9 de fevereiro de 2012

À direita

Choro após vitória na semifinal das Olimpíadas de Pequim, 2008
Este post poderia estar escrito há dois anos, como muitos obituários de famosos que estão engavetados em Word nas redações. Tempo sofrível para um atleta que tenta vencer, se não o tempo, o duro adversário chamado lesão. Aos 31 anos, o chileno Fernando Gonzalez anunciou seus últimos compromissos como tenista profissional: Brasil Open, ATP 250 de Buenos Aires e Masters 1000 de Miami. Quase 13 temporadas como profissional. Quase as 2 últimas inteiras com lesões, no quadril e no joelho. Ex-número 5 do mundo, Gonzalez deixa 11 títulos e 11 vices de ATP, 3 medalhas olímpicas e um forehand inadjetivável.

Seria só mais um. Só mais um ex-top 10. Só mais uma “morte anunciada”. Só mais uma carreira esportiva que o tempo (sempre) há de comer. Então, por que escrever, ler, procurar vídeos? Também não tenho certeza... Talvez pelo forehand mais absurdo que já vi no tênis (e eu conheço Del Potro). Talvez pelo backhand de uma mão, muito mais bonito que o de duas, cada vez mais raro. Talvez pelas 142857 horas em quadra para conquistar o bronze nas Olimpíadas de Atenas 2004 (vídeo abaixo). Talvez por voltar à quadra 15 minutos depois das 142857 horas para jogar mais um pouco (6/2 4/6 3/6 7/6(7) 6/4) e faturar o primeiro ouro olímpico da história do Chile, formando dupla com Nicolas Massu. Talvez porque, muitas vezes, a vontade de ganhar era a mesma vontade de destroçar uma raquete. Pode não ser legal, mas rendeu memoráveis acessos de fúria.

Se em Grand Slam (vice do Australian Open 2007), Masters 1000 (vice em Madri 2006 e Roma 2007) e Jogos Olímpicos (prata em Pequim 2008) ficou no quase, o que fica além do quase é a carreira até 2009. O 11/9 no set decisivo contra Blake, então top 10, na semifinal das Olimpíadas de Pequim. A virada contra Federer no ATP Finals 2007 (trechos em vídeo abaixo). A campanha do vice do Australian Open 2007, com vitórias em 3 sets contra Blake, Nadal e Haas, então 5º, 2º e 12º do mundo, respectivamente. Os 4 títulos em Viña Del Mar. As 31 vitórias em 44 jogos de Copa Davis. Forehands beirando 200 km/h.

Para quem não viu Gonzalez jogar, restam 3 torneios. Para quem não viu Gonzalez jogar em alto nível, restam os arquivos.

Compilação de forehands.
- 30s-50s: dois pontos contra Federer no último encontro entre eles, Indian Wells 2009.
- 1min01s: WTF!?
- 1min31s: WTF!!??
- 2min21s-3min10s: OS FOREHANDS contra Federer, ATP Finals (Masters Cup) 2007.
- 5min41s-6min41s: Semifinal contra Haas no Australian Open 2007, o último em quadra verde.
- 9min35s: WTF!!!???



Melhores momentos do bronze olímpico, em 2004, contra Dent.

http://www.youtube.com/watch?v=S6FIstf6OZA

Cinco grandes jogadas (a última, em 2min27s, realmente grande: passada de gran willy).



Devoluções sem compromisso contra Reynolds.


Um ponto incomum na semi das Olimpíadas de Pequim.



Duas quebras de raquete.



E um saque, literalmente, no corpo.



Depois da curva
A quem falar que seu jogo era só forehand: se eu tivesse um forehand desse, adoraria que meu jogo fosse dependente dele.