24 de novembro de 2015
1 de junho de 2015
O exército de um homem só, Alberto Contador, vence a primeira batalha na guerra pelo Giro-Tour
É tri? |
Quando quiser defender que o ciclismo é um esporte
individual, citar o Giro d’Italia 2015 é a primeira pedalada para ganhar a
discussão. Apesar da Tinkoff-Saxo, o espanhol Alberto Contador conseguiu o
feito de conquistar o bi (tri com doping) e o 7º Grand Tour (9º com doping) no
último domingo.
A primeira parte da missão impossível foi concluída com
sucesso e agora as atenções estão voltadas para o Tour de France, no início de
julho. Enquanto Contador anunciava a despedida do Giro, o bilionário e
fanfarrão Oleg Tinkov já instigava: “Se ele ganhar o Tour depois do Giro, acho
que deveria ir para a Vuelta”.
O campeão e o fanfarrão |
A questão principal não é duvidar do espanhol, mas pensar
que enquanto ele estava ocupado ganhando um GT, seus principais concorrentes
estavam se preparando exclusivamente para a prova francesa. O britânico Chris
Froome (Sky), o colombiano Nairo Quintana (Movistar) e o italiano Vincenzo
Nibali (Astana), principalmente, são os nomes que dividirão a atenção com
Contador. A conferir.
Abaixo, o resumo da última semana do Giro e quais nomes saem
em alta ou em baixa do primeiro GT do ano. Antes, a retrospectiva com a prévia
parte 1,
a prévia parte 2 e TTT,
a primeira semana,
a punição ao fair play e a segunda semana.
Classificação final |
16ª etapa, 26 de maio
(terça-feira) – 174km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
O melhor dia do Giro até então. Em resumo, o motivo pelo
qual se acompanha um Grand Tour. O Passo del Mortirolo (11,8km a 10,9%) e a
chegada em Aprica (14km a 3,5%) não deixaram mais dúvidas de que apenas um
acidente (literalmente) tiraria o título de Contador.
Não por acaso, o troféu acompanhou a 16ª etapa |
Passado o último dia de descanso, Porte abandonou, em uma
decisão óbvia depois do passeio na chegada de Madonna di Campiglio. E a etapa
foi a maximização do domingo: mais longa, com mais escaladas e mudanças na
dianteira.
No pé do Mortirolo – a “Montagna Pantani’ de 2015 –, a
Astana, em parceria com a Katusha, parecia ter colocado Contador em apuros, “se
aproveitando” de um pneu furado para abrir cerca de 50s do líder restando 44km.
Quase sem ninguém da Tinkoff-Saxo – como sempre –, o espanhol tratou de buscar
um por um. E sozinho, o que fez da etapa diferente, sem a menor expressão de
sofrimento. Algo, aliás, que Aru ainda não aprendeu no jogo de aparências tão
explorado na Era Lance Armstrong.
"A cara" do Giro |
Nos 2km iniciais a diferença caiu 10s. Nos 500m seguintes,
que chegaram a 18%, brutais 13s. O grupo Aru-Landa-Steven Kruijswijk (Lotto
NL-Jumbo), holandês que foi extraoficialmente lançado para o mundo nesse 26 de
maio, já dava sinais de que não sustentaria a vantagem. E ainda faltavam 6km de
subida e outros 14km para Aprica!
Acompanhado de Trofimov e Hesjedal, Contador já tinha a
diferença no visual após 3,5km do pé do Mortirolo. Um assombro. Eis que o
desastre ficou completo para Aru: ataque de Contador a 39,7km do fim, que só
Landa teve pernas para acompanhar e que decidiu o Giro. O resto é história e
está no vídeo.
Em 6km (de 44km para 38km), Contador mudou uma desvantagem
de 50s para uma vantagem de mais de 1min sobre Aru. Uma quebrada épica no
Mortirolo do 3º colocado de 2014 e líder entre os jovens. Com o aval da Astana,
Landa foi liberado para “abandonar” o líder (da equipe), acompanhou o líder (do
Giro) e, inesperadamente, venceu a segunda etapa seguida.
Hesjedal, bravo como sempre, fez de tudo em seu exército de
um homem só particular, mas acabou em 6º no dia, atrás da dupla
Trofimov/Amador. Coube ao canadense, porém, a melhor declaração pós-etapa. O
campeão do Giro-2012 disse que a Tinkoff-Saxo “aniquilava eles mesmos”,
justificando o “isolamento” de Contador porque a equipe russa se preocupava
desnecessariamente com a fuga, assumia a ponta do pelotão no início das etapas
e não conseguia ajudar o maglia rosa quando
ele precisava, nas montanhas, é claro. A bronca de Hesjedal é porque não o
deixavam ganhar uma etapa. Então a 11min de Contador, ele achava um absurdo a
Tinkoff-Saxo se preocupar quando ele estava na fuga – inúmeras vezes!
Aru, por sua vez, analisou que poderia ter perdido uns 20
minutos. É difícil discordar do rapaz de 24 anos.
GC antes da 16ª etapa |
Top 10 da 16ª etapa |
GC após a 16ª etapa |
18ª etapa, 28 de maio
(quinta-feira) – 170km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Nada aconteceu na 17ª etapa. Como se ainda precisasse,
Contador deu o golpe de misericórdia em um dia que nem terminava em subida. Em
mais um ataque solitário, colocou 1min13s sobre os “concorrentes” – só Hesjedal
(sempre ele!), do top 10, chegou ao seu lado em Verbania. Já se especulava quanto de energia Contador
iria poupar, de olho no feito que tentará alcançar no Tour, e o campeão de 6 GT
(8 incluindo doping oficial) seguia irrepreensível.
