Mais de 2.300 km rodados em 2 semanas e outros 1.000 km por
vir nas etapas mais duras do Tour de France 2013. Hora de gastar umas linhas
com o que aconteceu, o que não saiu como o esperado e o que os Alpes próximos
da divisa com a Itália reservam a partir deste domingo.
|
Classificação geral neste sábado, após 2.325,5 km e 14 etapas; Maior e completa aqui |
Sem surpresa
- A camiseta verde de Peter Sagan. O eslovaco da Cannondale
só ganhou uma etapa, mas ficou no top 5 por 8 vezes. A regularidade é explicada
pela tão anunciada dura rota para comemorar a 100ª edição do Tour. Enquanto
sprinters “puros”, como Mark Cavendish e André Greipel, 2º e 3º na categoria,
respectivamente, só conseguem tirar algo das etapas verdadeiramente planas,
Sagan aproveitou aquelas com pequenas montanhas. Não as etapas que decidem o
montanhista ou o campeão geral. Porém, suficientes para alguns sprinters
quebrarem.
|
Peter Sagan e a rotina com as podium girls |
Mais precisamente as etapas
2, 3 e 7, cada uma com 4 montanhas, sendo que nenhuma era hors concours ou
sequer de categoria 1. Vencendo uma
delas e ficando em 2º nas outras 2, Sagan somou 95 nas chegadas, enquanto o
britânico e o alemão ficaram restritos aos poucos pontos em sprints
intermediários (com 16 e 9 pontos, respectivamente). Pra completar, Sagan ainda
fez 36 nas intermediárias. A vantagem atual, 357 pontos contra 273 e 217,
matematicamente não pode ser revertida. Sagan quebrar nos Alpes é pouco
provável. O bicampeonato na categoria só escapa com algum acidente seguido de
abandono. Um título esperado desde o anúncio de que o Tour-100 iria
“privilegiar” montanhistas a sprinters. Já a camiseta amarela...
- A camiseta branca com bolinhas indefinida. Se as maiores
montanhas ainda estão por vir, o título pode sobrar para o campeão geral ou
então seguir nas mãos do francês Pierre Rolland. O atual líder, da Europcar,
precisaria de alguma fuga-suicida em um (ou mais) dia(s) com muitas escaladas
para ir coletando pontos antes do “pelotão”. E, normalmente, no final seria
alcançado pelos candidatos ao título e nem ganharia a etapa. Entre aqueles que
estão passeando pela França, uma aposta de zebra seria Ryder Hesjedal, campeão
do Giro D’Italia em 2012. Sem chances na classificação geral, a Garmin poderia
usar as montanhas como prêmio de consolação, se não para o canadense, até para
o irlandês Daniel Martin. A ver.
- A Astana sem um propósito depois que Vincenzo Nibali, campeão
do Giro, decidiu não ir à França para se preparar para a Vuelta a España. Três
integrantes já desistiram, entre eles o líder da equipe, Janez Brajkovic, 9º em
2012. O dinamarquês Jakob Fuglsang, em 6º no geral, faz milagre e destoa dos
demais.
- A cobertura restrita a: Cachorro-invade-estrada-em-~prova-de-ciclismo~,
Ciclista-morre-em-acidente-incrível,
As-musas-do-verão-europeu-em-~prova-de-ciclismo~, etc (Atenção: não houve morte
no Tour. Mas o cachorro “invadiu” e ficou famoso no país da fofoca sobre novos
técnicos. Invadiu mas não morreu. Ficaria ainda mais famoso. Uma pena).
Fora do cronograma
|
Froome vence a 8ª etapa, a primeira com boas montanhas |
- Os planos da Sky com o Chris Froome. Tudo ia bem até a 8ª etapa: Froome detinha a camiseta
amarela e o vice-líder era Richie Porte, assim como, há um ano, o
queniano-britânico havia escoltado Bradley Wiggins ao inédito título para os
britânicos (de tantos jejuns e tabus os feitos históricos por vezes se
banalizam no Reino Unido...). Mesmo que o team time trial da 4ª etapa não trouxe a primeira vitória
no Tour à equipe, deu alguns segundos de vantagem para os principais
concorrentes.
Então veio a 9ª etapa.
Um dia antes do primeiro descanso de 2013, era de se esperar que todos
deixassem a vida nas cinco escaladas ao longo de 165 km porque teriam um dia de
recuperação e pouco – ou nada – mudasse na classificação geral. Logo no início,
Porte e todos os Skys deixaram Froome sozinho no primeiro grupo ao lado de seus
concorrentes. O espanhol Alejandro Valverde, por mais de 50km, teve a companhia
de 4(!) Movistars. O britânico se defendeu e defendeu a camiseta amarela
enquanto Porte tomou 18(!!) minutos. O sinal amarelo foi aceso na Sky e mudou
para laranja quando o bielorrusso Vasili Kiryienka não completou a etapa dentro
do limite de tempo, sendo eliminado do Tour. E o sinal ficou vermelho 4 dias
depois, quando o norueguês Edvald Boasson Hagen não escapou de uma queda nos
quilômetros finais da 12ª etapa e,
depois de cruzar a linha de chegada, precisou abandonar o Tour com o ombro
direito lesionado. Geraint Thomas, ainda na disputa, tem uma fratura no
quadril. Para o champanhe do próximo dia 21, em Paris, vai ter taça sobrando...
