Precisa gringo
(tentar) fazer com que a prática jornalística se dê ao respeito.
Os exemplos
são recentes. Uma rede de microblog O Twitter informou que o programa
dominical “Da idade da pedra ao homem de
plástico” continuou a piada e praticamente debochou de Herrera em relação
ao ocorrido pós-jogo. Não sei, não vi. Mas não duvido de que o programa
futebolístico diário da mesma emissora volte ao assunto logo mais, na hora do
almoço. Afinal, (1) não aconteceu nada mais relevante no mundo esportivo no fim
de semana e (2) dar o braço a torcer pra quê?
Com Loco
Abreu, o repórter estava ouvindo a mensagem que o
produtor/diretor/apresentador/narrador lhe passava, e não conversando com a
mãe/esposa. Com Barcos, “foi Maikon Leite que mandou te entregar”. Sim, com
aspas. E com Herrera, é tradição! Jogadores se matam pra fazer 3 gols domingo.
Porque quarta-feira não ganha trilha sonora, então tanto faz marcar 1 ou 6 no
meio da semana. Só falta começar a história da alegria, da descontração, da
festa típica do povo brasileiro, que o jogador estrangeiro não tem, por isso
não entra na brincadeira.
Variações sobre um mesmo tema
Não se trata
apenas de sair pela tangente, mas sim de sair por cima. Lembra (um pouco) a resposta
em língua brasileira do norte-americano Shamell, questionado pelo repórter em
inglês (http://www.youtube.com/watch?v=qdtkwVaL4vE). Essa não está nos padrões atuais do
jornalismo-piada, era um trabalho sério, uma pergunta séria pós-jogo. E não
teve exaltação ou patada do jogador. Só não teve pesquisa/“estudo” suficiente para
cobrir o não-futebol. Mas, se era sério, deveria ter tido. O que realmente
lembra é o pós-ocorrido, a volta por cima, mantendo (e renovando) a piada. Outra
matéria!
Um bate-papo
descontraído entre o repórter e o jogador, agora em bom e claro português, para
mostrar que os dois se divertiram com a situação e está tudo bem. Como se o
espectador esperasse por um desfecho tal qual ao assistir a uma novela. E como
se não tivesse sido um erro. E, ainda, como se pouco importasse o que o cara
faz em quadra, como a equipe dele está no campeonato, etc. A relevância (ao
menos para o pauteiro/editor) do atleta, da equipe E do esporte que ele pratica
está no erro, ou melhor, na piada.
Várias variáveis
Poucas horas
depois de Herrera se recusar a ganhar o bônus musical em reconhecimento ao seu
feito, o basquete teve mais uma entrevista que lembra (bem pouco) o assunto
mais comentado pelos brasileiros em uma rede social 1º lugar do TT BR (nem tem personagem estrangeiro). São
José ganhou do Flamengo, “vamos pra quadra com o trabalho de reportagem”!
Entrevista jogador, entrevista outro jogador e entrevista mais um jogador.
Esse, o armador Fúlvio (quem não o conhece pode dar uma pausa no post para gugar se ele dá entrevista em
latim, hebraico ou italiano).
A pergunta, que
me pareceu sem ponto interrogação, mais ou menos, foi: “Uma vitória importante,
em que São José chegou a tomar sufoco no final, mas fez 2 a 1 na série(?)”. A
resposta, mais ou menos: “Eu discordo. Acho que a gente teve o jogo na mão e em
nenhum momento deixou ele escapar. A gente abriu 10 pontos no segundo quarto e
só relaxamos um pouco no final, aí eles meteram umas bolas de 3, mas a
diferença poderia ter sido maior”. Na hora pensei: mais uma patada em repórter
(mesmo que o tom de voz tenha sido tranquilo). Minutos depois mudei de ideia. Parece
que pelo excesso de “Não, com certeza”
e “grazadeus saímu com us 3 ponto”
ouvidos em campo, a resposta em quadra foi um ponto fora da curva. Um susto. Mas
com educação. Se o repórter tem o direito de fazer uma pergunta incluindo sua
visão do jogo, o jogador também o tem. E as visões eram diferentes, só isso.
Soa estranho porque foge do senso comum. Talvez o Fúlvio não esteja preocupado
se não será mais chamado para participar de programas da emissora. Se não será mais
procurado para entrevistas ao vivo pós-jogo. Talvez não tenha um
patrocinador/assessor que o aconselhe a ficar o máximo que puder com um fone de
ouvido e jogando conversa fora com apresentadores/comentaristas do estúdio
porque gera retorno de mídia. Que gera mais patrocínio. Que gera mais
entrevista (exposição). Que gera mais patrocínio...
Talvez ele não
queira vender a sua imagem, só o seu trabalho. Talvez ele tenha consciência de
que em um esporte que não atende pelo nome de futebol é quase impossível vender
a imagem e ter contratos de patrocínio. O retorno tende a zero. Talvez seja
muito “talvez”. Talvez o post tenha
muita bobagem e o interneteiro ficou pelo caminho. Se não, permito-me concluir
as bobagens.
Variando
Voltando a uma
ramificação do jornalismo-piada, me lembro de uma coletiva do Rio Champions no
final de 2011. Guga, Carlos Moyá, Alex Corretja (eles respondem em espanhol,
não precisa gugar) à mesa. Pergunta (pedido) para Guga: “Queria que você
falasse das qualidades de muso do Moyá”. O brasileiro (1) ouviu errado, (2)
fingiu que ouviu errado ou (3) não queria acreditar que tinha ouvido certo.
Resposta: “De músico!?”. Repórter: “Não, de MUSO. (Querendo enfiar a cabeça
debaixo da cadeira) Me mandaram perguntar isso... tá aqui na pauta...”.
Às vezes o
repórter se acha engraçado, quer ser engraçado ou procura uma pauta diferente
de “X ganha de Y”, “Juninho diz que vai jogar com raça” ou “O técnico garante
força total”. Resta encontrar uma torcedora musa, uma árbitra/bandeirinha musa,
uma filha de jogador musa ou até uma gandula musa. A musa que passa a coroa para o próximo ilustre
desconhecido que será o novo ídolo do próximo verão, dizia o poeta. “E o
principal fica fora do resumo”, dizia outro poeta.
Escrever algo
diferente, ainda que seja uma bobagem, gera mais comentário. Fazer um título
que deixe uma dúvida no ar gera mais cliques. E mais comentários revoltados por
clicarem na matéria pensando que era uma coisa e era outra. Ou não era nada.
Não importa, o retorno de audiência é quantitativo. 200 comentários
ridicularizando a matéria = 200 comentários. Na TV também. “Muita gente
esculachando o repórter que perguntou em inglês? Vamos fazer mais uma matéria
sobre o assunto, só que ignorando o assunto, certo?”.
Mas, às vezes,
existe a necessidade da piada na pauta, independente do apreço do repórter pela
comédia. E quem determina essa obrigatoriedade não é quem vai dar a cara à tapa
em uma coletiva ou em um pós-jogo, mas quem fica no ar condicionado contando os
cliques, comentários, likes, RT se curtir, etc, etc, etc.
Tempos
difíceis esses...
Atualização 11h10
Tive o desprazer da vergonha alheia de ver a matéria dominical graças à indicação de Felipe Priante. Aos interessados http://www.youtube.com/watch?v=7pHa0hE41sY&feature=relmfu