4 de março de 2013

Boa noite, meus amigos. Boa noite, vizinhança

Teve fim no último sábado o torneio de Acapulco como tradicional ponto alto que fechava a gira latino-americana de saibro. Depois de muitos anos, o ATP 500 se despede sem dizer adeus jamais e a partir de 2014 troca a terra batida pela quadra dura, assim como era antes deste que digita ter nascido.

O torneio do México se desintegra do saibro da América do Sul e passa a encerrar a sequência dos ATPs 250 de Memphis e Delray Beach. Na mesma semana, fará “concorrência” ao Brasil Open, que fecha o saibro de Viña del Mar-Buenos Aires-Rio de Janeiro. E o que restou da última gira Chile-Brasil-Argentina-México? Para os brasileiros, pouca coisa.


A gira-2013 foi uma das menos aproveitadas pelos brasileiros. Ou nem isso, já que alguns nem tentaram aproveitar.  Thomaz Bellucci, campeão em Santiago em 2010, nem foi a Viña del Mar. O que é compreensível com o torneio grudado na Copa Davis e compensando ao jogar na Argentina. Porém, uma vitória e três derrotas – para 88º, 166º e 73º do mundo –, além de um saldo muito aquém do esperado/desejado, mostraram que o paulista está em um mundo à parte.

E outro mundo à parte é o de tenistas entre os 100 e 200 do mundo. Nessa faixa, atletas e técnicos por vezes optam por torneios menores, geralmente justificados pelos fatores distância, dinheiro e piso, e, nos últimos anos, se apoiaram no inchado calendário de Challengers no Brasil – e também em países vizinhos. Não imagino que seja das decisões mais fáceis para o atleta tomar. Muitos dizem que jogando Challengers conseguem apenas se bancar – com pouco lucro – e se estivesse nessa situação realmente pensaria muito antes de montar o calendário.

Mas não sou tenista. E nem monto calendários (se alguma proposta compensar, posso estudar...). Explicações à parte, o quadro muda ao pensar nos 4 torneios do circuito mais próximos do Brasil e no piso preferido da maioria dos brasileiros. Contas rápidas: financeiramente, passar uma rodada do quali de Acapulco praticamente equivaleria às quartas do Challenger de Salinas. Furar o quali renderia 64% a mais do que o título no Equador. A chave do quali não teve nada de extraordinário em relação à maioria dos Challengers que os brasileiros disputam durante o ano. Deixo de lado a questão de ter a oportunidade, eventualmente, de medir forças com nomes como Rafael Nadal, David Ferrer, Nicolas Almagro ou Stanislas Wawrinka, mas lembro que o próximo torneio “perto”, “barato” e no “melhor” piso para os brasileiros será daqui 11 meses (aspas = relatividade).

Pois o país atualmente tem Rogério Dutra Silva, João Souza e Thiago Alves entre 100 e 150 da ATP. Alves não está entre os maiores fãs de saibro. Assim como Bellucci, estava na Copa Davis nos EUA e “pulou” Viña del Mar. Jogou o qualifying em São Paulo, teve uma semana sem torneios e... voltou aos EUA para o ATP 250 de Delray Beach! Se as escalas/conexões podem fazer Acapulco ficar mais longe do que os EUA (para os brasileiros) e o piso é favorável, ele fez a escolha. Não conseguiu passar da 1ª rodada, mas deve seguir no país e tentar qualifyings maiores, dos Masters 1000 de Indian Wells e Miami.

Com Rogerinho e Feijão, difícil entender a decisão de não tentar Acapulco, onde seriam cabeças de chave no quali, e jogar em Salinas – aquelas 3 justificativas praticamente se equivalem ao comparar os dois torneios. Acapulco é mais longe, claro. Mas entrar em um quali de ATP 500 como cabeça e tendo muito mais dinheiro a ganhar do que no Equador estaria no outro prato da balança (balanças de pratos estão em desuso, exceto por provas de física no vestibular, mas alguém deve saber como são...). Os outros ATPs 500 no saibro no circuito são Barcelona e Hamburgo. Mais perto? Mais fácil de bancar? Mais tranquilo de furar o quali?

 Na gira, Rogerinho caiu na estreia no Chile e na 2ª rodada do quali em SP e BsAs. Talvez os resultados tenham colaborado para não ir ao México... ou não. Feijão parou na 1ª rodada do quali e depois teve uma boa semana em São Paulo, furando o quali e avançando uma rodada para duelar com Nadal. Na semana seguinte, estranhamente sem Challengers no mundo todo, não disputou BsAs e encerrou com semi em Salinas.