com um olhar otimista para a Sky.
|
Em etapa plana, Saxo-Tinkoff recupera tempo para Contador |
- Os ataques na 13ª
etapa, ontem. Em 173 km planos, Valverde, então vice-líder, teve um pneu
furado no quilômetro 83 e perdeu cerca de 40s. Alguns Movistars ficaram para
trás na tentativa de recuperar o número 1 da equipe enquanto o pelotão apertou
as pedaladas, liderado principalmente pela Belkin. A ex-Rabobank, com
integrantes em 3º e 6º no geral, ambos a menos de 1min do espanhol, viu a
brecha para recuperar terreno contra Valverde. Inesperadamente, a Movistar não
conseguiu levá-lo de volta ao pelotão e deixou a disputa pelo título (talvez
ainda sonhe com algo vindo do colombiano Nairo Quintana Rojas, 8º no geral,
único que não ficou para ajudar Valverde).
Mais inesperadamente veio o ataque da Saxo-Tinkoff, cerca de
25 km antes da chegada. Contador e mais 5(!!!) atletas da equipe dinamarquesa
fizeram um “2º TTT” para ganhar tempo sobre quem não acompanhasse. E esse
alguém foi justamente Froome. Ao que parece a Sky acusou o golpe de ter sofrido
com 2 abandonos. E Contador sabia que a diferença de 3min54s era grande para
ser tirada somente nas montanhas. A Saxo-Tinkoff tratou de ganhar 1min09s sobre
o britânico e, se não virou favorita, ao menos acabou com o favoritismo da Sky.
Roman Kreuziger, Michael Rogers e Nicolas Roche nas montanhas impõem mais
respeito do que a desfalcada equipe britânica. E Valverde, 9min54s depois,
deixou a Movistar chateada...
|
Pneu furado de Valverde e quase 10 minutos na 13ª etapa vão ser lição |
Depois da curva
Dizer que o Tour de France começa amanhã é exagero. Começa,
sim, a ser decidido. Feriado da Queda da Bastilha, em um domingo, na 100ª
edição da prova. Resultado: o dia mais longo do percurso em uma das montanhas
mais clássicas da Europa. Os 242,5 km a serem percorridos têm o aperitivo de
quatro montanhas (categorias 4-4-4-3) em 221,7 km. Quando a maioria das etapas
deveria acabar nessa distância, a 15ª
etapa trará os ciclistas ao pé do Mont Ventoux e reservará 20,8 km de
subida a 7,5%. De 314m de altitude passarão a 1912m em menos de uma hora. Para
os otimistas (ou temerosos) fica o consolo de que o dia seguinte será de
descanso. Mesmo assim, haja EPO!
|
Mont Ventoux: 20,8 km de subida a 7,5% |
Na reta
- A histórica edição 100 do Tour foi “feita” para
montanhistas, mas até agora está sendo decidida pelo ótimo TT de Froome na 11ª etapa. O líder da Sky chegou em 2º
e colocou muito tempo sobre todo mundo (2min em Valverde e 2min03 em Contador,
por exemplo, principais rivais até aquele momento). A vitória na 8ª etapa, a primeira com montanhas
significativas, também tem lá o seu peso.
|
Michal Kwiatkowski: cara certo na equipe errada? Ainda é cedo |
- No TT, quem perdeu menos tempo dentro do top 10 foi o
polonês Michal Kwiatkowski, que reassumiu a camiseta branca depois de um grande
dia. O atleta da Omega Pharma-Quick Step foi o 4º este ano na Amstel Gold e na
Tirreno-Adriatico. A equipe confirma abertamente que a única preocupação é
posicionar o sprint de Cavendish para ganhar etapas (
às vezes ele exagera).
O potencial do polonês de 23 anos, daqui algumas temporadas, poderá encontrar
uma casa que trabalhe para o título geral de um Grand Tour e tenha companheiros
capazes de conduzi-lo a isso.
Duas semanas em algumas imagens:
|
Ônibus da Orica-Greenedge dá as boas vindas ao Tour-100 |
|
Queda na 1ª etapa |
|
Sagan (verde) perde a 2ª etapa para Bakelants |
|
Mar Mediterrâneo meramente ilustrativo |
|
Sagan (acima) perde a 3ª etapa para Gerrans |
|
Queda na 5ª etapa |
|
Sagan (verde à esquerda) perde a 5ª etapa para Cavendish |
|
Brajkovic e o Tour que a Astana quer esquecer |
|
Sagan (verde) perde a 6ª etapa para Greipel |
|
Sagan (verde) vence a 7ª etapa! |
|
Froome assume a camiseta amarela
ao vencer a 8º etapa e... |
|
... no dia seguinte é
"abandonado" pela Sky |
|
Froome (amarelo) na 9ª etapa: Cadê a Sky? |
|
O time trial da 10ª etapa para se recuperar |
|
Queda na 11ª etapa |
|
Sagan (verde) perde a 11ª etapa para Kittel |
|
Valverde (esquerda) e Movistar na 13ª etapa:
Ninguém pela frente. No pior sentido possível |