O negócio foi pessoal. Antes do Monte Ologno (vídeo da
montanha categoria 1),
única escalada do dia, Landa teve problemas, aparentemente uma colisão
traseira, e pegou uma roda do italiano Paolo Tiralongo. Contador levou a
Tinkoff-Saxo pra frente do pelotão e devolveu a aceleração da Astana de dois
dias antes, quando ele levou azar e precisou trocar um pneu com o companheiro
italiano Ivan Basso. O espanhol desconversou e disse que sua equipe já estava
ditando o ritmo antes, pois sabia que precisava estar à frente no pé da
montanha. Em GT, é olho por olho. Mesmo que não seja necessário.
Líder, campeão e atacando |
A melhor história, mais uma vez, veio com Hesjedal. Sua
bicicleta e de mais três, incluindo a de Contador, foram fiscalizadas
imediatamente após a chegada por agente da UCI à procura de um motor na bicicleta. O canadense disse
que era a coisa mais ridícula que já ouviu. Os procedimentos estão aqui e aqui.
Em resumo, a suspeita foi levantada pelo L’Equipe, impulsionada pela misteriosa
troca de roda entre Contador e Basso na 16ª etapa e a arrancada mágica do líder
no Mortirolo/Aprica. Não há imagens da TV do momento do “pit stop”. A UCI já
havia feito investidas na Paris-Nice e na Milão-São Remo e supõe-se que o tal
motor possa ser ativado remotamente pelo carro da equipe. Assim, a frequência
de rádio usada na prova também passa por investigação. As mágicas nunca são
reveladas, não é mesmo? Se o caso fosse confirmado, o doping seria elevado a um
outro patamar...
Considerando que as duas últimas etapas – exceto a chegada a
Milão – seriam as mais duras, a esperança dos concorrentes de Contador deveria
ter durado um pouco mais. Especialmente porque em 236km da 19ª etapa, com três
escaladas, muitos problemas podiam atrapalhar o maglia rosa.
GC após a 18ª etapa |
19ª etapa, 29 de maio
(sexta-feira) – 236km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Se o Giro estava definido, ao menos a honra ainda estava em
jogo. Especialmente para Aru, que foi 3º em 2014 e iniciou a disputa como uma
dos grandes favoritos à maglia rosa.
E as duas etapas que se despediram das montanhas tiveram graça por causa do
italiano de Hesjedal – sempre – e do renascimento de Urán, que se não limpou o
nome para garantir a renovação do contrato, saiu com um gosto menos amargo na
boca.
Contador entrou na 19ª etapa com 5min15 de vantagem sobre
Landa e 6min05 sobre Aru. Acompanhou os Astanas, especialmente o compatriota, o
quanto foi necessário e não se importou com a vitória do italiano na etapa,
1min18 (+ 10s de bônus) à sua frente. Hesjedal, em 2º, saiu frustrado de mais
uma etapa, mas subiu de 9º para 7º na GC.
Hesjedal, como sempre, e Aru |
Landa deu o primeiro ataque, a 9,5km, na última esperança de
mudar a história do Giro. Amador, então 4º na GC, foi o primeiro nome
importante a sofrer e Aru deu as caras a 8,7km do fim. No revezamento de
ataques da Astana, Contador e Kruijswijk acompanharam e Hesjedal, como sempre,
fazia sua subida solitária. Com 7,6km, O campeão permitiu que Aru tivesse o seu
dia de redenção. Konig, sem nada a perder e com pouco a ganhar, levou um pouco
de luz à Sky.
Beirando os 6km, Aru deu o ataque decisivo que nem parecia
do mesmo ciclista das semanas anteriores. Uma chegada a Cervinia, categoria 1
com 19,2km a 5%, que mereceria mais, se Contador não tivesse sido tão superior
para construir a larga vantagem (vídeo dos últimos 10km).
Redenção |
GC após a 19ª etapa |
20ª etapa, 30 de maio
(sábado) – 196km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Uma repetição do dia anterior, com Aru, Hesjedal e Urán nas
3 primeiras colocações. Com mais emoção, porque Contador sofreu de maneira
inédita e chegou a ver Landa abrir quase 1min30 (a diferença entre o líder e o
3º antes da etapa era de 5min15). E mais divertido, porque teve a última
polêmica.
Landa e o prêmio de consolação no Colle delle Finestre |
No Cimma Coppi, penúltima montanha do dia em uma charmosa
estrada sem asfalto, Landa atacou e ficou com o prêmio de consolação no Colle
delle Finestre, a 2.178m de altitude. Antes da escalada até Sestriere, porém, o
espanhol teve que esperar Aru. A Astana ainda acreditava que o italiano pudesse
tirar o título de Contador e preparou um ataque para a montanha derradeira.
Landa deveria ser o coadjuvante. E expôs tudo depois da etapa (vídeo da última
montanha).
Redenção - Parte 2 |
No final, com um misto de sofrimento e vantagem
administrada, Contador chegou 2min25 atrás de Aru, que comemorou mais uma etapa
para consolidar a redenção. A vantagem na GC ficou em 2min02, com Landa a
3min14. Hesjedal ganhou mais duas posições na GC e terminou em um honroso 5º
lugar, sua melhor posição em um GT desde a inesperada conquista no Giro de
2012.
Discrição depois do susto |
GC após a 20ª etapa |
Depois da curva
Contador mira o tri do Tour, a dobradinha indescritível e o
8º troféu de GT. Não é preciso dizer que sai em alta. O tempo de preparação
para o Tour é outra história.
