir”. E se Froome não virou Sir no Reino Unido, azar do Reino Unido! (um dia ainda haverá um post somente com variações dessa frase do poeta que se encaixa em qualquer situação sobre infinitos temas de todas as regiões do mundo). O título também foi ofuscado pelas apostas no nascimento da criança de cera.

Para o orgulho da tradição (ou tradicional orgulho?) desse povo que dá títulos de forma sem função não teria sido o melhor cenário. O vice-campeão de 2012 pode ter se mostrado superior a Bradley Wiggins nas grandes montanhas há um ano, mas o conto de fadas do 1º britânico campeão do Tour em 99 anos perderia a magia se viesse de um queniano que cresceu na África do Sul e tinha “virado” britânico há menos de 5 anos. O resto do mundo, pelo menos, aprecia.

"For me, what this represents – the journey I've taken to get here from where I've started, riding on a little mountain bike on dirt roads in Kenya – and to be here the yellow jersey at the Tour de France... it's difficult for me to put into words. This really has been an amazing journey for me. The race has been a fight every single day. Crosswinds, rain, mountains... on one occasion I was riding on my own to the finish at others I was surrounded by team-mates all the way”.

O primeiro Grand Tour de Chris Froome (GBR), Sky Procycling
Nairo Quintana, Chris Froome e Joaquin Rodriguez
Nairo Quintana (COL), Movistar
Peter Sagan (SVK), Cannondale
Nairo Quintana (COL), Movistar
Team Saxo-Tinkoff (DIN)

15 de julho de 2013

Durante e depois do Mont Ventoux: Froome quase lá


“Essa montanha é tão histórica e significa tanto para essa corrida, especialmente na 100ª edição”.

A imagem e as aspas acima dão uma ideia do que representam os 20,8km do Mont Ventoux a 7,5%. Não escalarei o assunto. A foto é do colombiano Nairo Quintana Rojas, 6º no geral e agora líder entre os “jovens”, que chegou aos 1912m de altitude 29s depois do britânico Chris Froome, líder no geral a autor da frase.


Rápido e sempre
A etapa mais longa do Tour de France-100 ficou pra trás em um ritmo intenso. O francês Sylvain Chavanel, 1º a alcançar a base do Ventoux, tinha média de 46,7 km/h depois de 4h45min pedalados, com vantagem de 1min45s do pelotão – nessa altura ainda existia um pelotão. Antes, o francês integrou a fuga acompanhado de 8 competidores.

Entre os 9 da fuga, quem tinha o interesse mais claro era Peter Sagan: adicionar pontos à sua liderança entre os sprinters. Próximo da intermediária que premiava o 1º com 20 pontos, o eslovaco se posicionou à frente do grupo e se cansou de olhar pra trás. Nem precisou neutralizar possíveis ataques (como o de Chavanel, da Omega Pharma-Quick Step, que poderia tentar ajudar o companheiro Mark Cavendish “tomando” alguns pontos do líder da Cannondale) e nem houve sprint.


Enquanto isso, a Movistar ditava o ritmo do pelotão e evitava descansar para a escalada. Quando ela chegou, o 1º a ficar pra trás foi Sagan. A meta já tinha sido atingida, claro. Tinha? Depois de concluir os 242 km do dia mais de 28min atrás de Froome, o eslovaco declarou: “Fui para a fuga para conseguir alguns pontos, mas também tinha em mente chegar no top 10 no Mont Ventoux. Teria sido algo especial”. Teria. Mas é um daqueles sonhos que seria engraçado se não fosse triste... Ainda consigo só me divertir com a afirmação, assim como com a empinada e o tchau que deu ao pelotão quando foi engolido. “Esse aceno é por diversão, para as pessoas. Dá uma foto legal, não?”. Dá, sim.


Agora Sagan só pensa em sobreviver como puder à semana mais difícil do Tour. Os 99 pontos de vantagem sobre Cavendish, vice-líder na “disputa” pela camiseta verde, dispensam comentários.

