15 de julho de 2013

Durante e depois do Mont Ventoux: Froome quase lá


“Essa montanha é tão histórica e significa tanto para essa corrida, especialmente na 100ª edição”.

A imagem e as aspas acima dão uma ideia do que representam os 20,8km do Mont Ventoux a 7,5%. Não escalarei o assunto. A foto é do colombiano Nairo Quintana Rojas, 6º no geral e agora líder entre os “jovens”, que chegou aos 1912m de altitude 29s depois do britânico Chris Froome, líder no geral a autor da frase.


Rápido e sempre
A etapa mais longa do Tour de France-100 ficou pra trás em um ritmo intenso. O francês Sylvain Chavanel, 1º a alcançar a base do Ventoux, tinha média de 46,7 km/h depois de 4h45min pedalados, com vantagem de 1min45s do pelotão – nessa altura ainda existia um pelotão. Antes, o francês integrou a fuga acompanhado de 8 competidores.

Entre os 9 da fuga, quem tinha o interesse mais claro era Peter Sagan: adicionar pontos à sua liderança entre os sprinters. Próximo da intermediária que premiava o 1º com 20 pontos, o eslovaco se posicionou à frente do grupo e se cansou de olhar pra trás. Nem precisou neutralizar possíveis ataques (como o de Chavanel, da Omega Pharma-Quick Step, que poderia tentar ajudar o companheiro Mark Cavendish “tomando” alguns pontos do líder da Cannondale) e nem houve sprint.


Enquanto isso, a Movistar ditava o ritmo do pelotão e evitava descansar para a escalada. Quando ela chegou, o 1º a ficar pra trás foi Sagan. A meta já tinha sido atingida, claro. Tinha? Depois de concluir os 242 km do dia mais de 28min atrás de Froome, o eslovaco declarou: “Fui para a fuga para conseguir alguns pontos, mas também tinha em mente chegar no top 10 no Mont Ventoux. Teria sido algo especial”. Teria. Mas é um daqueles sonhos que seria engraçado se não fosse triste... Ainda consigo só me divertir com a afirmação, assim como com a empinada e o tchau que deu ao pelotão quando foi engolido. “Esse aceno é por diversão, para as pessoas. Dá uma foto legal, não?”. Dá, sim.


Agora Sagan só pensa em sobreviver como puder à semana mais difícil do Tour. Os 99 pontos de vantagem sobre Cavendish, vice-líder na “disputa” pela camiseta verde, dispensam comentários.

No alto da montanha
No pé do Ventoux foi a vez da Sky tomar a dianteira com todos os 7 da equipe (2 já abandonaram), seguida pela Radioshack(?). Depois de dropar o camiseta verde, imediatamente em seguida foi o francês Pierre Rolland, então líder entre os montanhistas, que não aguentou. E seguiram, em resumo, a:

- 18 km do fim: 3 Skys já tinham ficado, Froome tinha a companhia de outros 3.
- 15 km: Depois de concluir 1/4 da subida, a vantagem de Chavanel para o pelotão era de 1min25s.
- 14 km: Só 3 da fuga original estavam na frente: Chavanel (a 56s), Markel Irizar (Radioshack) e Christophe Riblon (AG2R La Mondiale). Falando em Radiochack, o pelotão era reduzido em um ritmo mais intenso que a média de velocidade. Andy Schleck foi deixado pra trás de maneira violenta, assim como Andreas Kloden e posteriormente Irizar. O luxemburguês, cercado de boatos sobre sua saída da equipe após o irmão mais velho, Frank, ser chutado prestes a completar sua suspensão por doping, não se preocupa.


- 13 km: O espanhol Mikel Nieve supera Chavanel e assume a dianteira, com 54s de vantagem. No pelotão, o primeiro ataque é de Quintana, então 8º no geral a 5min18s. Sem resposta. Entre os concorrentes da Sky, Nicolas Roche, da Saxo-Tinkoff, fica pra trás.
- 12 km: Quintana também passa Chavanel. É a hora da alfinetada do dia no Twitter. Momentos antes, o ao vivo do site do Tour listou os melhores Movistars na classificação geral – Valverde (17º) e Rui Alberto Costa (18º). A equipe respondeu em tuíte posteriormente deletado que Quintana podia não ser favorito ou muito grande (1,67m de altura e 59kg), mas era o 8º na disputa. Um lapso do Tour ao virar as costas para os concorrentes à camiseta branca. No reduzido pelotão, Froome tem Richie Porte e Peter Kennaugh ao seu lado. Alberto Contador tem 3 companheiros: Roman Kreuziger, Michael Rogers e Jesus Hernandez.
- 11 km: Só 23 integram o pelotão, 39s atrás do líder. Cadel Evans, campeão há dois anos, mostra que a forma não é mais a mesma.
- 10 km: Quintana e Nieve dividem a liderança, a 40s. Enquanto Contador marca a roda de Froome, o grupo segue forte, agora sem Evans.


