14 de maio de 2013

Do céu ao inferno em uma vitória amarga



Essa é a sequência de tuítes do perfil oficial da Sky Pro Cycling na etapa desta terça-feira do Giro d’Italia. E tuítes devem ser levados a sério? Talvez um pouco menos do que na verdade são. Mas a comunicação de uma das maiores equipes de ciclismo do mundo – se não a maior –, que tem (tinha?) um dos principais favoritos ao título do primeiro Grand Tour do ano traz um excelente resumo da primeira etapa de montanhas de verdade da prova italiana.

Astana e Sky
Durante mais de 20 minutos – a transmissão europeia começa quando praticamente metade da etapa já foi percorrida – Sky e Astana mantinham-se simultaneamente à frente do pelotão, enquanto ainda não havia subidas, como se uma mostrasse para outra quem ia mandar nas duas montanhas do dia.

Chegada a primeira delas, foi a Sky quem ditou o ritmo, como diz um dos tuítes, e um dos primeiros a sofrer foi o atual campeão, Ryder Hesjedal. Na descida antes da segunda montanha, a Astana esboçou se recompor, mas Vincenzo Nibali, líder e grande favorito ao título, não tinha mais de dois companheiros para ajuda-lo – a Sky ainda mantinha 3 ao lado de Wiggins. Sem contar que Nibali já havia tido dois problemas mecânicos no dia.

Até aí o cenário perfeito pintado pela Sky até o céu dos quase 1500m que os ciclistas escalaram nesta terça (qualquer texto sobre a Sky requer trocadilho com céu). Mas o Altopiano de Montasio acabou vendo uma das vitórias mais amargas para a forte equipe. Em um grupo de menos de 10 competidores, Nibali, Bradley Wiggins e Cadel Evans, vice-líder na classificação geral, eram os principais nomes até um ataque de Rigoberto Uran Uran, da... Sky!

Urán, o vencedor(?) do dia

A estratégia: com o colombiano a 2min49 de Nibali na classificação, o italiano poderia se preocupar com o ataque. Se não o contra-atacasse, ao menos tentaria manter uma “desvantagem confortável” para perder um tempo aceitável ao final do dia. Para isso, no grupo que Uran deixou para trás seria Nibali quem forçaria o ritmo. Desnecessariamente, já que detém a camiseta rosa. Mas necessariamente, já que não havia mais ninguém da Astana com ele.

O resultado: Nibali mostrou uma “preocupação-controlada”. Se Uran descontasse muito tempo, a Sky trocaria seu número 1? Wiggins viraria coadjuvante para o resto do Giro em busca de um título com Uran? Difícil de apostar. Enquanto isso, Nibali tomava a dianteira do grupo que chegou a estar a 50s do colombiano até que... Wiggins ficou para trás.

Wiggins e aquela legenda pra dizer que a legenda é desnecessária

Sem o britânico, Nibali sofreu um ataque de Evans enquanto arrumava algo em seu pedal. Imediatamente respondeu, deixando o australiano para trás com o objetivo de passar primeiro (depois de Uran e do 2º colocado do dia) as marcas de bônus de tempo no final da etapa. Com isso, abriu mais 12s e lidera sobre Evans por 41s. Uran e Wiggins, com 2min04 e 2min05, aparecem em 3º e 4º na classificação geral. Robert Gesink (2min12) e Daniele Scarponi (2min13) parecem ser os últimos que ainda podem ameaçar o título de Nibali.

Nibali lutando por bônus de tempo contra Evans. Deu certo
Mesmo que essa tenha sido a 1ª etapa de montanhas e o Giro não esteja nem na metade, é difícil acreditar que Wiggins ainda possa ser campeão. Depois de ganhar o team time trial com a Sky no 2º dia de prova, sofreu uma queda na molhada 4ª etapa e perdeu tempo inesperadamente nas planícies. Pra completar, no time trial individual, sábado, em que se espera – acertadamente – muito dele, ganhou apenas 11s de Nibali porque precisou trocar um pneu da bicicleta.

A Sky tem o que comemorar por vencer uma etapa? Até os tuítes têm um ar de “premio de consolação”. E ainda dizem que a fase tá ruim pro São Paulo, pro Joel Santana ou pra turma da Turquia na novela.

Em uma semana o ano está quase perdido para o atual campeão do Tour, que verá Chris Froome liderando a equipe na França. Mas isso é assunto pra outro post. O velho “é assunto pra outro post” nunca falha.

No alto da montanha
As próximas etapas importante são sábado e domingo, quinta (dia 23) com o último time trial, e as montanhas finais sexta (24) e sábado (25). Até lá, segue o jogo para os sprinters.

Na reta
O vencedor e o vice da etapa foram colombianos. Há uma equipe da Colômbia, composta apenas por ciclistas nascidos no País. E às vezes pensamos em um País olímpico...

Depois da curva
É recorrente, depois de cada etapa, o questionamento: Podium girls, grid girls ou ring girls?