No alto da montanha
No pé do Ventoux foi a vez da Sky tomar a dianteira com todos os 7 da equipe (2 já abandonaram), seguida pela Radioshack(?). Depois de dropar o camiseta verde, imediatamente em seguida foi o francês Pierre Rolland, então líder entre os montanhistas, que não aguentou. E seguiram, em resumo, a:

- 18 km do fim: 3 Skys já tinham ficado, Froome tinha a companhia de outros 3.
- 15 km: Depois de concluir 1/4 da subida, a vantagem de Chavanel para o pelotão era de 1min25s.
- 14 km: Só 3 da fuga original estavam na frente: Chavanel (a 56s), Markel Irizar (Radioshack) e Christophe Riblon (AG2R La Mondiale). Falando em Radiochack, o pelotão era reduzido em um ritmo mais intenso que a média de velocidade. Andy Schleck foi deixado pra trás de maneira violenta, assim como Andreas Kloden e posteriormente Irizar. O luxemburguês, cercado de boatos sobre sua saída da equipe após o irmão mais velho, Frank, ser chutado prestes a completar sua suspensão por doping, não se preocupa.


- 13 km: O espanhol Mikel Nieve supera Chavanel e assume a dianteira, com 54s de vantagem. No pelotão, o primeiro ataque é de Quintana, então 8º no geral a 5min18s. Sem resposta. Entre os concorrentes da Sky, Nicolas Roche, da Saxo-Tinkoff, fica pra trás.
- 12 km: Quintana também passa Chavanel. É a hora da alfinetada do dia no Twitter. Momentos antes, o ao vivo do site do Tour listou os melhores Movistars na classificação geral – Valverde (17º) e Rui Alberto Costa (18º). A equipe respondeu em tuíte posteriormente deletado que Quintana podia não ser favorito ou muito grande (1,67m de altura e 59kg), mas era o 8º na disputa. Um lapso do Tour ao virar as costas para os concorrentes à camiseta branca. No reduzido pelotão, Froome tem Richie Porte e Peter Kennaugh ao seu lado. Alberto Contador tem 3 companheiros: Roman Kreuziger, Michael Rogers e Jesus Hernandez.
- 11 km: Só 23 integram o pelotão, 39s atrás do líder. Cadel Evans, campeão há dois anos, mostra que a forma não é mais a mesma.
- 10 km: Quintana e Nieve dividem a liderança, a 40s. Enquanto Contador marca a roda de Froome, o grupo segue forte, agora sem Evans.


- 9 km: Depois do trabalho cumprido com a Sky, Kennaugh quase para na estrada. A Belkin, com os top 5 Bauke Mollema e Laurens Ten Dam, fica sem Robert Gesink.
- 8 km: Quintana lidera por apenas 15s. Com a violência de uma tarifa de ônibus, o “pelotão” é reduzido a 4(!!) ciclistas: Froome e Porte X Contador e Kreuziger. O tcheco logo deixa o espanhol em maus lençóis sozinho com os Skys.
- 7 km: O ataque mais absurdo desta edição até o momento. Contador responde por poucas dezenas de metros até que em uma curva Froome não vê nem sinais do espanhol ao olhar pra trás. Em 20s(!!!) o britânico alcança Quintana e mantém a aceleração, que o colombiano responde.


- 6 km: Froome e Quintana têm 14s de Contador, que começa a trabalhar junto com o compatriota Nieve, da Euskaltel - Euskadi.
- 5 km: 24s. Grupo com 5 top 10 (Mollema, Kreuziger, Ten Dam, Jakob Fuglsang e Joaquin Rodriguez) mais Valverde e Rogers já leva 1min11s.
- 3,5 km: Contador a 50s. Grupo de Mollema a 1min30s.
- 2 km: Contador a 52s. Grupo de Mollema, agora sem Valverde, a 1min40s.
- 1,3 km: Froome assume a dianteira sozinho, no que não considerou um ataque a Quintana. “Esperava ganhar tempo, mas não vencer a etapa. No final não acho que ataquei, só (Quintana) que não conseguiu acompanhar”. O colombiano de apenas 23 anos concorda. “Pensei que ele (Froome) estaria menos forte do que estava, mas ele fez um esforço violento e eu simplesmente não pude acompanhar”. O Mont Ventoux estava vencido depois de 5h48min45s de etapa, a 41,7 km/h.