Aru terminou como se esperava depois de um início sofrido.
Como ainda tem a crescer, usará o sofrimento como aprendizado.
Landa sai em busca de um novo contrato e com moral para ser
o nome de uma equipe em um GT. Um dos que mais lucrou com o Giro. Continuar em
uma equipe que tem Nibali e Aru para GTs é complicado para dar o passo
seguinte.
Fabio Aru, Alberto Contador e Mikel Landa |
Porte sofreu de tudo um pouco e desistiu antes da hora. Foi
reprovado no grande teste como líder – apesar das vitórias no primeiro
semestre. Vai trabalhar para Froome no Tour.
Amador deu as caras dentro de uma Movistar desinteressada,
que guardou Quintana e Alejandro Valverde para o Tour.
Hesjedal ressurgiu e protagonizou boas histórias. Vai ser
difícil passar disso em GTs. Mas tem mais diversão no Tour.
Konig fez o que pôde a partir do momento em que Porte não mostrou
condições de lutar pelo título.
Kruijswijk apareceu para o mundo. Torna mais um bom nome,
senão para ganhar títulos importantes, ao menos para brigar e levar o nome da
Lotto NL – Jumbo, ex-Belkin-Blanco-Rabokank-etc.
Urán é o nome que sai mais enfraquecido. Ter dado as caras
no final, diferentemente de Aru, não compensou o desastre do início do Giro.
Estará no Tour, em uma Etixx – Quick Step que atira para todos os lados, com o
polonês Michal Kwiatkowski como número 1 e o britânico Mark Cavendish como “2”.
Urán terá a numeração “8” nas formalidades para a prova.
Ah, a Tinkoff-Saxo. Um dos raros momentos em que carregaram Contador |
24 de maio de 2015
Contador entra na última semana com uma mão no troféu do Giro d’Italia 2015
A vantagem de 2min35s para o italiano Fabio Aru (Astana) e a
forma mostrada nas duas primeiras semanas colocam o espanhol Alberto Contador (Tinkoff-Saxo)
disparado como favorito ao título do Giro d’Italia 2015. O bi (nos livros) e o
tri (incluindo o doping) deve se confirmar em Milão no próximo domingo, dia 31.
Que comece se intensifique a especulação da dobradinha Giro-Tour de France.
Por enquanto, o resumo da segunda semana e como, um a um, os
(poucos) adversários foram ficando pelo caminho. A 10ª etapa, da última
terça-feira (19), e a controversa punição ao australiano Richie Porte (Sky)
estão aqui.
Uma pena que um ótimo primeiro semestre tenha acabado com punição, quedas e
pneus furados, que acabaram por fazer o australiano jogar a toalha no time
trial da 14ª etapa.
Contador reassume maglia rosa após TT da 14ª etapa. Pra não perder mais (?) |
12ª etapa, 21 de maio
(quinta-feira) – 190km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
O dia anterior, de importante, teve uma queda do colombiano
Rigoberto Urán (Etixx-Quick Step), 6º na GC. Ele continuou, com o braço
esquerdo enfaixado. Uma chegada em categoria 4 não deveria criar problemas para
ninguém. Mas na prática a teoria é outra, já dizia o poeta. O ritmo intenso do
início em um dia chuvoso proporcionou emoção. Ao final, Aru explicou que não
teve muito tempo para se alimentar corretamente e para a equipe buscar coisas
no carro.
O australiano Michael Rogers foi o primeiro a aparecer puxando
Contador (vídeo dos 14km finais),
com a cadência de um jovem de 35 anos. A Movistar deu um ataque conjunto e,
apesar do italiano Giovanni Visconti estar a 2min12s de Contador, ele
respondeu. Então a descida se resumiu a um batalhão da Astana na ponta até a
subida final.
Restando 2km, a fuga (dois ciclistas) tinha 30s de vantagem.
A 1km, tinha 20s. A BMC Racing fez o trabalho de busca com maestria e o belga
Philippe Gilbert completou levando a etapa. Mas o que importa é a GC.
Em 1,2km o percurso ficou mais íngreme, o que parecia pouco
foi muito bem aproveitado por Contador. Nos últimos 500m, com um sprint/ataque,
que não foi “daqueles” porque a estrada escorregadia não permitia, o espanhol
conseguiu colocar tempo em todo mundo. Em 2º lugar na etapa, o principal ganho
veio com o bônus de 6s. O que sempre
faz pensar se o ataque aconteceria se não existisse o bônus. E o bônus aos 3
primeiros é um incentivo que aumenta a emoção justamente nesses casos. O dia
marcou a primeira vez que Aru não acompanhou Contador (tomou 8s + 6s). Na estrada,
o ganho foi o seguinte com o “sprint em câmera lenta”:
- A 3s de Gilbert: Contador e mais 4 que tentavam levar a
etapa.
- A 6s de Gilbert: Mikel Landa (Astana), Urán, Roman Kreuziger
(Tinkoff-Saxo), Visconti, Caruso (BMC), Porte e mais 4.
- A 11s de Gilbert: Aru, Dario Cataldo (Astana), Andrey Amador
(Movistar), Leopold Konig (Sky) e mais 9.
Contador aumentou a liderança para 17s para Aru, 55s para
Landa, 1min30 para Cataldo. Urán, em 6º, levava 2min19. Porte era o 12º, a
3min18s. As atenções já se voltavam para o TT de 59,4km, dois dias depois. Mas
a etapa seguinte reservava um imprevisto.
