O torneio do México se desintegra do saibro da América do
Sul e passa a encerrar a sequência dos ATPs 250 de Memphis e Delray Beach. Na
mesma semana, fará “concorrência” ao Brasil Open, que fecha o saibro de Viña
del Mar-Buenos Aires-Rio de Janeiro. E o que restou da última gira
Chile-Brasil-Argentina-México? Para os brasileiros, pouca coisa.
A gira-2013 foi uma das menos aproveitadas pelos
brasileiros. Ou nem isso, já que alguns nem tentaram aproveitar. Thomaz
Bellucci, campeão em Santiago em 2010, nem foi a Viña del Mar. O que é
compreensível com o torneio grudado na Copa Davis e compensando ao jogar na
Argentina. Porém, uma vitória e três derrotas – para 88º, 166º e 73º do mundo
–, além de um saldo muito aquém do esperado/desejado, mostraram que o paulista
está em um mundo à parte.
E outro mundo à parte é o de tenistas entre os 100 e 200 do
mundo. Nessa faixa, atletas e técnicos por vezes optam por torneios menores,
geralmente justificados pelos fatores distância,
dinheiro e piso, e, nos últimos anos, se apoiaram no inchado calendário de
Challengers no Brasil – e também em países vizinhos. Não imagino que seja das
decisões mais fáceis para o atleta tomar. Muitos dizem que jogando Challengers
conseguem apenas se bancar – com
pouco lucro – e se estivesse nessa situação realmente pensaria muito antes de
montar o calendário.
Mas não sou tenista. E nem monto calendários (se alguma
proposta compensar, posso estudar...). Explicações à parte, o quadro muda ao
pensar nos 4 torneios do circuito
mais próximos do Brasil e no piso preferido da maioria dos
brasileiros. Contas rápidas: financeiramente, passar uma rodada do quali de
Acapulco praticamente equivaleria às quartas do Challenger de Salinas. Furar o quali renderia 64% a mais do
que o título no Equador. A chave do quali não teve nada de extraordinário em relação à maioria dos Challengers que os
brasileiros disputam durante o ano. Deixo de lado a questão de ter a
oportunidade, eventualmente, de medir forças com nomes como Rafael Nadal, David
Ferrer, Nicolas Almagro ou Stanislas Wawrinka, mas lembro que o próximo torneio
“perto”, “barato” e no “melhor” piso para os brasileiros será daqui 11 meses
(aspas = relatividade).
Pois o país atualmente tem Rogério Dutra Silva, João Souza e
Thiago Alves entre 100 e 150 da ATP. Alves não está entre os maiores fãs de
saibro. Assim como Bellucci, estava na Copa Davis nos EUA e “pulou” Viña del
Mar. Jogou o qualifying em São Paulo, teve uma semana sem torneios e... voltou
aos EUA para o ATP 250 de Delray Beach! Se as escalas/conexões podem fazer
Acapulco ficar mais longe do que os EUA (para os brasileiros) e o piso é
favorável, ele fez a escolha. Não conseguiu passar da 1ª rodada, mas deve
seguir no país e tentar qualifyings maiores, dos Masters 1000 de Indian Wells e
Miami.
Com Rogerinho e Feijão, difícil entender a decisão de não
tentar Acapulco, onde seriam cabeças de
chave no quali, e jogar em Salinas – aquelas 3 justificativas praticamente
se equivalem ao comparar os dois torneios. Acapulco é mais longe, claro. Mas
entrar em um quali de ATP 500 como cabeça e tendo muito mais dinheiro a ganhar
do que no Equador estaria no outro prato da balança (balanças de pratos estão
em desuso, exceto por provas de física no vestibular, mas alguém deve saber
como são...). Os outros ATPs 500 no
saibro no circuito são Barcelona e Hamburgo. Mais perto? Mais fácil de
bancar? Mais tranquilo de furar o quali?
Em um patamar completamente diferente, o top 20 de duplas
Bruno Soares saiu do título em SP para as quadras duras do ATP 500 de Memphis e
imediatamente retornou ao saibro em Acapulco. Imagino que a escolha passou por
cima de premiação e piso e se deu mais por buscar um torneio maior e alguns
pontos. Como tem 4 títulos e 1 vice de ATP 250 entre seus resultados,
dificilmente somaria algo se jogasse BsAs. Independente do ranking, todos convivem
com escolhas. Acertadas? Equivocadas? Complicadas.
