18 de maio de 2015

A batalha Contador X Aru X Porte e a decepção Urán: A primeira semana do Giro d’Italia 2015

Uma primeira semana movimentada em um Grand Tour. O fato inesperado aconteceu por conta de quedas – Alberto Contador (Tinkoff-Saxo) e Domenico Pozzovivo (AG2R la Mondiale) –, ataques – Fabio Aru (Astana) e Richie Porte (Sky) – e uma decepção – Rigoberto Urán (Etixx-Quick Step). As surpresas entre os favoritos deixaram o Giro d’Italia 2015 interessante desde o início. Enquanto a turma troca o sangue descansa na segunda-feira, resumo da primeira semana e algumas linhas do que está por vir para “os três tenores”.


5ª etapa, 13 de maio (quarta-feira ) – 152km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
A primeira etapa com montanhas leves mereceu o alerta de antemão, mas era difícil imaginar que passaria de um alerta. Apenas 152km e uma chegada em subida já colocaram Contador na maglia rosa. Não por causa da etapa, mas pelo team time trial da abertura do Giro.

Mesmo assim, o mais impressionante – e decepcionante – foi ver Urán perder 28s e já ficar a 1min22s do espanhol na GC. Inexplicavelmente (depois falou-se em bronquite), o colombiano bivice já havia perdido 42s no dia anterior. Astana e Tinkoff-Saxo deram o tom no pelotão, com ataques interessantes da equipe cazaque, especialmente com o italiano Diego Rosa e o espanhol Mikel Landa. Fizeram a Tinkoff-Saxo pensar como, e se, deveria responder.

Contador, Porte e Aru: os três tenores

Contador deu um ataque daqueles (highlights, ataque em 1min50 ou versão maior, ataque em 19s, enquanto os vídeos não são retirados do ar), Aru e Porte acompanharam. Interessante também ver o italiano Ivan Basso, bicampeão do Giro e com um currículo cheio, do alto dos seus 37 anos, trabalhando como gregário – ou domestique, para quem preferir – para Contador.

Outro aspecto que gera debates, mas que inegavelmente traz uma emoção extra em etapas terminando em subidas, é o bônus de tempo na chegada. Aru, em 3º, se beneficiou com 4s (o 1º ganhou 13s e o 2º 7s). Só poderia ser mais fácil de encontrar no regulamento quanto de tempo será dado aos três primeiros em cada etapa (geralmente é 10s, 6s e 4s).

O dia também mostrou que, com o italiano Dario Cataldo saído da Sky para a Astana, poderia faltar na equipe britânica um Porte para o Porte. Ou seja, alguém incumbido da função que o australiano tinha para liderar Chris Froome – ou que Froome, antes, teve com Bradley Wiggins – nas etapas montanhosas.

Já vestindo a camisa

6ª etapa, 14 de maio (quinta-feira) – 183km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Um dia que não deveria acontecer nada se tornou dramático nos metros finais. Um espectador com uma câmera acertou o italiano Daniele Colli (Nippo-Vini Fantini) e começou um leve efeito dominó que atingiu a maglia rosa. No sprint, qualquer queda faz estrago, mas a situação de Contador foi estranha. Ele estava relativamente seguro à frente, como todo líder deve estar, e caiu praticamente em câmera lenta.

Bate papo entre líderes
Pozzovivo já havia se despedido na 3ª etapa com uma cena assustadora depois de uma queda. A maneira como Colli quebrou o braço esquerdo foi ainda mais angustiante – não trago imagens por respeito a este espaço. A Contador, sobrou um ombro esquerdo deslocado e a curiosa cena de não vestir a maglia rosa em uma cerimônia memorável.

Aos organizadores, faltou comunicação com o espanhol para que fossem avisados que o ombro estava praticamente imobilizado e ele não conseguiria vestir a camisa. Quem teve a honra de levar a camisa ao líder parecia nem saber do ocorrido ou não entendeu o que o ciclista falou no pódio. Depois, Contador dá os beijinhos de praxe em uma podium girl e é deixado no vácuo pela segunda, ameaçando por duas vezes beijá-la. Por fim, a primeira moça vai abraçá-lo para posar para as fotos e toma um susto quando ele joga o buquê pra galera. Imperdível.

E a camisa?