Aru após a 12ª etapa |
13ª etapa, 22 de maio
(sexta-feira) – 147km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Em mais um dia que não deveria acontecer nada (vide perfil),
uma queda a 3,3km tratou de provar o contrário (vídeo dos últimos 10km).
Tivesse sido 300m mais à frente, o pelotão receberia o mesmo tempo pela etapa.
Aru e Urán passaram ilesos, assim como outros que acabariam aparecendo como
candidatos a zebra na GC (o costarriquenho Andrey Amador, o russo Yury Trofimov
– Katusha – e o belga Jurgen van den Broeck – Lotto Soudal).
Contador, desesperado, pegou a bicicleta do dinamarquês
Christopher Juul-Jensen (de companheiro de equipe a UCI permite), perdeu 36s e
a camiseta de líder pela primeira vez em um Grand Tour. De maneira atípica –
mas é preciso esperar o inesperado em uma prova de 3 semanas, e foi consenso
entre os ciclistas que o pelotão estava muito “nervoso” – Aru vestiu a maglia rosa de maneira inédita, com 19s
de vantagem.
Aru após a 13ª etapa |
Porte, esperando que a direção da prova desse o mesmo tempo
para os envolvidos e os não-envolvidos na queda ou já entregando os pontos,
cruzou a linha já sem muita animação, 2min04s atrás de Aru. O Giro estava
praticamente encerrado para o australiano, que iria de all-in no TT do dia
seguinte. E o melhor tuíte do Giro d’Italia 2015 foi para o australiano Simon
Clarke (Orica GreenEDGE), o protagonista da punição ao fair play quatro dias
antes.
14ª etapa, 23 de maio
(sábado) – TT de 59,4km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
A aguardada 14ª etapa teve um pouco de tudo. Estrada
molhada, mudança na direção do vento, nomes esquecidos aparecendo do nada, a
incógnita condição do Contador por causa do ombro que tinha ido ao chão 2x no
Giro, cobertura beirando o amadorismo por parte do site oficial, etc. Um TT sem
parciais perde o seu propósito, ainda mais um de longos 59,4km. A transmissão
da TV se esforçou pra ajudar (vídeo).
Vasil Kiryienka, o vencedor em condições favoráveis |
O bielorrusso Vasil Kiryienka (Sky) aproveitou o momento de
condições melhores e surpreendeu com a vitória. A expectativa de que guiaria
Porte ao caminho das pedras não se concretizou e o australiano saiu de vez da
briga, tomando infinitos 4min07s do Contador. Aru, que nas duas últimas etapas
viu a diferença que 24h fazem, levou o troco. O espanhol, que deveria ter
faturado a etapa se ocorresse em condições iguais para todos, reassumiu a maglia rosa imediatamente de maneira
acachapante.
Entre aqueles que começaram o dia no top 20, quem apanhou
menos tomou 1min12s (van den Broeck) e 1min31 (Konig). O belga passou a sonhar,
na 5ª posição na GC, e o tcheco virou o líder da equipe, em 10º, 3min17s à
frente do medíocre desempenho de Porte (já 8min52s de Contador). Aru ligou o
sinal vermelho ao levar 2min47 e ver o rival liderar por 2min28s. O desempenho,
no entanto, não foi tão decepcionante. Já era esperado que o italiano perdesse
tempo. No fim, ficou em 29º na etapa e sofreu “só” 16s de Urán, que era um dos
favoritos à etapa, senão o principal nome. O que prova a monstruosidade de Contador
nesse sábado.
Contador |
Aru |
As outras surpresas positivas foram Amador e o canadense
Ryder Hesjedal (Cannondale-Garmin), mas apenas o primeiro já estava em boas condições
antes do TT (8º na GC) e se tornou a maior surpresa do Giro em uma Movistar sem
o colombiano atual campeão Nairo Quintana e o espanhol Alejandro Valverde, em
3º. Mais uma vez, a etapa serviu para comprovar que os domestiques que ameaçam
na GC e podem se tornar líderes de equipe após uma eventualidade, desmoronam em
TTs (talvez até para poupar energia para ajudar o líder nas escaladas).
Kreuziger (Tinkoff-Saxo), Landa e Cataldo (Astana) se viram fora do top 5 após
os 59,4km.
Antes... |
... e depois do TT da 14ª etapa |
15ª etapa, 24 de maio
(domingo) – 165km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Ah, Madonna di Campiglio (vídeo da chegada na montanha).
As subidas mais íngremes estão por vir, mas o Giro não parece aberto. Se é
verdade que a Astana controla o pelotão, também o é que não consegue droppar o
único adversário que precisa.
Aru tinha 4(!) companheiros no início da escalada (Landa, Tanel
Kangert, Paolo Tiralongo e Diego Rosa). Contador já estava isolado. Erros de
estratégia à parte, como permitir que o espanhol “atacasse” só pra ter 2s de
bônus em uma intermediária a 15km da chegada, o momento caminha para a
aceitação de que simplesmente não existe tática que vá fazer o espanhol balançar.
"Vai ou não, moleque?" |
Os outros do “pelotão” foram sendo droppados aos poucos. O
grupo ficou reduzido a 8 restando 6,5km. Até 3km, o ritmo era forte, mas ainda
sem ataques. O primeiro veio de Landa, Contador contra-atacou e Aru “permitiu”.
A quase 2km, foi a vez de Aru atacar, meio que pra tentar mostrar o que sabia
que não tinha. Landa estava melhor do que o líder da Astana. Tanto que voltou a
atacar e colocou o italiano em apuros. Quando parecia que a etapa e os bônus
dos 3 primeiros ficariam entre eles, Trofimov surge de algum lugar e traz
emoção ao km final.
