13 de julho de 2013

O Tour de France começa a ser decidido: Retrospectiva em curso

Mais de 2.300 km rodados em 2 semanas e outros 1.000 km por vir nas etapas mais duras do Tour de France 2013. Hora de gastar umas linhas com o que aconteceu, o que não saiu como o esperado e o que os Alpes próximos da divisa com a Itália reservam a partir deste domingo.

Classificação geral neste sábado, após 2.325,5 km e 14 etapas; Maior e completa aqui
Sem surpresa
- A camiseta verde de Peter Sagan. O eslovaco da Cannondale só ganhou uma etapa, mas ficou no top 5 por 8 vezes. A regularidade é explicada pela tão anunciada dura rota para comemorar a 100ª edição do Tour. Enquanto sprinters “puros”, como Mark Cavendish e André Greipel, 2º e 3º na categoria, respectivamente, só conseguem tirar algo das etapas verdadeiramente planas, Sagan aproveitou aquelas com pequenas montanhas. Não as etapas que decidem o montanhista ou o campeão geral. Porém, suficientes para alguns sprinters quebrarem.

Peter Sagan e a rotina com as podium girls
Mais precisamente as etapas 2, 3 e 7, cada uma com 4 montanhas, sendo que nenhuma era hors concours ou sequer de  categoria 1. Vencendo uma delas e ficando em 2º nas outras 2, Sagan somou 95 nas chegadas, enquanto o britânico e o alemão ficaram restritos aos poucos pontos em sprints intermediários (com 16 e 9 pontos, respectivamente). Pra completar, Sagan ainda fez 36 nas intermediárias. A vantagem atual, 357 pontos contra 273 e 217, matematicamente não pode ser revertida. Sagan quebrar nos Alpes é pouco provável. O bicampeonato na categoria só escapa com algum acidente seguido de abandono. Um título esperado desde o anúncio de que o Tour-100 iria “privilegiar” montanhistas a sprinters. Já a camiseta amarela...

- A camiseta branca com bolinhas indefinida. Se as maiores montanhas ainda estão por vir, o título pode sobrar para o campeão geral ou então seguir nas mãos do francês Pierre Rolland. O atual líder, da Europcar, precisaria de alguma fuga-suicida em um (ou mais) dia(s) com muitas escaladas para ir coletando pontos antes do “pelotão”. E, normalmente, no final seria alcançado pelos candidatos ao título e nem ganharia a etapa. Entre aqueles que estão passeando pela França, uma aposta de zebra seria Ryder Hesjedal, campeão do Giro D’Italia em 2012. Sem chances na classificação geral, a Garmin poderia usar as montanhas como prêmio de consolação, se não para o canadense, até para o irlandês Daniel Martin. A ver.


- A Astana sem um propósito depois que Vincenzo Nibali, campeão do Giro, decidiu não ir à França para se preparar para a Vuelta a España. Três integrantes já desistiram, entre eles o líder da equipe, Janez Brajkovic, 9º em 2012. O dinamarquês Jakob Fuglsang, em 6º no geral, faz milagre e destoa dos demais.

- A cobertura restrita a: Cachorro-invade-estrada-em-~prova-de-ciclismo~, Ciclista-morre-em-acidente-incrível, As-musas-do-verão-europeu-em-~prova-de-ciclismo~, etc (Atenção: não houve morte no Tour. Mas o cachorro “invadiu” e ficou famoso no país da fofoca sobre novos técnicos. Invadiu mas não morreu. Ficaria ainda mais famoso. Uma pena).

Fora do cronograma
Froome vence a 8ª etapa, a primeira com boas montanhas
- Os planos da Sky com o Chris Froome. Tudo ia bem até a 8ª etapa: Froome detinha a camiseta amarela e o vice-líder era Richie Porte, assim como, há um ano, o queniano-britânico havia escoltado Bradley Wiggins ao inédito título para os britânicos (de tantos jejuns e tabus os feitos históricos por vezes se banalizam no Reino Unido...). Mesmo que o team time trial da 4ª etapa não trouxe a primeira vitória no Tour à equipe, deu alguns segundos de vantagem para os principais concorrentes.

Então veio a 9ª etapa. Um dia antes do primeiro descanso de 2013, era de se esperar que todos deixassem a vida nas cinco escaladas ao longo de 165 km porque teriam um dia de recuperação e pouco – ou nada – mudasse na classificação geral. Logo no início, Porte e todos os Skys deixaram Froome sozinho no primeiro grupo ao lado de seus concorrentes. O espanhol Alejandro Valverde, por mais de 50km, teve a companhia de 4(!) Movistars. O britânico se defendeu e defendeu a camiseta amarela enquanto Porte tomou 18(!!) minutos. O sinal amarelo foi aceso na Sky e mudou para laranja quando o bielorrusso Vasili Kiryienka não completou a etapa dentro do limite de tempo, sendo eliminado do Tour. E o sinal ficou vermelho 4 dias depois, quando o norueguês Edvald Boasson Hagen não escapou de uma queda nos quilômetros finais da 12ª etapa e, depois de cruzar a linha de chegada, precisou abandonar o Tour com o ombro direito lesionado. Geraint Thomas, ainda na disputa, tem uma fratura no quadril. Para o champanhe do próximo dia 21, em Paris, vai ter taça sobrando... com um olhar otimista para a Sky.

