22 de outubro de 2012

O que o ranking (não) explica nos ATPs 250 de 2012


Acabou a temporada dos ATPs 250. Aqueles torneios mais ganháveis para tenistas fora do top 20 e com possibilidades de boas campanhas para alguns beirando o top 100. Torneios que sempre geram perguntas do tipo: por que o cara não sai umas três semanas dos Challengers e tenta qualifyings ou até entrar direto em um ATP 250 fraco? Por que o cara, top 50, não entra em um ATP 250 como cabeça de chave ao invés de esperar o ATP 500 da próxima semana, podendo pegar um top 10 na estreia? O Brasil Open é um dos torneios mais fracos e sem estrelas entre os ATPs 250?

Primeiro, o torneio ser “fraco” é sempre relativo. O ranking mede a fraqueza? Aposto que muitos tenistas que vão disputar um torneio na grama preferem pegar um top como Nicolas Almagro a ter uma estreia contra Lukas Rosol (ah, Rosol...) ou Ivo Karlovic. Ou então, no saibro, preferem uma chave com o (ex-)top Mardy Fish ao veterano 90º do mundo Filippo Volandri (ah, Volandri...). O ranking não ganha jogo – e se ganhasse nem precisaria ter o sorteio e os jogos.
Calendário de tenista. Crédito: Google

Segundo, porque a escolha de um calendário envolve muito mais variáveis do que ver se o ranking dos inscritos é “bom” ou “ruim”. Pra quem vive nos Challengers, envolve dinheiro para longas viagens, assumindo o risco de não ter o retorno financeiro nem de posições no ranking. Pra quem já está na faixa dos 60 do mundo (ranking que entraria direto em qualquer ATP 250 em 2012), envolve o piso, a experiência que teve no torneio no ano anterior, condições de jogo na cidade (altitude, clima, etc), distância do torneio da próxima semana, preferir um Challenger em seu país, etc, etc, etc. Um exemplo da última semana, o italiano Andreas Seppi, campeão em Moscou, foi questionado porque não disputou o ATP de St. Petersburgo neste ano. A resposta: tinha jogado a Copa Davis (na Itália) e na semana seguinte, junto com St. Petersburgo, Metz (na França) era mais perto.

Este post não quer montar o calendário de um tenista ou tentar trazer nenhuma resposta. Aliás, este post nem deveria existir... Não há propósitos. Mas o final do ano já começa a proporcionar as respeitáveis retrospectivas. Para quem gosta de números e estatúpidas, deixo uma tabela com conclusões inconclusivas relacionando ranking e os 40 ATPs 250 de 2012. Rankings, números, médias, cálculos. Não há considerações sobre a fase do jogador, o piso ser seu ponto forte, os adversários que ele enfrentou, etc. Ficou pequena, mas a (falta de) ideia está aí.



Quase conclusões
- Torneios pré-Grand Slam tendem a ter cabeças com rankings melhores e a fechar last direct acceptance em rankings baixos.

- Só 3 títulos ficaram fora dos cabeças de chave.

- 14 títulos ficaram com os cabeças 1.

Uma foto do Australian Open, só porque é o mais
legal dos Grand Slams. Crédito: Google
- Antes do Australian Open, um cabeça em Chennai não entraria na chave na semana seguinte, em Sydney. Pra quem quer se aventurar na Índia, as oportunidades podem estar aí. Ou não.

- Kitzbuhel e Los Angeles foram muito “fracos”. Em 2012, isso se explica pelos Jogos Olímpicos na semana seguinte. Em outros anos, nunca se sabe.

- ATPs 250 são bem “entráveis” pra quem está próximo do top 100. Só 8 torneios tiveram last direct acceptance abaixo do número 90. Mais uma vez, em 2013 isso vai se repetir? Nem preciso responder...

Inconclusões
- Número 1 do mundo não joga ATP 250. Não, é um dado pontual, de 2012. Vez ou outra o líder do ranking vai buscar ponto$ em torneio$ como o de Doha.

- O 100 do mundo consegue entrar na chave dos três ATPs 250 da Gira Sul-americana. Em 2012, conseguiu. Em qualquer outro ano, nunca se sabe.

- Casablanca foi o torneio mais fácil para o campeão. Pela média dos ranking dos derrotados pelo campeão (Pablo Andujar), sim. O que não diz nada. Ele pegou três top 100 (83º, 85º e 52º) e o número 544º nas quartas. E se tiver sido a chave mais fraca, azar da chave.

- A soma de Buenos Aires também mostra a facilidade para o campeão? David Ferrer ganhou de um qualifier, dois convidados (entre eles Fernando Gonzalez buscando a aposentadoria) e ainda assim teve que superar David Nalbandian (então 85º) e o cabeça 2, Nicolas Almagro, então 11º. Fácil?

- Delray Beach, outra várzea? Kevin Anderson eliminou os cabeças 1 (John Isner) e 4 (Andy Roddick), então 11º e 30º do mundo. A estreia contra um qualifier 502º da ATP faz a média crescer, mostrando que os números estão aí pra serem manipulados.

- Em Halle, tomo mundo lembra que Tommy Haas foi campeão sobre Roger Federer, então 3º, e nas quartas tirou Tomas Berdych, 7º. Na semi, ainda teve Philipp Kohlschreiber, 34º. Adversário de respeito, seja “pelo ranking” ou pelo jogo que têm na grama. E as duas primeiras rodadas? Foram dois top 30. Bernard Tomic jogou sete games e abandonou e Marcel Granollers, cabeça 6, o sonho de muita gente em uma segunda rodada na grama. O torneio foi o mais difícil?

- Doha fechou os 8 cabeças e last direct acceptance com rankings muito melhores do que Brisbane e Chennai – na mesma semana. E foi o torneio que o campeão teve o caminho mais “tranquilo” – em termos de ranking, claro. Jo-Wilfried Tsonga estreou contra um qualifier 118 passou por dois tenistas fora do top 60 e quando ia pegar o número 3 do mundo, Roger Federer deu WO na semi. A final foi vencida sobre Gael Monfils, então 16º. Em Chennai, o torneio mais “fraco” da semana, Milos Raonic precisou vencer dois top 10 – Almagro e Janko Tipsarevic – para ser campeão.

Depois da curva
Escrevi um monte pra não dizer nada. Enfim, é a prática de alguns blogs. Criando uma tabela cheia de números, há a possibilidade de derrubar cada “conclusão” da mesma. Pra quem quiser praticar a distorção de números para provar alguma tese, fica aí a sugestão de exercício com a tabela acima.

Semana que vem tem as estatúpidas dos ATPs 500. Não esperem para perder.