À Astana, restou a vitória na etapa e mais 7s que Contador
colocou em Aru. À Tinkoff-Saxo, uma mão no troféu mesmo que a equipe não esteja
correspondendo às expectativas. Kreuziger ajuda. Rogers vez ou outra. O
italiano Ivan Basso e o português Sergio Paulinho são nulos.
Quem pára? |
Ah, Urán, Cunego e Formolo tomaram exatos 8min de Landa.
Hesjedal foi bravo e chegou 3min11s atrás do vencedor. Van den Broeck não
repetiu a mágica do TT (5min47s). E Porte, à passeio, chegou 27min04s depois.
Depois da curva
Atenção para as etapas de terça e, principalmente, sexta e
sábado, como apontado desde o início aqui.
A quinta-feira tem montanha na segunda metade, mas a chegada será com quase
20km de descida.
23 de maio de 2015
A justiça da chave de Roland Garros e a busca por zebras
A possibilidade de tapetão não foi confirmada e Roland
Garros mostrou que é várzea, mas não tanto. O sorteio que definiu o sérvio
Novak Djokovic e o espanhol Rafael Nadal como prováveis adversários logo nas
quartas de final pode não ter tido a ilusória justiça divina ou tenística. A
justiça matemática, porém, esteve presente em alguns casos.
10 pontos separam o tcheco Tomas Berdych do japonês Kei
Nishikori, 4º e 5º no ranking, respectivamente. Se a diferença fosse do 5º para
o 6º ou do 6º para o 7º, nada de mais. Os míseros 10 pontos poderiam ter dado ao
japonês uma sequência de Djokovic-Andy Murray-Roger Federer. A justiça
matemática tratou de colocar Nishikori e Berdych no mesmo quadrante. E o Nadal
que se vire com a outra turma.
Outra conta corrigida foi a do norte-americano John Isner,
que de 17º virou cabeça 16 com a desistência do canadense Milos Raonic. Pois o
adversário da 3ª rodada pode ser logo quem vem imediatamente atrás dele, o
belga David Goffin, cabeça 17. O “beneficiado” para subir de cabeça 25 para 24
foi o letão Ernests Gulbis. Os números tratam de deixar “elas por elas”. E
entre Djokovic e Nadal? Se havia uma possibilidade, é justo que não fôssemos
privados desse encontro antecipadamente. Ou não? Não se sabe quando a chance
vai aparecer de novo.
Cadê as zebras?
O momento dos “grandes” é propício a zebras. Nesse aspecto o
sorteio foi frustrante. Não há “apostas seguras para surpresas” para os
favoritos nas primeiras rodadas. Mas a esperança é a única que morre, dizia o
poeta.
A fase de Nadal é de um mortal e proporciona chances. O
histórico em Paris e os jogos em melhor de 5 sets sempre vão dizer o contrário.
A gira europeia passou longe do padrão Nadal e o tempo pra pegar no tranco pode
não ser suficiente, já que Djokovic esperaria logo nas quartas. Em 2009, Robin
Soderling aconteceu nas oitavas. Nos últimos anos, os testes foram nas rodadas
iniciais (Isner em 5 sets em 2011 e Daniel Brands e Martin Klizan de virada, em
4 sets, em 2013). Os encontros com o sérvio ficam à parte.
(Quem sabe o Bolsa Nadal de jovens atletas não será
resgatado para contemplar o convidado local Quentin Halys, 18 anos, vice no US
Open e semi em RG e AusOpen no juvenil em 2014? Nááá).
Federer ganhou o último Grand Slam em Wimbledon-2012. Depois
disso, a “seca” é de 10 torneios. No período teve derrotas para top 10 como
Djokovic, Nadal, Murray, Berdych e Tsonga. A outra metade veio para nomes como
Marin Cilic, Ernests Gulbis, Tommy Robredo, Andreas Seppi e Sergiy Stakhovsky.
As famosas “vitórias ainda no vestiário” estão menos frequentes e as atuações
de gênio mais raras. No saibro, Monte Carlo foi rápido, em Istambul ganhou
jogando mal ou complicando jogos tranquilos, em Madri foi um circo e em Roma
teve lá os seus dias – mesmo q não tenha precisado jogar com Wawrinka e não tenha
encontrado soluções para Djokovic. A boa notícia – para ele – é que mesmo sem as exibições de gala ainda consegue ganhar da maioria do circuito. A boa notícia – pra quem
gosta de ver a chave aos pedaços – é que cada rodada tem se apresentado como
uma oportunidade nos últimos tempos.
Primeira rodada
Já que a primeira rodada não tem o popular blockbuster (o
duelo argentino Juan Monaco X Federico Delbonis pinta como o mais interessante),
restam aqueles jogos em que o favorito não é tããão favorito. Destaque para americanos.
Jack Sock ficou devendo na Europa. Grigor Dimitrov está
devendo no ano – mas dele se espera bem mais do que de Sock, é claro. Se o dia
permitir...
Sam Querrey X Borna Coric. A grife do croata se aproxima à
de Nick Kyrgios no aspecto “ganhar de gente grande”, enquanto outros nomes
novos até já levantaram troféus, mas ainda não causaram tanto impacto – Dominic
Thiem e Jiri Vesely, por exemplo. O croata, porém, ainda não fez nada em GS e
no último jogo em 5 sets não aguentou no físico, no mental, na responsabilidade
e em nada, perdendo um 2 a 0 contra Viktor Troicki na Copa Davis.
