11 de fevereiro de 2013

Evoluindo em harmonia sem atravessar o samba

O carnaval em curso e eu percebo que perdi toda a originalidade esportiva que deve estar por aí com "Defesa do Santos atravessa o samba", "Comissão de frente nota 10 do Paulista", "Palmeiras peca em evolução, mas nega queda: Grupo de acesso é pra conjunto pequeno", "Forlán é destaque do abre alas e deixa a mocidade alegre no Acadêmicos do Beira-Rio", "Em tom maior, Tite esbraveja após empate e garante que ataque com pato vai vai dar samba", etc, etc. Ficou tudo pra 2014.

Apesar dos pesares, lembro um texto do produtivo período da festa popular brasileira de 2012, também conhecido como marketing pessoal, e vejo que está tudo em harmonia no jornalismo enquanto atividade de apuração. As (pseudo/semi/sub) celebridades e os sambas-enredo mudam de nome, mas continuam sendo o que sempre serão. O que aconteceu continua acontecendo e ainda vai acontecer de novo. Me perdi nos tempos verbais, mas, desta vez, o principal e o resumo sambam no mesmo tom, embalados pela bateria e dignos de uma embolada entre mestre sala e porta bandeira.

Depois da curva
Post de 2 parágrafos. Estou a caminho da mercantilização de ideias e comercialização do espaço digital a nível de blog. Aceito propostas de possíveis patrocinadores. Tratar com a minha assessoria.

Alguma musa de alguma escola em algum desfile
para render mais cliques e atrair parceiros financiadores

6 de fevereiro de 2013

Entre títulos e cliques, o principal e o resumo


Alguns títulos vistos pelo território livre digital nas últimas 2 semanas.

Mulher de Luizão dá barraco e apela para ponto fraco para ofender colega de reality show
Namorada de Piqué, Shakira tem alta do hospital quatro dias após parto do primeiro filho
Filha de Cerezo fala em arrependimento após cirurgia e recebe 1ª mensagem de apoio do pai
Em clima de romance, Ronaldo é visto com namorada em restaurante no Rio
Em reality show, mulher diz que faz sexo com Luizão mais de três vezes por semana

Quatro dessas chamadas estavam na editoria de esportes. É difícil imaginar por quê? Ou mais difícil pensar qual não estava?

Lógica simples do batido “se não pode vencê-los, junte-se a eles”. Se celebridade/fofoca/barraco/“flagra” dá audiência (lembrando que um clique para reclamar/xingar/espernear, no fim das contas, ainda é um clique), que seja. A coisa mais importante dentre as menos importantes ataca para todos os lados e, para quem só conseguiu pensar na segunda questão, parece já ter vencido a guerra. E o principal fica fora do resumo, como diria o poeta.

Depois da curva
Quem clica (= audiência) perde muito do direito de reclamar das matérias que habitam cada vez mais o jornalismo.

4 de fevereiro de 2013

Domingo eu quero ver


Você liga a televisão no domingo de manhã e, por acaso, encontra uma competição de ciclismo. É ao vivo. É no Brasil. Tem brasileiro competindo! Deve valer alguma coisa.

Você assiste e até acha interessante. É bom ver um esporte diferente de vez em quando e não tem nada melhor nos outros canais mesmo. Você torce, afinal, tem brasileiro, p#**@! Você acha que o cara tá certo em sair correndo e deixar todo mundo pra trás quando ainda faltam mais de 20 km. Você fica nervoso quando o pelotão (depois de alguns minutos você já é especialista e aprendeu os termos do esporte em animadas animações da emissora) alcança a fuga restando apenas 1 km e xinga o cara que não teve perna e deixou todo mundo chegar. Mas você se irrita mesmo na chegada, quando 90 brasileiros perdem para um dos 9 argentinos que estavam na disputa. “Argentino de m&*#@! Vem aqui no Brasil e ainda ganha da gente (você estava na competição!). Por isso que isso aí não vai pra frente!”.

Por mais algumas horas – mais precisamente até 16h – você ainda fica indignado e comenta com amigos e/ou parentes que te ligam/encontram na rua: “Cê viu aqueles brasilêro na bicicleta? Nem pra ganhá dos argentino! Perdi 1 hora vendo aquilo lá”, lembra, arrependido, antes de ligar a televisão de novo e perder mais 2.