- 9 km: Depois do trabalho cumprido com a Sky, Kennaugh quase para na estrada. A Belkin, com os top 5 Bauke Mollema e Laurens Ten Dam, fica sem Robert Gesink.
- 8 km: Quintana lidera por apenas 15s. Com a violência de uma tarifa de ônibus, o “pelotão” é reduzido a 4(!!) ciclistas: Froome e Porte X Contador e Kreuziger. O tcheco logo deixa o espanhol em maus lençóis sozinho com os Skys.
- 7 km: O ataque mais absurdo desta edição até o momento. Contador responde por poucas dezenas de metros até que em uma curva Froome não vê nem sinais do espanhol ao olhar pra trás. Em 20s(!!!) o britânico alcança Quintana e mantém a aceleração, que o colombiano responde.


- 6 km: Froome e Quintana têm 14s de Contador, que começa a trabalhar junto com o compatriota Nieve, da Euskaltel - Euskadi.
- 5 km: 24s. Grupo com 5 top 10 (Mollema, Kreuziger, Ten Dam, Jakob Fuglsang e Joaquin Rodriguez) mais Valverde e Rogers já leva 1min11s.
- 3,5 km: Contador a 50s. Grupo de Mollema a 1min30s.
- 2 km: Contador a 52s. Grupo de Mollema, agora sem Valverde, a 1min40s.
- 1,3 km: Froome assume a dianteira sozinho, no que não considerou um ataque a Quintana. “Esperava ganhar tempo, mas não vencer a etapa. No final não acho que ataquei, só (Quintana) que não conseguiu acompanhar”. O colombiano de apenas 23 anos concorda. “Pensei que ele (Froome) estaria menos forte do que estava, mas ele fez um esforço violento e eu simplesmente não pude acompanhar”. O Mont Ventoux estava vencido depois de 5h48min45s de etapa, a 41,7 km/h.

Depois da curva
Antes do dia de descanso, Froome ampliou a vantagem sobre tudo mundo, é claro. O top 5 segue na mesma ordem: Mollema, Contador, Kreuziger e Ten Dam. As diferenças (2min28s, 2min45s, 2min48s e 3min01s) são mais expressivas (4min14s, 4min25s, 4min28s e 4min54s). Suficientemente expressivas para evidenciar o favoritismo do britânico. Fosse em outras edições, com a rota “mais leve” na última semana, o título estaria garantido. Não está, porque em uma única montanha pode-se tirar muito tempo. E os perfis das próximas etapas são assustadores:

- Terça-feira: Montanhas 3-2-2. O dia mais tranquilo, apesar da organização dar o coeficiente para a etapa como 4. Em uma escala de 1 a 6, em que 6 são apenas os time trials, o 5 indica os dias mais “difíceis”, o 4 um pouco menos difíceis e assim por diante. Os 242 km com o Ventoux também foram classificados como 4. Torço para que esteja enganado, mas os 168 km desta terça devem ser mornos e o top 5 vai ficar se estudando e nenhum ataque vai ser bem sucedido.


 - Quarta-feira: TT de 32 km, com duas montanhas categoria 2. Se em TTs planos a superioridade de Froome foi enorme, vai ser interessante ver os 13,3 km de subidas. E com subidas vêm duas descidas, que o saudoso Michael Rasmussen já ensinou que podem ser muito perigosas em TTs, onde o poeta diria que os ciclistas literalmente colocam a faca entre os dentes e / ou tiram leite de pedra.


- Quinta-feira: 2-3-2-HC-2-HC. Talvez a etapa que mais mereça ser vista – a 1ª que a organização dá coeficiente 5. Os hors concours são o histórico Alpe-d’Huez, que todos escalarão uma vez para descer e subir de novo. Nos últimos 64 km da etapa, 29,1, oficialmente, serão de montanhas categorizadas. Haja EPO!


- Sexta-feira: HC-HC-2-1-1 (coeficiente 4)(?). A etapa merece atenção porque atinge os 2000m de altitude no Col de La Madeleine, a 2ª escalada. O fato do dia começar com 2 HCs diminui as chances de ataques. Concorrentes que ficarem pra trás terão quase 80 km pra trabalharem em equipe ou até mesmo com outros concorrentes em busca da recuperação nas fáceis montanhas 2-1-1. E a etapa termina com 13 km de descida...


- Sábado: 2-3-3-3-1-HC. O último dia com montanhas decentes podia trazer mais sofrimento se não tivesse apenas 125 km. Difícil imaginar que aquele que liderar até sexta perca a vantagem no sábado. O estranho coeficiente é 5, talvez só pela chegada ser em HC.


Fora da curva
Emblemático
No dia que os poetas imortalizaram a metamorfose do atletismo à ciclismo, duas ponderações.

- O ciclismo ensina que o maior fica por último.

- Interessante reparar que cada matéria gasta, no mínimo, 1 parágrafo / 20s de reportagens que têm 4 parágrafos / 30s para explicar quem é Tyson Gay e Asafa Powell, por exemplo. O autorreconhecimento do que é um país antiolímpico de verdade. Daqueles que precisam de legenda pra foto abaixo.