John Isner
(16) X Andreas Seppi. Pode ir longe ou acabar com uma desistência. Ou
não. Momentos muito diferentes. Isner esboça uma caminhada de volta ao top 10
com as boas campanhas no saibro e quase nada para defender no segundo semestre,
exceto pelo título em Atlanta. Seppi fez um jogo na terra batida (Monte Carlo).
A temporada que parecia promissora pós-Australian Open e vice em Zagreb desmoronou
para o italiano depois da Davis no Cazaquistão e de problemas no quadril.
Bernard Tomic (27) X Luca Vanni (Q). Será? Em Madri foi.
Pode não mudar a chave tranquila de Djokovic para a 3ª rodada, mas traria uma
diversão.
Nicolas Almagro X Alexandr Dolgopolov. Vai saber.
Leonardo Mayer (23) X Jiri Vesely. Promessa de bom, jogo se
os dois jogarem.
Diego Schwartzman X Andreas Haider-Maurer não tem nada de
mais, mas os dois estão no melhor ano da vida.
Perseguições pessoais, vulgo “não confio nesses favoritos”: Marin
Cilic (9) X Robin Haase; Nick Kyrgios (29) X Denis Istomin.
Espanhóis Roberto Bautista Agut (19) e Fernando Verdasco (32)
podem ressuscitar e lançar, respectivamente, o alemão Florian Mayer e o japonês
Taro Daniel. Assim como o eslovaco Martin Klizan com o moleque Frances Tiafoe,
que é mais falado que Coric/Chung/Kokkinakis/Zverev/Rublev/Nishioka/etc por
causa do fator americano.
Encerrando, qualquer um que não seja novato em Thomaz
Bellucci não se surpreenderia se depois do título em Genebra viesse um revés na
estreia. Já vimos a encruzilhada “confiança / ritmo X cansaço / adaptação
em semanas consecutivas. Fora o fator 5 sets, mas nisso Marinko Matosevic tem
pós-doutorado (3-16). Esperamos que o jogo com Nishikori na 2ª rodada se
confirme.
Depois da curva
Se os cabeças de chave confirmarem, os jogos mais
interessantes devem estar na parte inferior na terceira rodada: Berdych X
Fognini; Wawrinka X Garcia-Lopez (repetição da estreia em 2014 e das oitavas de
Melbourne-2015); Monfils X Cuevas; Tsonga X Kohlschreiber. Na parte superior,
Murray X Kyrgios e Isner X Goffin valeriam pelos estilos diferentes.
Fotos: Roland Garros.
19 de maio de 2015
Existe amor no ciclismo / A punição ao fair play
Nem só de doping e “quedas espetaculares” é feito o
ciclismo. A sonolenta etapa de terça-feira proporcionou a melhor história do Giro
d’Italia 2015, mesmo que ele ainda esteja entrando na segunda semana. Um dia
com 200km entre Civitanova Marche e Forli, feito para o sprint e programado
para não ter alterações entre os favoritos ao título teve seu roteiro alterado
nos últimos km.
Um dos protagonistas foi o australiano Richie Porte (Sky),
3º colocado na classificação geral, a meros 22s do espanhol Alberto Contador (Tinkoff-Saxo)
e a 19s do italiano Fabio Aru (Astana). “Os três tenores”, como a mídia
italiana proclamou. Um pneu furado a poucos quilômetros do fim o deixou
isolado. Até mesmo os companheiros e o carro da equipe estavam longe. O pelotão
acelerando e o cronômetro impiedoso. E eis que, prontamente, um compatriota, de
outra equipe, para de pedalar, tira o pneu dianteiro da sua bicicleta e faz o
pit stop simplesmente por se tratar de um competidor do mesmo país que o seu.
O outro protagonista foi Simon Clarke (Orica GreenEDGE), que
vestiu a maglia rosa por um dia, mas
não tem aspirações na classificação geral. O fato também foi apontado por ele,
posteriormente, para justificar que não estaria indo contra a sua equipe, que
não tem ninguém em busca do título. É o de menos. Com uma decisão tomada em segundos,
uma demonstração de fair play daquelas para ilustrar vídeo promocional da
modalidade e ser apropriado por marcas diversas. Sensacional, para o
espectador, que tenha sido da maneira que foi.
A agonia estampada no rosto de Porte é retratada nessa
sequência de imagens. O anticlímax e os antagonistas da história vêm depois
delas.
O vídeo dos 13 km finais não mostra a troca de pneus e ninguém tinha conhecimento dela
até o final da etapa. Quando faltavam 5,6km, a transmissão da moto mostra um
Sky ficando pra trás, procurando o carro da equipe. O que se vê depois são os
companheiros da Sky num esforço de contrarrelógio – por coincidência, com outro
australiano da Orica GreenEDGE – pra minimizar o tempo que Porte perderia. Em
vão.
O pelotão fica confuso, com algumas equipes querendo
diminuir o ritmo para esperar e outras querendo acelerar para pegar a fuga para
o sprint. O tempo para uma decisão era escasso. No fim, não se fez nem uma coisa nem outra.
Porte chega 47s atrás dos concorrentes (Contador e Aru). Já
beiraria uma eternidade. E eis que surge a punição ao fair play: A direção da
prova pune Porte e Clarke com 2 (!) minutos
(!!) na classificação geral.
O 3º colocado agora é o 12º, a infinitos 3min09s de
Contador. Um pneu furado na hora errada destrói a preparação de meses e a
programação para um ano inteiro. A aclamada disputa entre “os três tenores”
está praticamente encerrada. Lamentável, para o espectador, que tenha sido da
maneira que foi.
