Você liga a televisão no domingo de manhã e, por acaso,
encontra uma competição de ciclismo. É ao vivo. É no Brasil. Tem brasileiro
competindo! Deve valer alguma coisa.
Você assiste e até acha interessante. É bom ver um esporte
diferente de vez em quando e não tem nada melhor nos outros canais mesmo.
Você torce, afinal, tem brasileiro, p#**@! Você acha que o cara tá certo em
sair correndo e deixar todo mundo pra trás quando ainda faltam mais de 20 km.
Você fica nervoso quando o pelotão (depois de alguns minutos você já é
especialista e aprendeu os termos do esporte em animadas animações da emissora)
alcança a fuga restando apenas 1 km e xinga o cara que não teve perna e deixou
todo mundo chegar. Mas você se irrita mesmo na chegada, quando 90 brasileiros
perdem para um dos 9 argentinos que estavam na disputa. “Argentino de
m&*#@! Vem aqui no Brasil e ainda ganha da gente (você estava na competição!).
Por isso que isso aí não vai pra frente!”.
Por mais algumas horas – mais precisamente até 16h – você
ainda fica indignado e comenta com amigos e/ou parentes que te ligam/encontram
na rua: “Cê viu aqueles brasilêro na bicicleta? Nem pra ganhá dos argentino!
Perdi 1 hora vendo aquilo lá”, lembra, arrependido, antes de ligar a televisão
de novo e perder mais 2.
Você entra na internet no domingo de manhã e, por acaso,
encontra uma competição de ciclismo. É ao vivo (os streams de hoje em dia fazem
milagre e você vai parar na Al Jazeera Sport Global). É no Oriente Médio. Deve
valer alguma coisa! E tem brasileiro competindo.
Você assiste e acha interessante. “Mas eles vão correr no
meio da areia? O Rio de Janeiro é mais bonito”. Nem dá pra identificar o
solitário brasileiro em meio a quase 150 ciclistas. Você não torce. Assiste.
Britânico, norueguês, italiano, suíço. A transmissão destaca os favoritos. “Tem
gente do mundo inteiro e o tal brasileiro nem estava no Rio de Janeiro
competindo”, questiona. Sim, é apenas mais um no pelotão, correndo por uma das
maiores equipes do mundo, contra os principais adversários que ele pode ter na
sua área, o ciclismo de estrada. Ele não aparece – e se aparecesse não estaria
cumprindo sua função na equipe direito.
Outros 3 aparecem. Uma fuga restando 15 km. Por quase 20
minutos, a etapa é deles. Você escolhe um para torcer. Depois de alguns minutos
até esquece o brasileiro. “É, o deserto nem é uma paisagem tão feia assim”. E
ninguém foi até lá pela paisagem (pelos dólares petrolíferos talvez). O
terceiro não aguenta o ritmo e o sprint final é disputado por dois
competidores. A etapa chega ao fim e, para o seu desespero, o vencedor não foi
o vencedor. “Eles fazem isso de domingo porque é pra acabar no domingo,
p#**@!”. Ainda vão pedalar 587 km nos próximos 5 dias. “E quem ganhou? Um
americano? Ah, deve ser da turma daquele drogado que deu entrevista, falaram
que era importante. Duvido que ele ganha amanhã de novo”, aposta, ainda meio
contrariado.
Na reta
O ciclismo foi um exemplo a partir de transmissões que
aconteceram no último mês. Poderia ser um futebol de praia ou o famoso desafio
internacional de vôlei de praia 4x4 misto Brasil X Estados Unidos. Atrações que são os frutos de parceria
com alguma(s) promotora(s) e cobrem a grade enquanto a Fórmula 1 não volta.
Alguns desses eventos têm muito
pouca importância – sendo generoso – e outros um pouco mais. O skate de ontem,
por exemplo, tinha.
Cada um pode entrar na internet pelo celular, sem ao menos
se levantar do sofá, para pesquisar se aquele é um “jogo de verão” ou um
torneio sancionado internacionalmente, consolidado dentro da modalidade e que
atrai os principais nomes do esporte para a TV na manhã de domingo. Ou seja,
relevante. Isso, é claro, se o telespectador achar relevante estar informado
sobre detalhes assim...
Banca de areia
Um dos grandes pontos positivos da internet é quantidade/variedade/oportunidade
seguidas do poder de escolha. Dia desses fui parar em uma transmissão ao vivo
de um ITTF na Áustria. Pra quem gosta de acompanhar competições mundialmente importantes, é o lugar
certo. Pra quem gosta de torcer por
competições bairristicamente importantes, acabou de perder alguns minutos aqui
e imagino que não perderá mais tempo nessa perda de tempo, vulgo blog.
Depois da curva
A quem interessar possa, o Tour of Qatar tem mais cinco
etapas, terminando sexta-feira, e as transmissões de cada etapa deverão estar
disponíveis
neste link,
por volta de 8h (Brasília). O vencedor da etapa de domingo foi o
norte-americano Brent Bookwalker, da BMC Racing Team. Murilo Fischer chegou em
19º, junto com os 40 primeiros do “pelotão”, e leva na camisa o número 43, da
Française de Jeux (FDJ).
Há alguns anos como principal nome do Brasil no ciclismo de
estrada, o catarinense tem no currículo a conclusão (o que já não é pouco) dos
tradicionais Giro d’Italia e Tour de France. Na prova francesa, já chegou em 3º
em uma etapa, quando tinha a missão de “lançar” um companheiro de equipe para o
sprint e, consequentemente, acabava ficando entre os primeiros.
Fotos: (1) Divulgação, (2) Print screen, (3, 4, 5 e 6) ASO/B. Bade