23 de maio de 2015

A justiça da chave de Roland Garros e a busca por zebras

A possibilidade de tapetão não foi confirmada e Roland Garros mostrou que é várzea, mas não tanto. O sorteio que definiu o sérvio Novak Djokovic e o espanhol Rafael Nadal como prováveis adversários logo nas quartas de final pode não ter tido a ilusória justiça divina ou tenística. A justiça matemática, porém, esteve presente em alguns casos.

10 pontos separam o tcheco Tomas Berdych do japonês Kei Nishikori, 4º e 5º no ranking, respectivamente. Se a diferença fosse do 5º para o 6º ou do 6º para o 7º, nada de mais. Os míseros 10 pontos poderiam ter dado ao japonês uma sequência de Djokovic-Andy Murray-Roger Federer. A justiça matemática tratou de colocar Nishikori e Berdych no mesmo quadrante. E o Nadal que se vire com a outra turma.

Outra conta corrigida foi a do norte-americano John Isner, que de 17º virou cabeça 16 com a desistência do canadense Milos Raonic. Pois o adversário da 3ª rodada pode ser logo quem vem imediatamente atrás dele, o belga David Goffin, cabeça 17. O “beneficiado” para subir de cabeça 25 para 24 foi o letão Ernests Gulbis. Os números tratam de deixar “elas por elas”. E entre Djokovic e Nadal? Se havia uma possibilidade, é justo que não fôssemos privados desse encontro antecipadamente. Ou não? Não se sabe quando a chance vai aparecer de novo.


Cadê as zebras?
O momento dos “grandes” é propício a zebras. Nesse aspecto o sorteio foi frustrante. Não há apostas seguras para surpresas para os favoritos nas primeiras rodadas. Mas a esperança é a única que morre, dizia o poeta.

A fase de Nadal é de um mortal e proporciona chances. O histórico em Paris e os jogos em melhor de 5 sets sempre vão dizer o contrário. A gira europeia passou longe do padrão Nadal e o tempo pra pegar no tranco pode não ser suficiente, já que Djokovic esperaria logo nas quartas. Em 2009, Robin Soderling aconteceu nas oitavas. Nos últimos anos, os testes foram nas rodadas iniciais (Isner em 5 sets em 2011 e Daniel Brands e Martin Klizan de virada, em 4 sets, em 2013). Os encontros com o sérvio ficam à parte.

(Quem sabe o Bolsa Nadal de jovens atletas não será resgatado para contemplar o convidado local Quentin Halys, 18 anos, vice no US Open e semi em RG e AusOpen no juvenil em 2014? Nááá).

Federer ganhou o último Grand Slam em Wimbledon-2012. Depois disso, a “seca” é de 10 torneios. No período teve derrotas para top 10 como Djokovic, Nadal, Murray, Berdych e Tsonga. A outra metade veio para nomes como Marin Cilic, Ernests Gulbis, Tommy Robredo, Andreas Seppi e Sergiy Stakhovsky. As famosas “vitórias ainda no vestiário” estão menos frequentes e as atuações de gênio mais raras. No saibro, Monte Carlo foi rápido, em Istambul ganhou jogando mal ou complicando jogos tranquilos, em Madri foi um circo e em Roma teve lá os seus dias – mesmo q não tenha precisado jogar com Wawrinka e não tenha encontrado soluções para Djokovic. A boa notícia – para ele – é que mesmo sem as exibições de gala ainda consegue ganhar da maioria do circuito. A boa notícia – pra quem gosta de ver a chave aos pedaços – é que cada rodada tem se apresentado como uma oportunidade nos últimos tempos.


Primeira rodada
Já que a primeira rodada não tem o popular blockbuster (o duelo argentino Juan Monaco X Federico Delbonis pinta como o mais interessante), restam aqueles jogos em que o favorito não é tããão favorito. Destaque para americanos.

Jack Sock ficou devendo na Europa. Grigor Dimitrov está devendo no ano – mas dele se espera bem mais do que de Sock, é claro. Se o dia permitir...

Sam Querrey X Borna Coric. A grife do croata se aproxima à de Nick Kyrgios no aspecto “ganhar de gente grande”, enquanto outros nomes novos até já levantaram troféus, mas ainda não causaram tanto impacto – Dominic Thiem e Jiri Vesely, por exemplo. O croata, porém, ainda não fez nada em GS e no último jogo em 5 sets não aguentou no físico, no mental, na responsabilidade e em nada, perdendo um 2 a 0 contra Viktor Troicki na Copa Davis.


John Isner (16) X Andreas Seppi. Pode ir longe ou acabar com uma desistência. Ou não. Momentos muito diferentes. Isner esboça uma caminhada de volta ao top 10 com as boas campanhas no saibro e quase nada para defender no segundo semestre, exceto pelo título em Atlanta. Seppi fez um jogo na terra batida (Monte Carlo). A temporada que parecia promissora pós-Australian Open e vice em Zagreb desmoronou para o italiano depois da Davis no Cazaquistão e de problemas no quadril.

Bernard Tomic (27) X Luca Vanni (Q). Será? Em Madri foi. Pode não mudar a chave tranquila de Djokovic para a 3ª rodada, mas traria uma diversão.

Nicolas Almagro X Alexandr Dolgopolov. Vai saber.

Leonardo Mayer (23) X Jiri Vesely. Promessa de bom, jogo se os dois jogarem.

Diego Schwartzman X Andreas Haider-Maurer não tem nada de mais, mas os dois estão no melhor ano da vida.

Perseguições pessoais, vulgo “não confio nesses favoritos”: Marin Cilic (9) X Robin Haase; Nick Kyrgios (29) X Denis Istomin.


Espanhóis Roberto Bautista Agut (19) e Fernando Verdasco (32) podem ressuscitar e lançar, respectivamente, o alemão Florian Mayer e o japonês Taro Daniel. Assim como o eslovaco Martin Klizan com o moleque Frances Tiafoe, que é mais falado que Coric/Chung/Kokkinakis/Zverev/Rublev/Nishioka/etc por causa do fator americano.

Encerrando, qualquer um que não seja novato em Thomaz Bellucci não se surpreenderia se depois do título em Genebra viesse um revés na estreia. Já vimos a encruzilhada “confiança / ritmo X cansaço / adaptação em semanas consecutivas. Fora o fator 5 sets, mas nisso Marinko Matosevic tem pós-doutorado (3-16). Esperamos que o jogo com Nishikori na 2ª rodada se confirme.

Depois da curva
Se os cabeças de chave confirmarem, os jogos mais interessantes devem estar na parte inferior na terceira rodada: Berdych X Fognini; Wawrinka X Garcia-Lopez (repetição da estreia em 2014 e das oitavas de Melbourne-2015); Monfils X Cuevas; Tsonga X Kohlschreiber. Na parte superior, Murray X Kyrgios e Isner X Goffin valeriam pelos estilos diferentes.

Fotos: Roland Garros.