Depois da curva
A repercussão entre os ciclistas, principalmente aqueles que
não estão lá e comentam no Twitter, obviamente foi negativa. O “tapetão” passou
por cima do fair play. O diretor do Giro, Mauro Vegni, “lamentou” que tivesse
de aplicar a regra da UCI. Ela cita algo parecido com “ajuda a um ciclista de
outra equipe não regulamentada”. E determina que a punição seja de 2
minutos.
Richie Porte e David Brailsford, diretor da Sky |
Com a palavra, os envolvidos (me desculpem os tradutores - não o google - mas tem hora que nenhuma tradução é o suficiente. Ou necessária).
Richie Porte, antes de saber da punição:
“45 seconds… We’ve been fighting for one or two seconds, then you have a
little bit of bad luck. You have a long way to go. It was nice to see my team
stop and help me, and Simon Clarke and Michael Matthews, good mates helping me
as well. It’s not over. Taking the positives out of it; the legs felt great,
[and I] live to fight another day”.
Simon Clarke, antes de saber da punição:
“He’s just another Aussie, mate. He punctured
and obviously needed a hand. It was one of those split seconds where it could
have cost him the Giro. It’s a unique situation, it’s not like we have
someone on GC. All of Aussies get along well, it’s not like I was
colluding with a team we are trying to race against. I’m just trying to help
out a friend. Right when he stopped, he had no one. I was right there and about
to sit up and roll in”.
David Brailsford, diretor da Sky, depois da punição:
“Obviamente
é decepcionante que um gesto esportivo tomado no calor do momento tenha resultado
uma pena tão dura. Ninguém estava tentando ganhar uma vantagem desleal”.
10ª etapa, 19 de maio (quinta-feira) – 200km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
18 de maio de 2015
A batalha Contador X Aru X Porte e a decepção Urán: A primeira semana do Giro d’Italia 2015
Uma primeira semana movimentada em um Grand Tour. O fato
inesperado aconteceu por conta de quedas – Alberto Contador (Tinkoff-Saxo) e
Domenico Pozzovivo (AG2R la Mondiale) –, ataques – Fabio Aru (Astana) e Richie
Porte (Sky) – e uma decepção – Rigoberto Urán (Etixx-Quick Step). As surpresas
entre os favoritos deixaram o Giro d’Italia 2015 interessante desde o início. Enquanto
a turma troca o sangue descansa na segunda-feira, resumo da primeira
semana e algumas linhas do que está por vir para “os três tenores”.
5ª etapa, 13 de maio
(quarta-feira ) – 152km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
A primeira etapa com montanhas leves mereceu o alerta de antemão, mas era difícil imaginar que passaria de um alerta. Apenas 152km e
uma chegada em subida já colocaram Contador na maglia rosa. Não por causa da etapa, mas pelo team time trial da
abertura do Giro.
Mesmo assim, o mais impressionante – e decepcionante – foi ver
Urán perder 28s e já ficar a 1min22s do espanhol na GC. Inexplicavelmente (depois
falou-se em bronquite), o colombiano bivice já havia perdido 42s no dia
anterior. Astana e Tinkoff-Saxo deram o tom no pelotão, com ataques
interessantes da equipe cazaque, especialmente com o italiano Diego Rosa e o
espanhol Mikel Landa. Fizeram a Tinkoff-Saxo pensar como, e se, deveria
responder.
Contador, Porte e Aru: os três tenores |
Contador deu um ataque daqueles (highlights, ataque
em 1min50 ou versão maior,
ataque em 19s, enquanto os vídeos não são retirados do ar), Aru e Porte
acompanharam. Interessante também ver o italiano Ivan Basso, bicampeão do Giro
e com um currículo cheio, do alto dos seus 37 anos, trabalhando como gregário –
ou domestique, para quem preferir – para Contador.
Outro aspecto que gera debates, mas que inegavelmente traz
uma emoção extra em etapas terminando em subidas, é o bônus de tempo na
chegada. Aru, em 3º, se beneficiou com 4s (o 1º ganhou 13s e o 2º 7s). Só
poderia ser mais fácil de encontrar no regulamento quanto de tempo será dado
aos três primeiros em cada etapa (geralmente é 10s, 6s e 4s).
O dia também mostrou que, com o italiano Dario Cataldo saído
da Sky para a Astana, poderia faltar na equipe britânica um Porte para o Porte.
Ou seja, alguém incumbido da função que o australiano tinha para liderar Chris
Froome – ou que Froome, antes, teve com Bradley Wiggins – nas etapas
montanhosas.
Já vestindo a camisa |
6ª etapa, 14 de maio
(quinta-feira) – 183km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Um dia que não deveria acontecer nada se tornou dramático
nos metros finais. Um espectador com uma câmera acertou o italiano Daniele
Colli (Nippo-Vini Fantini) e começou um leve efeito dominó que atingiu a maglia rosa. No sprint, qualquer queda
faz estrago, mas a situação de Contador foi estranha. Ele estava relativamente seguro
à frente, como todo líder deve estar, e caiu praticamente em câmera lenta.
Bate papo entre líderes |
Pozzovivo já havia se despedido na 3ª etapa com uma cena
assustadora depois de uma queda. A maneira como Colli quebrou o braço esquerdo
foi ainda mais angustiante – não trago imagens por respeito a este espaço. A
Contador, sobrou um ombro esquerdo deslocado e a curiosa cena de não vestir a maglia rosa em uma cerimônia memorável.
