Acabou a temporada dos ATPs 250. Aqueles torneios mais
ganháveis para tenistas fora do top 20 e com possibilidades de boas campanhas
para alguns beirando o top 100. Torneios que sempre geram perguntas do tipo:
por que o cara não sai umas três semanas dos Challengers e tenta qualifyings ou
até entrar direto em um ATP 250 fraco? Por que o cara, top 50, não entra em um
ATP 250 como cabeça de chave ao invés de esperar o ATP 500 da próxima semana,
podendo pegar um top 10 na estreia? O Brasil Open é um dos torneios mais fracos
e sem estrelas entre os ATPs 250?
Primeiro, o torneio ser “fraco” é sempre relativo. O ranking
mede a fraqueza? Aposto que muitos tenistas que vão disputar um torneio na
grama preferem pegar um top como Nicolas Almagro a ter uma estreia contra Lukas
Rosol (ah, Rosol...) ou Ivo Karlovic. Ou então, no saibro, preferem uma chave
com o (ex-)top Mardy Fish ao veterano 90º do mundo Filippo Volandri (ah,
Volandri...). O ranking não ganha jogo – e se ganhasse nem precisaria ter o
sorteio e os jogos.
Calendário de tenista. Crédito: Google |
Segundo, porque a escolha de um calendário envolve muito
mais variáveis do que ver se o ranking dos inscritos é “bom” ou “ruim”. Pra
quem vive nos Challengers, envolve dinheiro para longas viagens, assumindo o
risco de não ter o retorno financeiro nem de posições no ranking. Pra quem já
está na faixa dos 60 do mundo (ranking que entraria direto em qualquer ATP 250
em 2012), envolve o piso, a experiência que teve no torneio no ano anterior,
condições de jogo na cidade (altitude, clima, etc), distância do torneio da
próxima semana, preferir um Challenger em seu país, etc, etc, etc. Um exemplo
da última semana, o italiano Andreas Seppi, campeão em Moscou, foi questionado
porque não disputou o ATP de St. Petersburgo neste ano. A resposta: tinha
jogado a Copa Davis (na Itália) e na semana seguinte, junto com St.
Petersburgo, Metz (na França) era mais perto.
Este post não quer montar o calendário de um tenista ou tentar
trazer nenhuma resposta. Aliás, este post nem deveria existir... Não há
propósitos. Mas o final do ano já começa a proporcionar as respeitáveis retrospectivas. Para quem gosta de números e estatúpidas, deixo uma tabela com
conclusões inconclusivas relacionando ranking e os 40 ATPs 250 de 2012.
Rankings, números, médias, cálculos. Não há considerações sobre a fase do
jogador, o piso ser seu ponto forte, os adversários que ele enfrentou, etc. Ficou pequena, mas a (falta de) ideia está aí.
Quase conclusões
- Torneios pré-Grand Slam tendem a ter cabeças com rankings
melhores e a fechar last direct acceptance em rankings baixos.
- Só 3 títulos ficaram fora dos cabeças de chave.
- 14 títulos ficaram com os cabeças 1.
Uma foto do Australian Open, só porque é o mais legal dos Grand Slams. Crédito: Google |
- Antes do Australian Open, um cabeça em Chennai não
entraria na chave na semana seguinte, em Sydney. Pra quem quer se aventurar na
Índia, as oportunidades podem estar aí. Ou não.
- Kitzbuhel e Los Angeles foram muito “fracos”. Em 2012,
isso se explica pelos Jogos Olímpicos na semana seguinte. Em outros anos, nunca
se sabe.
- ATPs 250 são bem “entráveis” pra quem está próximo do top
100. Só 8 torneios tiveram last direct acceptance abaixo do número 90. Mais uma
vez, em 2013 isso vai se repetir? Nem preciso responder...
Inconclusões
- Número 1 do mundo não joga ATP 250. Não, é um dado
pontual, de 2012. Vez ou outra o líder do ranking vai buscar ponto$ em torneio$
como o de Doha.
- O 100 do mundo consegue entrar na chave dos três ATPs 250
da Gira Sul-americana. Em 2012, conseguiu. Em qualquer outro ano, nunca se
sabe.
- Casablanca foi o torneio mais fácil para o campeão. Pela
média dos ranking dos derrotados pelo campeão (Pablo Andujar), sim. O que não
diz nada. Ele pegou três top 100 (83º, 85º e 52º) e o número 544º nas quartas.
E se tiver sido a chave mais fraca, azar da chave.
- A soma de Buenos Aires também mostra a facilidade para o
campeão? David Ferrer ganhou de um qualifier, dois convidados (entre eles
Fernando Gonzalez buscando a aposentadoria) e ainda assim teve que superar
David Nalbandian (então 85º) e o cabeça 2, Nicolas Almagro, então 11º. Fácil?
- Delray Beach, outra várzea? Kevin Anderson eliminou os
cabeças 1 (John Isner) e 4 (Andy Roddick), então 11º e 30º do mundo. A estreia
contra um qualifier 502º da ATP faz a média crescer, mostrando que os números
estão aí pra serem manipulados.
- Em Halle, tomo mundo lembra que Tommy Haas foi campeão
sobre Roger Federer, então 3º, e nas quartas tirou Tomas Berdych, 7º. Na semi,
ainda teve Philipp Kohlschreiber, 34º. Adversário de respeito, seja “pelo
ranking” ou pelo jogo que têm na grama. E as duas primeiras rodadas? Foram dois
top 30. Bernard Tomic jogou sete games e abandonou e Marcel Granollers, cabeça
6, o sonho de muita gente em uma segunda rodada na grama. O torneio foi o mais
difícil?
- Doha fechou os 8 cabeças e last direct acceptance com
rankings muito melhores do que Brisbane e Chennai – na mesma semana. E foi o
torneio que o campeão teve o caminho mais “tranquilo” – em termos de ranking,
claro. Jo-Wilfried Tsonga estreou contra um qualifier 118 passou por dois
tenistas fora do top 60 e quando ia pegar o número 3 do mundo, Roger Federer
deu WO na semi. A final foi vencida sobre Gael Monfils, então 16º. Em Chennai,
o torneio mais “fraco” da semana, Milos Raonic precisou vencer dois top 10 –
Almagro e Janko Tipsarevic – para ser campeão.
Escrevi um monte pra não dizer nada. Enfim, é a prática de alguns
blogs. Criando uma tabela cheia de números, há a possibilidade de
derrubar cada “conclusão” da mesma. Pra quem quiser praticar a distorção de
números para provar alguma tese, fica aí a sugestão de exercício com a tabela
acima.
Semana que vem tem as estatúpidas dos ATPs 500. Não esperem para perder.