Na reta
Diz o clichê que a sorte aparece para quem trabalha. As
últimas semanas tiveram alguns agraciados e o maior deles talvez tenha sido o
argentino Martin Alund – que fez a gira completa. Aos 27 anos, sem ao menos um
título de Challenger no currículo, jogou o primeiro ATP da carreira em Viña del
Mar. Caiu na estreia. Em SP, perdeu no tie-break decisivo do qualifying, entrou
na chave como lucky loser, venceu 3 rodadas – uma delas em um jogo que não
queria terminar contra o francês Jeremy Chardy, top 30 – e parou na semi diante
de Nadal. Ganhou a vaga na chave de BsAs e até teve sorte ao estrear contra um qualifier, mas não
passou da estreia. Fechou a gira em Acapulco, onde ganhou duas partidas normais no quali e pegou um convidado local 429º do mundo na chave
principal! Encontrou Nadal novamente pelo caminho e saiu com um “pneu” na 2ª
rodada. Saiu, mas, pra sair, primeiro tinha que estar lá, diria o poeta. E aproveitar as chances que apareceram
pra figurar no top 100 pela 1ª vez e ganhar mais de 20 posições em 1 mês.
Menção honrosa: Daniel Brands. O alemão joga muitos
Challengers e vez ou outra passa um quali de ATP. Nesta semana aproveitou as
chances. Duas vitórias no quali do ATP 500 de Dubai, estreia na chave principal
contra outro qualifier(!) e segunda rodada contra o russo Mikhail Youzhny.
Daquelas pra entrar sem responsabilidade, nada a perder. Duplo 6/4. Parou nas
quartas diante do argentino Juan Martin Del Potro. Além de Dubai, Brands
disputou Doha, Australian Open e Roterdã em 2013. Em todos os torneios furou o
quali. Foi semifinalista no Qatar e fez 2ª rodada na Austrália. Em 2 meses,
ganhou 79 posições e está perto dos 70 do mundo.
Menção honrosa que não deveria ser feita por motivo de
relaxo: Ernests Gulbis. O cara que não precisa pensar em um dos fatore$ para
montar seu calendário é 0% confiável. O letão pode perder para o 500º do mundo
e ficar um ano sem vencer mais de 2 jogos seguidos, como o fez entre agosto de
2011 e de 2012, ou incomodar muita gente no circuito. E nas últimas semanas
incomodou. Entre as oitavas de Roterdã – onde precisou passar o quali –,
Marselha e o título em Delray Beach (mais 3 jogos no quali), ganhou de Tommy
Haas (18), Sam Querrey (21), Robin Haase (50), tirou set de Tomas Berdych (6) e
endureceu contra Del Potro (7). Será que agora vai?
Haveremos de nos
reunirmos muitas vezes mais
Viña del Mar, Buenos Aires, Rio de Janeiro (500) e São
Paulo. O que esperar da nova gira no saibro sul-americano? A princípio, o
torneio carioca deve ser o mais favorecido, em oposição ao paulista. Não dá pra
imaginar muitas mudanças nas listas de inscritos no Chile e na Argentina.
Também no continente americano, a partir da semana de BsAs,
teremos Memphis, Delray Beach e Acapulco (500) em quadra dura. Ainda que
concorra com o rico ATP 500 de Dubai, o torneio mexicano agora pode atrair quem
quiser antecipar a viagem para os Masters de Indian Wells e Miami sem sofrer
com a mudança de piso.
Depois de uma exceção como Nadal, São Paulo deve voltar a
receber somente quem faz a vida na terra batida, assim como sempre foi. Por
sorte – e dinheiro – dá pra pegar carona e arrastar alguém que tiver passado
pelo Rio na semana anterior. Se o top 10 não tiver mudanças “drásticas” em um
ano, chuto que são grandes as chances de David Ferrer visitar o Brasil em 2014.
Fotos: Gaspar Nobrega/inovafoto e Google