Aos organizadores, faltou comunicação com o espanhol para
que fossem avisados que o ombro estava praticamente imobilizado e ele não
conseguiria vestir a camisa. Quem teve a honra de levar a camisa ao líder
parecia nem saber do ocorrido ou não entendeu o que o ciclista falou no pódio.
Depois, Contador dá os beijinhos de praxe em uma podium girl e é deixado no
vácuo pela segunda, “ameaçando” por duas vezes beijá-la. Por fim, a primeira moça vai
abraçá-lo para posar para as fotos e toma um susto quando ele joga o buquê pra
galera. Imperdível.
E a camisa? |
Obs.: No vídeo dos 3km finais,
fica claro que as condições não eram as ideais para um sprint. Mesmo que a
organização não tenha culpa por um cidadão com uma câmera no lugar errado,
pecou na definição do percurso. Em 1min55s no vídeo, é possível ver alguns “ombro
a ombro”. A situação é normal nos sprints, mas pareceu excessiva pela câmera do
helicóptero. Curvas e estreitamento da estrada/rua contribuíram para a tensão.
Dá para seguir Contador pela câmera do chão observando o capacete rosa. Sua
queda acontece em 2min52s, bem à esquerda do percurso, junto à placa.
7ª etapa, 15 de maio
(sexta-feira) – 264km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
A maior expectativa era se Contador continuaria no Giro. Por
264km e 7h22, ele continuou. E ainda declarou que depois de 4h pedalando
imaginou que teria mais 4h de sofrimento e pensou: é disso que se trata o
ciclismo.
Diga que fico |
8ª etapa, 16 de maio
(sábado) – 186km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
O dia mais montanhoso até então, incluindo chegada em subida.
O ataque desta vez foi de Aru (vídeo dos últimos 3km)
e depois, para confundir – ou se confundindo –, de Landa.
Aru e a rotina de ataques |
Contador, Porte e Urán acompanharam. Landa ganhou 15s na
estrada + 6s por chegar em 2º na etapa. Ao final, Astana tinha 3 no top 5 (Cataldo
em 4º). Contador terminou com um bônus inesperado de 2s em um sprint intermediário,
em um vacilo das equipes rivais.
Depois do ataque, a Sky finalmente apareceu, com o espanhol
Mikel Nieve e o tcheco Leopold Konig. Contador ficou sozinho (sem o tcheco
Roman Kreuziger) pela primeira vez. Aru e Porte fizeram últimas tentativas nos
metros finais, parecendo revezar quem atacava Contador. Urán, na dele,
acompanhou.
A Movistar ganhou a etapa com o espanhol Benat Intxausti e
parece que vai ficar nisso. Curiosamente, se a Astana não tivesse mandado Landa
pra frente, provavelmente Aru teria ficado em 3º e conquistado o bônus de tempo
(4s), o que o deixaria empatado com Contador. Enquanto isso, Porte se aproveita
do circo pegando fogo com a Astana distribuindo ataques e ditando o ritmo. O
australiano tornou pública a estranheza quanto ao ataque de Landa. A intenção
da equipe cazaque seria ganhar a etapa ou, por que não, ter um plano B para a
GC? Depois de tantos fins inesperados logo na primeira semana...
Subindo |
9ª etapa, 17 de maio
(domingo) – 215km (perfil)
Classificação da
etapa e geral (SR e GC)
Mais um ataque de Aru. Os últimos 8km (vídeo que em breve vão tirar do ar)
mostram conversa de Contador e Aru para trabalharem juntos e preguiça de Porte quando
Urán já estava dropado. A relação entre o espanhol e o italiano, inclusive, parece estar saudável. O seis vezes campeão de GT disse que o rival de 24 anos o lembra de seu início como profissional.
A Astana faturou a etapa com o italiano Paolo
Tiralongo, mas não estaria se preocupando demais com outras frentes e de menos
com Aru? Esse esforço pode cobrar um preço em uma prova de 3 semanas. O sprint entre
os líderes da GC deu 1s(!) para o italiano.
9ª etapa resumiu a primeira semana do Giro d'Italia 2015 |
Urán perdeu 46s para Contador e reconheceu que a diferença (agora
de 2min10) já é “muito importante”. Ele é o 8º na GC. A Astana continua com 3
no top 5, mas Cataldo perdeu o mesmo tempo de Urán e, com 1min16s de
desvantagem para o líder, fica menos cotado para um eventual plano B. Landa é a aposta se algo inesperado acontecer com Aru.
Depois da curva
Tempo e mais tempo para Urán |
A segunda semana promete quatro dias sem graça até o TT de
59,4km na 14ª etapa, no sábado. A quarta-feira (11ª etapa) é cheia de “sobe e
desce”. Porém, concentrados no início do dia, não devem gerar nada de
interessante. O TT parece mesmo a última chance de Urán, ainda que sua condição
para manter o ritmo nas montanhas na semana final não seja promissora. E a
pressão e o desespero por conta da desvantagem podem se tornar perigosos.
O contrarrelógio ganhou um ingrediente extra com o
ombro deslocado de Contador. O espanhol se mostrou preocupado quanto à sua
posição em cima da bicicleta, que muda consideravelmente entre uma etapa “normal”
e um TT. Tem cinco dias para pensar. Também é esperado que Porte ganhe tempo
sobre o espanhol e Aru.
O dia seguinte, antes do segundo e último descanso, é o mais
esperado até o momento. Duas escaladas de categoria 1 nos últimos 40km,
atingindo Madonna di Campiglio. Aguardemos.
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