Depois da curva
Antes do dia de descanso, Froome ampliou a vantagem sobre tudo mundo, é claro. O top 5 segue na mesma ordem: Mollema, Contador, Kreuziger e Ten Dam. As diferenças (2min28s, 2min45s, 2min48s e 3min01s) são mais expressivas (4min14s, 4min25s, 4min28s e 4min54s). Suficientemente expressivas para evidenciar o favoritismo do britânico. Fosse em outras edições, com a rota “mais leve” na última semana, o título estaria garantido. Não está, porque em uma única montanha pode-se tirar muito tempo. E os perfis das próximas etapas são assustadores:

- Terça-feira: Montanhas 3-2-2. O dia mais tranquilo, apesar da organização dar o coeficiente para a etapa como 4. Em uma escala de 1 a 6, em que 6 são apenas os time trials, o 5 indica os dias mais “difíceis”, o 4 um pouco menos difíceis e assim por diante. Os 242 km com o Ventoux também foram classificados como 4. Torço para que esteja enganado, mas os 168 km desta terça devem ser mornos e o top 5 vai ficar se estudando e nenhum ataque vai ser bem sucedido.


 - Quarta-feira: TT de 32 km, com duas montanhas categoria 2. Se em TTs planos a superioridade de Froome foi enorme, vai ser interessante ver os 13,3 km de subidas. E com subidas vêm duas descidas, que o saudoso Michael Rasmussen já ensinou que podem ser muito perigosas em TTs, onde o poeta diria que os ciclistas literalmente colocam a faca entre os dentes e / ou tiram leite de pedra.


- Quinta-feira: 2-3-2-HC-2-HC. Talvez a etapa que mais mereça ser vista – a 1ª que a organização dá coeficiente 5. Os hors concours são o histórico Alpe-d’Huez, que todos escalarão uma vez para descer e subir de novo. Nos últimos 64 km da etapa, 29,1, oficialmente, serão de montanhas categorizadas. Haja EPO!


- Sexta-feira: HC-HC-2-1-1 (coeficiente 4)(?). A etapa merece atenção porque atinge os 2000m de altitude no Col de La Madeleine, a 2ª escalada. O fato do dia começar com 2 HCs diminui as chances de ataques. Concorrentes que ficarem pra trás terão quase 80 km pra trabalharem em equipe ou até mesmo com outros concorrentes em busca da recuperação nas fáceis montanhas 2-1-1. E a etapa termina com 13 km de descida...


- Sábado: 2-3-3-3-1-HC. O último dia com montanhas decentes podia trazer mais sofrimento se não tivesse apenas 125 km. Difícil imaginar que aquele que liderar até sexta perca a vantagem no sábado. O estranho coeficiente é 5, talvez só pela chegada ser em HC.


Fora da curva
Emblemático
No dia que os poetas imortalizaram a metamorfose do atletismo à ciclismo, duas ponderações.

- O ciclismo ensina que o maior fica por último.

- Interessante reparar que cada matéria gasta, no mínimo, 1 parágrafo / 20s de reportagens que têm 4 parágrafos / 30s para explicar quem é Tyson Gay e Asafa Powell, por exemplo. O autorreconhecimento do que é um país antiolímpico de verdade. Daqueles que precisam de legenda pra foto abaixo.


13 de julho de 2013

O Tour de France começa a ser decidido: Retrospectiva em curso

Mais de 2.300 km rodados em 2 semanas e outros 1.000 km por vir nas etapas mais duras do Tour de France 2013. Hora de gastar umas linhas com o que aconteceu, o que não saiu como o esperado e o que os Alpes próximos da divisa com a Itália reservam a partir deste domingo.

Classificação geral neste sábado, após 2.325,5 km e 14 etapas; Maior e completa aqui
Sem surpresa
- A camiseta verde de Peter Sagan. O eslovaco da Cannondale só ganhou uma etapa, mas ficou no top 5 por 8 vezes. A regularidade é explicada pela tão anunciada dura rota para comemorar a 100ª edição do Tour. Enquanto sprinters “puros”, como Mark Cavendish e André Greipel, 2º e 3º na categoria, respectivamente, só conseguem tirar algo das etapas verdadeiramente planas, Sagan aproveitou aquelas com pequenas montanhas. Não as etapas que decidem o montanhista ou o campeão geral. Porém, suficientes para alguns sprinters quebrarem.