Você entra na internet no domingo de manhã e, por acaso, encontra uma competição de ciclismo. É ao vivo (os streams de hoje em dia fazem milagre e você vai parar na Al Jazeera Sport Global). É no Oriente Médio. Deve valer alguma coisa! E tem brasileiro competindo.

Você assiste e acha interessante. “Mas eles vão correr no meio da areia? O Rio de Janeiro é mais bonito”. Nem dá pra identificar o solitário brasileiro em meio a quase 150 ciclistas. Você não torce. Assiste. Britânico, norueguês, italiano, suíço. A transmissão destaca os favoritos. “Tem gente do mundo inteiro e o tal brasileiro nem estava no Rio de Janeiro competindo”, questiona. Sim, é apenas mais um no pelotão, correndo por uma das maiores equipes do mundo, contra os principais adversários que ele pode ter na sua área, o ciclismo de estrada. Ele não aparece – e se aparecesse não estaria cumprindo sua função na equipe direito.

Outros 3 aparecem. Uma fuga restando 15 km. Por quase 20 minutos, a etapa é deles. Você escolhe um para torcer. Depois de alguns minutos até esquece o brasileiro. “É, o deserto nem é uma paisagem tão feia assim”. E ninguém foi até lá pela paisagem (pelos dólares petrolíferos talvez). O terceiro não aguenta o ritmo e o sprint final é disputado por dois competidores. A etapa chega ao fim e, para o seu desespero, o vencedor não foi o vencedor. “Eles fazem isso de domingo porque é pra acabar no domingo, p#**@!”. Ainda vão pedalar 587 km nos próximos 5 dias. “E quem ganhou? Um americano? Ah, deve ser da turma daquele drogado que deu entrevista, falaram que era importante. Duvido que ele ganha amanhã de novo”, aposta, ainda meio contrariado.


Na reta
O ciclismo foi um exemplo a partir de transmissões que aconteceram no último mês. Poderia ser um futebol de praia ou o famoso desafio internacional de vôlei de praia 4x4 misto Brasil X Estados Unidos. Atrações que são os frutos de parceria com alguma(s) promotora(s) e cobrem a grade enquanto a Fórmula 1 não volta. Alguns desses eventos têm muito pouca importância – sendo generoso – e outros um pouco mais. O skate de ontem, por exemplo, tinha.

Cada um pode entrar na internet pelo celular, sem ao menos se levantar do sofá, para pesquisar se aquele é um “jogo de verão” ou um torneio sancionado internacionalmente, consolidado dentro da modalidade e que atrai os principais nomes do esporte para a TV na manhã de domingo. Ou seja, relevante. Isso, é claro, se o telespectador achar relevante estar informado sobre detalhes assim...


Banca de areia
Um dos grandes pontos positivos da internet é quantidade/variedade/oportunidade seguidas do poder de escolha. Dia desses fui parar em uma transmissão ao vivo de um ITTF na Áustria. Pra quem gosta de acompanhar competições mundialmente importantes, é o lugar certo. Pra quem gosta de torcer por competições bairristicamente importantes, acabou de perder alguns minutos aqui e imagino que não perderá mais tempo nessa perda de tempo, vulgo blog.

Depois da curva
A quem interessar possa, o Tour of Qatar tem mais cinco etapas, terminando sexta-feira, e as transmissões de cada etapa deverão estar disponíveis neste link, por volta de 8h (Brasília). O vencedor da etapa de domingo foi o norte-americano Brent Bookwalker, da BMC Racing Team. Murilo Fischer chegou em 19º, junto com os 40 primeiros do “pelotão”, e leva na camisa o número 43, da Française de Jeux (FDJ).

Há alguns anos como principal nome do Brasil no ciclismo de estrada, o catarinense tem no currículo a conclusão (o que já não é pouco) dos tradicionais Giro d’Italia e Tour de France. Na prova francesa, já chegou em 3º em uma etapa, quando tinha a missão de “lançar” um companheiro de equipe para o sprint e, consequentemente, acabava ficando entre os primeiros.


Fotos: (1) Divulgação, (2) Print screen, (3, 4, 5 e 6) ASO/B. Bade