Obs.: No vídeo dos 3km finais, fica claro que as condições não eram as ideais para um sprint. Mesmo que a organização não tenha culpa por um cidadão com uma câmera no lugar errado, pecou na definição do percurso. Em 1min55s no vídeo, é possível ver alguns “ombro a ombro”. A situação é normal nos sprints, mas pareceu excessiva pela câmera do helicóptero. Curvas e estreitamento da estrada/rua contribuíram para a tensão. Dá para seguir Contador pela câmera do chão observando o capacete rosa. Sua queda acontece em 2min52s, bem à esquerda do percurso, junto à placa.

7ª etapa, 15 de maio (sexta-feira) – 264km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
A maior expectativa era se Contador continuaria no Giro. Por 264km e 7h22, ele continuou. E ainda declarou que depois de 4h pedalando imaginou que teria mais 4h de sofrimento e pensou: é disso que se trata o ciclismo.

Diga que fico

8ª etapa, 16 de maio (sábado) – 186km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
O dia mais montanhoso até então, incluindo chegada em subida. O ataque desta vez foi de Aru (vídeo dos últimos 3km) e depois, para confundir – ou se confundindo –, de Landa.

Aru e a rotina de ataques
Contador, Porte e Urán acompanharam. Landa ganhou 15s na estrada + 6s por chegar em 2º na etapa. Ao final, Astana tinha 3 no top 5 (Cataldo em 4º). Contador terminou com um bônus inesperado de 2s em um sprint intermediário, em um vacilo das equipes rivais.

Depois do ataque, a Sky finalmente apareceu, com o espanhol Mikel Nieve e o tcheco Leopold Konig. Contador ficou sozinho (sem o tcheco Roman Kreuziger) pela primeira vez. Aru e Porte fizeram últimas tentativas nos metros finais, parecendo revezar quem atacava Contador. Urán, na dele, acompanhou.

A Movistar ganhou a etapa com o espanhol Benat Intxausti e parece que vai ficar nisso. Curiosamente, se a Astana não tivesse mandado Landa pra frente, provavelmente Aru teria ficado em 3º e conquistado o bônus de tempo (4s), o que o deixaria empatado com Contador. Enquanto isso, Porte se aproveita do circo pegando fogo com a Astana distribuindo ataques e ditando o ritmo. O australiano tornou pública a estranheza quanto ao ataque de Landa. A intenção da equipe cazaque seria ganhar a etapa ou, por que não, ter um plano B para a GC? Depois de tantos fins inesperados logo na primeira semana...

Subindo

9ª etapa, 17 de maio (domingo) – 215km (perfil)
Classificação da etapa e geral (SR e GC)
Mais um ataque de Aru. Os últimos 8km (vídeo que em breve vão tirar do ar) mostram conversa de Contador e Aru para trabalharem juntos e preguiça de Porte quando Urán já estava dropado. A relação entre o espanhol e o italiano, inclusive, parece estar saudável. O seis vezes campeão de GT disse que o rival de 24 anos o lembra de seu início como profissional.

A Astana faturou a etapa com o italiano Paolo Tiralongo, mas não estaria se preocupando demais com outras frentes e de menos com Aru? Esse esforço pode cobrar um preço em uma prova de 3 semanas. O sprint entre os líderes da GC deu 1s(!) para o italiano.

9ª etapa resumiu a primeira semana do Giro d'Italia 2015

Urán perdeu 46s para Contador e reconheceu que a diferença (agora de 2min10) já é “muito importante”. Ele é o 8º na GC. A Astana continua com 3 no top 5, mas Cataldo perdeu o mesmo tempo de Urán e, com 1min16s de desvantagem para o líder, fica menos cotado para um eventual plano B. Landa é a aposta se algo inesperado acontecer com Aru.

Depois da curva
Tempo e mais tempo para Urán
A segunda semana promete quatro dias sem graça até o TT de 59,4km na 14ª etapa, no sábado. A quarta-feira (11ª etapa) é cheia de “sobe e desce”. Porém, concentrados no início do dia, não devem gerar nada de interessante. O TT parece mesmo a última chance de Urán, ainda que sua condição para manter o ritmo nas montanhas na semana final não seja promissora. E a pressão e o desespero por conta da desvantagem podem se tornar perigosos.

O contrarrelógio ganhou um ingrediente extra com o ombro deslocado de Contador. O espanhol se mostrou preocupado quanto à sua posição em cima da bicicleta, que muda consideravelmente entre uma etapa “normal” e um TT. Tem cinco dias para pensar. Também é esperado que Porte ganhe tempo sobre o espanhol e Aru.

O dia seguinte, antes do segundo e último descanso, é o mais esperado até o momento. Duas escaladas de categoria 1 nos últimos 40km, atingindo Madonna di Campiglio. Aguardemos.