Peter Sagan e a rotina com as podium girls
Mais precisamente as etapas 2, 3 e 7, cada uma com 4 montanhas, sendo que nenhuma era hors concours ou sequer de  categoria 1. Vencendo uma delas e ficando em 2º nas outras 2, Sagan somou 95 nas chegadas, enquanto o britânico e o alemão ficaram restritos aos poucos pontos em sprints intermediários (com 16 e 9 pontos, respectivamente). Pra completar, Sagan ainda fez 36 nas intermediárias. A vantagem atual, 357 pontos contra 273 e 217, matematicamente não pode ser revertida. Sagan quebrar nos Alpes é pouco provável. O bicampeonato na categoria só escapa com algum acidente seguido de abandono. Um título esperado desde o anúncio de que o Tour-100 iria “privilegiar” montanhistas a sprinters. Já a camiseta amarela...

- A camiseta branca com bolinhas indefinida. Se as maiores montanhas ainda estão por vir, o título pode sobrar para o campeão geral ou então seguir nas mãos do francês Pierre Rolland. O atual líder, da Europcar, precisaria de alguma fuga-suicida em um (ou mais) dia(s) com muitas escaladas para ir coletando pontos antes do “pelotão”. E, normalmente, no final seria alcançado pelos candidatos ao título e nem ganharia a etapa. Entre aqueles que estão passeando pela França, uma aposta de zebra seria Ryder Hesjedal, campeão do Giro D’Italia em 2012. Sem chances na classificação geral, a Garmin poderia usar as montanhas como prêmio de consolação, se não para o canadense, até para o irlandês Daniel Martin. A ver.


- A Astana sem um propósito depois que Vincenzo Nibali, campeão do Giro, decidiu não ir à França para se preparar para a Vuelta a España. Três integrantes já desistiram, entre eles o líder da equipe, Janez Brajkovic, 9º em 2012. O dinamarquês Jakob Fuglsang, em 6º no geral, faz milagre e destoa dos demais.

- A cobertura restrita a: Cachorro-invade-estrada-em-~prova-de-ciclismo~, Ciclista-morre-em-acidente-incrível, As-musas-do-verão-europeu-em-~prova-de-ciclismo~, etc (Atenção: não houve morte no Tour. Mas o cachorro “invadiu” e ficou famoso no país da fofoca sobre novos técnicos. Invadiu mas não morreu. Ficaria ainda mais famoso. Uma pena).

Fora do cronograma
Froome vence a 8ª etapa, a primeira com boas montanhas
- Os planos da Sky com o Chris Froome. Tudo ia bem até a 8ª etapa: Froome detinha a camiseta amarela e o vice-líder era Richie Porte, assim como, há um ano, o queniano-britânico havia escoltado Bradley Wiggins ao inédito título para os britânicos (de tantos jejuns e tabus os feitos históricos por vezes se banalizam no Reino Unido...). Mesmo que o team time trial da 4ª etapa não trouxe a primeira vitória no Tour à equipe, deu alguns segundos de vantagem para os principais concorrentes.

Então veio a 9ª etapa. Um dia antes do primeiro descanso de 2013, era de se esperar que todos deixassem a vida nas cinco escaladas ao longo de 165 km porque teriam um dia de recuperação e pouco – ou nada – mudasse na classificação geral. Logo no início, Porte e todos os Skys deixaram Froome sozinho no primeiro grupo ao lado de seus concorrentes. O espanhol Alejandro Valverde, por mais de 50km, teve a companhia de 4(!) Movistars. O britânico se defendeu e defendeu a camiseta amarela enquanto Porte tomou 18(!!) minutos. O sinal amarelo foi aceso na Sky e mudou para laranja quando o bielorrusso Vasili Kiryienka não completou a etapa dentro do limite de tempo, sendo eliminado do Tour. E o sinal ficou vermelho 4 dias depois, quando o norueguês Edvald Boasson Hagen não escapou de uma queda nos quilômetros finais da 12ª etapa e, depois de cruzar a linha de chegada, precisou abandonar o Tour com o ombro direito lesionado. Geraint Thomas, ainda na disputa, tem uma fratura no quadril. Para o champanhe do próximo dia 21, em Paris, vai ter taça sobrando... com um olhar otimista para a Sky.

Em etapa plana, Saxo-Tinkoff recupera tempo para Contador
- Os ataques na 13ª etapa, ontem. Em 173 km planos, Valverde, então vice-líder, teve um pneu furado no quilômetro 83 e perdeu cerca de 40s. Alguns Movistars ficaram para trás na tentativa de recuperar o número 1 da equipe enquanto o pelotão apertou as pedaladas, liderado principalmente pela Belkin. A ex-Rabobank, com integrantes em 3º e 6º no geral, ambos a menos de 1min do espanhol, viu a brecha para recuperar terreno contra Valverde. Inesperadamente, a Movistar não conseguiu levá-lo de volta ao pelotão e deixou a disputa pelo título (talvez ainda sonhe com algo vindo do colombiano Nairo Quintana Rojas, 8º no geral, único que não ficou para ajudar Valverde).