Em um patamar completamente diferente, o top 20 de duplas Bruno Soares saiu do título em SP para as quadras duras do ATP 500 de Memphis e imediatamente retornou ao saibro em Acapulco. Imagino que a escolha passou por cima de premiação e piso e se deu mais por buscar um torneio maior e alguns pontos. Como tem 4 títulos e 1 vice de ATP 250 entre seus resultados, dificilmente somaria algo se jogasse BsAs. Independente do ranking, todos convivem com escolhas. Acertadas? Equivocadas? Complicadas.

Na reta
Diz o clichê que a sorte aparece para quem trabalha. As últimas semanas tiveram alguns agraciados e o maior deles talvez tenha sido o argentino Martin Alund – que fez a gira completa. Aos 27 anos, sem ao menos um título de Challenger no currículo, jogou o primeiro ATP da carreira em Viña del Mar. Caiu na estreia. Em SP, perdeu no tie-break decisivo do qualifying, entrou na chave como lucky loser, venceu 3 rodadas – uma delas em um jogo que não queria terminar contra o francês Jeremy Chardy, top 30 – e parou na semi diante de Nadal. Ganhou a vaga na chave de BsAs e até teve sorte ao estrear contra um qualifier, mas não passou da estreia. Fechou a gira em Acapulco, onde ganhou duas partidas normais no quali e pegou um convidado local 429º do mundo na chave principal! Encontrou Nadal novamente pelo caminho e saiu com um “pneu” na 2ª rodada. Saiu, mas, pra sair, primeiro tinha que estar lá, diria o poeta. E aproveitar as chances que apareceram pra figurar no top 100 pela 1ª vez e ganhar mais de 20 posições em 1 mês.

Menção honrosa: Daniel Brands. O alemão joga muitos Challengers e vez ou outra passa um quali de ATP. Nesta semana aproveitou as chances. Duas vitórias no quali do ATP 500 de Dubai, estreia na chave principal contra outro qualifier(!) e segunda rodada contra o russo Mikhail Youzhny. Daquelas pra entrar sem responsabilidade, nada a perder. Duplo 6/4. Parou nas quartas diante do argentino Juan Martin Del Potro. Além de Dubai, Brands disputou Doha, Australian Open e Roterdã em 2013. Em todos os torneios furou o quali. Foi semifinalista no Qatar e fez 2ª rodada na Austrália. Em 2 meses, ganhou 79 posições e está perto dos 70 do mundo.

Menção honrosa que não deveria ser feita por motivo de relaxo: Ernests Gulbis. O cara que não precisa pensar em um dos fatore$ para montar seu calendário é 0% confiável. O letão pode perder para o 500º do mundo e ficar um ano sem vencer mais de 2 jogos seguidos, como o fez entre agosto de 2011 e de 2012, ou incomodar muita gente no circuito. E nas últimas semanas incomodou. Entre as oitavas de Roterdã – onde precisou passar o quali –, Marselha e o título em Delray Beach (mais 3 jogos no quali), ganhou de Tommy Haas (18), Sam Querrey (21), Robin Haase (50), tirou set de Tomas Berdych (6) e endureceu contra Del Potro (7). Será que agora vai?


Haveremos de nos reunirmos muitas vezes mais
Viña del Mar, Buenos Aires, Rio de Janeiro (500) e São Paulo. O que esperar da nova gira no saibro sul-americano? A princípio, o torneio carioca deve ser o mais favorecido, em oposição ao paulista. Não dá pra imaginar muitas mudanças nas listas de inscritos no Chile e na Argentina.

Também no continente americano, a partir da semana de BsAs, teremos Memphis, Delray Beach e Acapulco (500) em quadra dura. Ainda que concorra com o rico ATP 500 de Dubai, o torneio mexicano agora pode atrair quem quiser antecipar a viagem para os Masters de Indian Wells e Miami sem sofrer com a mudança de piso.

Depois de uma exceção como Nadal, São Paulo deve voltar a receber somente quem faz a vida na terra batida, assim como sempre foi. Por sorte – e dinheiro – dá pra pegar carona e arrastar alguém que tiver passado pelo Rio na semana anterior. Se o top 10 não tiver mudanças “drásticas” em um ano, chuto que são grandes as chances de David Ferrer visitar o Brasil em 2014.

Fotos: Gaspar Nobrega/inovafoto e Google