Em etapa plana, Saxo-Tinkoff recupera tempo para Contador
- Os ataques na 13ª etapa, ontem. Em 173 km planos, Valverde, então vice-líder, teve um pneu furado no quilômetro 83 e perdeu cerca de 40s. Alguns Movistars ficaram para trás na tentativa de recuperar o número 1 da equipe enquanto o pelotão apertou as pedaladas, liderado principalmente pela Belkin. A ex-Rabobank, com integrantes em 3º e 6º no geral, ambos a menos de 1min do espanhol, viu a brecha para recuperar terreno contra Valverde. Inesperadamente, a Movistar não conseguiu levá-lo de volta ao pelotão e deixou a disputa pelo título (talvez ainda sonhe com algo vindo do colombiano Nairo Quintana Rojas, 8º no geral, único que não ficou para ajudar Valverde).

Mais inesperadamente veio o ataque da Saxo-Tinkoff, cerca de 25 km antes da chegada. Contador e mais 5(!!!) atletas da equipe dinamarquesa fizeram um “2º TTT” para ganhar tempo sobre quem não acompanhasse. E esse alguém foi justamente Froome. Ao que parece a Sky acusou o golpe de ter sofrido com 2 abandonos. E Contador sabia que a diferença de 3min54s era grande para ser tirada somente nas montanhas. A Saxo-Tinkoff tratou de ganhar 1min09s sobre o britânico e, se não virou favorita, ao menos acabou com o favoritismo da Sky. Roman Kreuziger, Michael Rogers e Nicolas Roche nas montanhas impõem mais respeito do que a desfalcada equipe britânica. E Valverde, 9min54s depois, deixou a Movistar chateada...

Pneu furado de Valverde e quase 10 minutos na 13ª etapa vão ser lição

Depois da curva
Dizer que o Tour de France começa amanhã é exagero. Começa, sim, a ser decidido. Feriado da Queda da Bastilha, em um domingo, na 100ª edição da prova. Resultado: o dia mais longo do percurso em uma das montanhas mais clássicas da Europa. Os 242,5 km a serem percorridos têm o aperitivo de quatro montanhas (categorias 4-4-4-3) em 221,7 km. Quando a maioria das etapas deveria acabar nessa distância, a 15ª etapa trará os ciclistas ao pé do Mont Ventoux e reservará 20,8 km de subida a 7,5%. De 314m de altitude passarão a 1912m em menos de uma hora. Para os otimistas (ou temerosos) fica o consolo de que o dia seguinte será de descanso. Mesmo assim, haja EPO!

Mont Ventoux: 20,8 km de subida a 7,5%

Na reta
- A histórica edição 100 do Tour foi “feita” para montanhistas, mas até agora está sendo decidida pelo ótimo TT de Froome na 11ª etapa. O líder da Sky chegou em 2º e colocou muito tempo sobre todo mundo (2min em Valverde e 2min03 em Contador, por exemplo, principais rivais até aquele momento). A vitória na 8ª etapa, a primeira com montanhas significativas, também tem lá o seu peso.

Michal Kwiatkowski: cara certo na equipe errada? Ainda é cedo
- No TT, quem perdeu menos tempo dentro do top 10 foi o polonês Michal Kwiatkowski, que reassumiu a camiseta branca depois de um grande dia. O atleta da Omega Pharma-Quick Step foi o 4º este ano na Amstel Gold e na Tirreno-Adriatico. A equipe confirma abertamente que a única preocupação é posicionar o sprint de Cavendish para ganhar etapas (às vezes ele exagera). O potencial do polonês de 23 anos, daqui algumas temporadas, poderá encontrar uma casa que trabalhe para o título geral de um Grand Tour e tenha companheiros capazes de conduzi-lo a isso.

Duas semanas em algumas imagens:

Ônibus da Orica-Greenedge dá as boas vindas ao Tour-100
Queda na 1ª etapa
Sagan (verde) perde a 2ª etapa para Bakelants
Mar Mediterrâneo meramente ilustrativo
Sagan (acima) perde a 3ª etapa para Gerrans
Queda na 5ª etapa
Sagan (verde à esquerda) perde a 5ª etapa para Cavendish
Brajkovic e o Tour que a Astana quer esquecer
Sagan (verde) perde a 6ª etapa para Greipel
Sagan (verde) vence a 7ª etapa!
Froome assume a camiseta amarela
ao vencer a 8º etapa e...
... no dia seguinte é
"abandonado" pela Sky
Froome (amarelo) na 9ª etapa: Cadê a Sky?
O time trial da 10ª etapa para se recuperar
Queda na 11ª etapa
Sagan (verde) perde a 11ª etapa para Kittel
Valverde (esquerda) e Movistar na 13ª etapa:
Ninguém pela frente. No pior sentido possível