Mais inesperadamente veio o ataque da Saxo-Tinkoff, cerca de 25 km antes da chegada. Contador e mais 5(!!!) atletas da equipe dinamarquesa fizeram um “2º TTT” para ganhar tempo sobre quem não acompanhasse. E esse alguém foi justamente Froome. Ao que parece a Sky acusou o golpe de ter sofrido com 2 abandonos. E Contador sabia que a diferença de 3min54s era grande para ser tirada somente nas montanhas. A Saxo-Tinkoff tratou de ganhar 1min09s sobre o britânico e, se não virou favorita, ao menos acabou com o favoritismo da Sky. Roman Kreuziger, Michael Rogers e Nicolas Roche nas montanhas impõem mais respeito do que a desfalcada equipe britânica. E Valverde, 9min54s depois, deixou a Movistar chateada...

Pneu furado de Valverde e quase 10 minutos na 13ª etapa vão ser lição

Depois da curva
Dizer que o Tour de France começa amanhã é exagero. Começa, sim, a ser decidido. Feriado da Queda da Bastilha, em um domingo, na 100ª edição da prova. Resultado: o dia mais longo do percurso em uma das montanhas mais clássicas da Europa. Os 242,5 km a serem percorridos têm o aperitivo de quatro montanhas (categorias 4-4-4-3) em 221,7 km. Quando a maioria das etapas deveria acabar nessa distância, a 15ª etapa trará os ciclistas ao pé do Mont Ventoux e reservará 20,8 km de subida a 7,5%. De 314m de altitude passarão a 1912m em menos de uma hora. Para os otimistas (ou temerosos) fica o consolo de que o dia seguinte será de descanso. Mesmo assim, haja EPO!

Mont Ventoux: 20,8 km de subida a 7,5%

Na reta
- A histórica edição 100 do Tour foi “feita” para montanhistas, mas até agora está sendo decidida pelo ótimo TT de Froome na 11ª etapa. O líder da Sky chegou em 2º e colocou muito tempo sobre todo mundo (2min em Valverde e 2min03 em Contador, por exemplo, principais rivais até aquele momento). A vitória na 8ª etapa, a primeira com montanhas significativas, também tem lá o seu peso.

Michal Kwiatkowski: cara certo na equipe errada? Ainda é cedo
- No TT, quem perdeu menos tempo dentro do top 10 foi o polonês Michal Kwiatkowski, que reassumiu a camiseta branca depois de um grande dia. O atleta da Omega Pharma-Quick Step foi o 4º este ano na Amstel Gold e na Tirreno-Adriatico. A equipe confirma abertamente que a única preocupação é posicionar o sprint de Cavendish para ganhar etapas (às vezes ele exagera). O potencial do polonês de 23 anos, daqui algumas temporadas, poderá encontrar uma casa que trabalhe para o título geral de um Grand Tour e tenha companheiros capazes de conduzi-lo a isso.

Duas semanas em algumas imagens:

Ônibus da Orica-Greenedge dá as boas vindas ao Tour-100
Queda na 1ª etapa
Sagan (verde) perde a 2ª etapa para Bakelants
Mar Mediterrâneo meramente ilustrativo
Sagan (acima) perde a 3ª etapa para Gerrans
Queda na 5ª etapa
Sagan (verde à esquerda) perde a 5ª etapa para Cavendish
Brajkovic e o Tour que a Astana quer esquecer
Sagan (verde) perde a 6ª etapa para Greipel
Sagan (verde) vence a 7ª etapa!
Froome assume a camiseta amarela
ao vencer a 8º etapa e...
... no dia seguinte é
"abandonado" pela Sky
Froome (amarelo) na 9ª etapa: Cadê a Sky?
O time trial da 10ª etapa para se recuperar
Queda na 11ª etapa
Sagan (verde) perde a 11ª etapa para Kittel
Valverde (esquerda) e Movistar na 13ª etapa:
Ninguém pela frente. No pior sentido possível